Hércules: Muito mais que 12 trabalhos
Hércules foi o maior de todos os heróis gregos. Filho de Zeus e Alcmena, realizou feitos notáveis durante sua vida, incluindo os famosos 12 trabalhos, que, após sua trágica morte, asseguraram-lhe a imortalidade. Assim, subiu ao Olimpo e assumiu seu lugar entre os deuses com vida eterna.
Já o outro Hércules, o time espanhol de futebol, estreou no final de agosto pela segunda divisão espanhola, com empate por 1 a 1 com o Málaga B, após uma radiante última temporada em 2004/5, quando a equipe logrou o acesso à Segundona. Apesar do nome pomposo, a história do Hércules Club de Fútbol possui momentos muitos mais ligados ao sofrimento de seu mítico herói do que propriamente a suas conquistas.
Passado recente
As maiores glórias da história do Hércules nos remetem ao passado recente da equipe. Na temporada 1995/6, o clube conquistou o primeiro título de toda sua história: campeão da segunda divisão. Com isso, a equipe retornou à divisão de elite espanhola após muitos anos perambulando nas categorias de baixo.
A alegria não durou muito, e o Hércules retornou rapidamente às divisões menores. Um alento para a torcida herculana aconteceu na última temporada, como já foi citado, com o retorno à segunda divisão.
Ao todo, foram 19 temporadas na primeira divisão, outras 36 na segunda, nove na terceira e sete na quarta divisão espanhola. Na temporada 1974/5, o Hércules atingiu sua mais alta colocação na primeira divisão, um honroso e inédito quinto lugar.
Para 2005/6, as expectativas da torcida e da direção do clube são pequenas. Fora das quatro linhas, uma das prioridades é a recompra do estádio José Rico Pérez, vendido para a prefeitura de Alicante por € 5 milhões, devido às dívidas públicas e privadas do clube. O saneamento dessas dívidas e o equilíbrio financeiro são, talvez, as principais preocupações da diretoria.
Com isso, a permanência na segunda divisão já estaria de bom tamanho para o Hércules, que em seu passado mais distante reúne histórias dignas de serem contadas.
La Guerra Civil
Fundado em 1922, na bela cidade de Alicante, sudeste da Espanha, o Hércules tem seus primeiros registros datados de 1918, quando Vicente Pastor Alfosea, ‘El Chepa’, criou uma equipe infantil, que ele quis intitular com o mesmo nome do semideus mitológico grego. Quatro anos mais tarde, a equipe foi oficializada e inscrita na federação regional.
A ascensão do time foi muito rápida. Em 1932 a diretoria inaugurou a primeira casa do time, o Estádio Bardín. Dois anos mais se passaram e, com apenas 14 anos de história, debutou na divisão de elite espanhola.
Tudo caminhava bem para a equipe, mas um episódio sangrento da história espanhola interferiu diretamente no rumo do clube. Na estréia na primeira divisão (1934/5), o Hércules conquistou a sexta colocação, mas a Guerra Civil, que começaria em 1936, despedaçou de vez com os sonhos daqueles jovens.
Muitos de seus jogadores se envolveram diretamente no conflito, casos de Mendizábal, morto após a queda de seu avião, Maciá e Blázquez, presos em campos de concentração, e o treinador Manuel Suárez Begoña, encontrado morto em uma vala, no balneário de Águas de Busot.
Nas décadas seguintes, a equipe oscilou muito entre as divisões menores e conquistou poucos feitos. Destaque curioso para um rebaixamento à terceira divisão, na temporada 1955/6, quando o Hércules disputava a primeira divisão. O motivo do descenso? Uma dívida de 25 mil pesetas, deixada por um ex-diretor do clube. No período, também passou pelo pela camisa azul e branca herculana um dos maiores, se não o maior, jogador de todos os tempos do time, o atual treinador da seleção espanhola, Luis Aragonés.
Somente no início da década de 80 a equipe conseguiu reerguer-se e voltar a obter certo destaque no cenário nacional. Na Copa de 1982, o novo estádio do clube, José Rico Pérez (nome de um ex-presidente do Hércules), foi uma das sedes do Mundial. Em 1984, o time salvou-se do rebaixamento com uma heróica, e histórica, vitória sobre o Real Madrid, no Santiago Bernabeu.
Após isso, o Hércules voltou ao ostracismo, de onde só foi recuperar-se, por breves momentos, na década de 90, e agora, com o retorno à segunda divisão. Na cidade há um clima de nostalgia, chamada de ‘Herculesmanía’ pela imprensa local. Mas a verdade é que a realidade do Hércules Club de Fútbol é bem diferente do mundo de heróis, deuses e mitos do verdadeiro Hércules.
Serão necessários muito mais do que 12 trabalhos para levar novamente a equipe ao topo do futebol espanhol.