Football Confidential
´´O futebol tem muitas qualidades maravilhosas. Este livro não é sobre elas. Ele é uma tentativa de iluminar o lado escuro do esporte, de revelar alguns dos segredos que as autoridades prefeririam que você não soubesse. ´A notícia é algo que alguém, em algum lugar, quer esconder´, um grande magnata das comunicações um dia disse. Football Confidential é nossa tentativa de aplicar essa máxima ao futebol´´.
Geralmente não se deve cita a introdução de um livro numa resenha, mas, neste caso, as palavras dos autores na abertura de Football Confidential são as que melhor sintetizam o espírito do livro.
Já faz tempo que o futebol tornou-se algo muito maior e mais complexo do que aquilo que se vê dentro das quatro linhas. O batido clichê de que ´´hoje o futebol é um negócio como qualquer outro´´ não é suficiente para explicar toda a complexidade envolvida na administração profissional de uma equipe moderna.
Regulamentação das transferências de atletas, direitos de transmissão por satélite, política de venda de ingressos, táticas contra o hooliganismo, desenvolvimento das categorias de base, psicologia no esporte. Essas são apenas algumas das questões com as quais o futebol se depara, e que os autores abordam com senso crítico bastante aguçado. Sim, porque o espírito de Football Confidential é desmistificar o suposto ´profissionalismo à toda prova´ do futebol inglês e europeu, mostrando como ainda há espaço para redutos de incrível amadorismo.
Paradoxalmente, ao criticar a Football Association inglesa, o livro também mostra como o Brasil se encontra a anos-luz da Inglaterra em termos de planejamento. Por exemplo: no capítulo nove, os autores fazem muitas (e pertinentes) críticas com relação à política da entidade para desenvolvimento das categorias de base na Inglaterra, enquanto no Brasil nem sequer existe tal política por parte da CBF.
Por outro lado, para não dizer que estamos atrás em tudo, vale notar que na parte de medicina esportiva e preparação física estamos bastante desenvolvidos, pelo menos em comparação aos ingleses. O capítulo quatro e o seis mostram que na Inglaterra ainda impera a mentalidade do ´boleiro´ nessas áreas – basta dizer que 7 das 20 equipes da Premier League não empregam em seus departamentos médicos ninguém com diploma de medicina ou fisioterapia (dados de 1998).
Finalmente, destaco também o capítulo três, em que os autores explicam de maneira clara e direta – aliás, uma característica de todo o livro – as origens e conseqüências da grande confusão que foi a venda de ingressos na Copa da França, que resultou em milhares de turistas (brasileiros, inclusive) de fora dos estádios, mesmo pensando ter comprado ingressos de vendedores legítimos.
Football Confidential é uma leitura indispensável para qualquer fã que acredite que futebol é mais que discutir ´´se o Parmera ou o Curinthia é melhor´´. Ao criticar os erros da FA e da UEFA – pequenos problemas, em comparação aos da CBF -, o livro mostra como a total profissionalização do futebol é condição indispensável, mas não suficiente, para o desenvolvimento do esporte no mundo de hoje. Pena que imprensa e dirigentes (em sua maioria) ainda parecem longe de entender isso, pelo menos por aqui.