Farfán: Peruano Sempre Veloz

Waldir Sáenz, 31 anos, é um dos centroavantes do Alianza Lima, no qual tem um belo histórico. Em sua primeira passagem pelo clube, um pequeno fã costumava lavar seu carro em troca de algumas moedinhas. Sáenz fez gols, saiu do país e anos depois voltou. Prosseguiu na doce rotina de balançar as redes, mas dessa vez com uma sombra que, de tanto admirá-lo, acabou por tomar-lhe o lugar no quadro aliancista. Sáenz foi para o banco de trás e aquele fã de outrora assumiu o volante. E foi longe. Esse é Farfán: o novo atacante do PSV Eindhoven, que para tê-lo despendeu US$ 2,1milhões, maior cifra que um clube peruano já recebeu por um jogador (Pizarro custou US$1,5 milhão ao Werder Bremen, em 1998).

Na rodada inaugural da Copa América de 2004, da qual o Peru é anfitrião, ´La Foquita´ – assim conhecido por ser sobrinho de Roberto ´Foca´ Farfán, do Universitario – foi titular. Nas eliminatórias para a Copa de 2006, competição em que vem revezando com Mendoza e atuando bem, fez um gol contra o Paraguai e outro contra o Uruguai, ambos oriundos de investidas velocíssimas pela direita. Essa é sua faixa de campo predileta, embora também evolua com eficácia pela esquerda. Suas arrancadas são verdadeiros ´rushes´, como diziam os antigos, e a agilidade quase dançante o faz um herdeiro de Perico León, Cubillas e Baylón, craques do Alianza e de clubes estrangeiros na fase mais pródiga do futebol peruano. Segundo sua mãe, os golpes na barriga e a frase da parteira – ´´Nasceu um lindo Cubillitas´´ – vaticinavam o que Jefferson Farfán seria no futuro.

Ponte para o Chelsea?

Entre os dias 24 e 26 de junho, liberado pela comissão técnica da seleção, ´Foquita´ esteve na Holanda para acertar seu contrato de quatro anos, segundo o qual ganhará US$ 50 mil mensais. O assessor de imprensa do PSV, Pedro Salazar, ressaltou que ´´qualidade e potência´´ foram os elementos que definiram a opção pelo jovem peruano, que chegará a Eindhoven com a missão de substituir Arjen Robben e Mateja Kesman, novos astros do Chelsea. Aliás, cogita-se que a passagem de Farfán pelo PSV seja apenas uma ´bridge´ para as garras de Abramovich, que tem preferência nas vendas do clube holandês.

O ex-técnico da seleção coreana, Guus Hiddink, aprovou a aquisição do primeiro jogador peruano da história do PSV e conta com ele para a disputa da fase preliminar da Liga dos Campeões. Poderá usá-lo como centroavante mais fixo, ponta ou até meia ofensivo. ´Jeffri´ adora ser lançado, mas também efetua assistências com grande índice de acerto. Que o diga Wilmer Aguirre, seu companheiro de ataque em algumas vitoriosas jornadas do Alianza e autor de 10 gols no torneio Clausura de 2003 (mais que os oito de Farfán). Paulo Autuori os convocou para o Pré-Olímpico do Chile, mas o desempenho, principalmente o de Farfán, que não fez gol algum, foi desapontador. Deve-se frisar que o ´Foquita´ ainda recobrava a forma após uma lesão no joelho e que, no resto do primeiro semestre de 2004, conseguiu desfazer a má impressão, com 15 anotações no torneio Apertura e quatro na Libertadores.

Poligamia

O solteiro Farfán tem três fortes ´alianzas´ na vida: com a agremiação homônima, à qual prometeu um dia regressar; com a mãe, Rosario Guadalupe, dançarina e irmã de Luis Guadalupe, zagueiro do rival Universitario; e com Oscar Montalvo, treinador que o descobriu no Deportivo Municipal, clube onde também surgiu Hugo Sotil, meia barcelonista da década de 70.

Do Alianza Lima, ´Jeffri´ sai como herói do campeonato de 2003, em cuja final, contra o Sporting Cristal (no Peru os vencedores do Apertura e do Clausura disputam o título de campeão nacional), fez o gol da vitória por 2 a 1 aos 91 minutos. No campeonato nacional sub-17 de 2000, marcou 46 vezes em 35 jogos. Debutou no time principal em 2001 e no dia 12 de outubro do ano seguinte fez seu primeiro gol em torneios nacionais.

A mãe, presença assídua nos estádios, sofre com as entradas dos beques, afugenta as vedetes e recorda os tempos do bairro Villa El Salvador, em que o pequenino Farfán, de infância pobre e pai ausente, pedia para bater bola nos campinhos.

Oscar Montalvo, em outras épocas jogador do Deportivo La Coruña, foi visitado por ´Jeffri´ antes do fechamento do contrato com o PSV e deu-lhe conselhos sobre o futebol europeu. Com a autoridade de quem conhece o pupilo há 12 anos, antevê o que virá: ´´Tenho uma enorme fé em seu triunfo no exterior. Ele tem a condição inata, que está na velocidade e na explosão, e é um rapaz simples e nobre, que saberá aprender tudo o que a Europa ensina´´.

Diamante ´inca´

Como de praxe, o montante pago pelo sul-americano Farfán poderá ter rendimento multiplicado em uma eventual negociação dentro do velho continente. Seu compatriota Pizarro, por exemplo, rendeu bons dividendos ao Werder Bremen, que o revendeu em 2000 ao Bayern de Munique por uma quantia 13 vezes superior à que fora destinada ao Alianza Lima. Caso confirme o que dele se espera, Farfán se converterá em grande negócio para o PSV e em arrependimento para o Betis, que por questões relativas à forma de pagamento deixou de adquiri-lo.

´´Tenho que demonstrar que minha saída não foi uma casualidade´´, disse ´El Niño Mimado´, como é conhecido em Lima, após a concretização da transferência. Astúcia, dribles e movimentação constante nunca faltarão; não é um atacante muito alto (1,74 m), mas cabeceia bem, ainda que raramente. Nas finalizações com os pés, ainda pode melhorar (contra o São Paulo, pela Libertadores, perdeu grandes oportunidades e não venceu Rogério Ceni). Fora de campo, leva os treinamentos a sério, sente-se inibido em frente às câmeras e escolhe com cuidado as palavras. Farfán, portanto, nada tem de fanfarrão.

O menino Jefferson (nome inspirado no presidente americano Thomas Jefferson), que em 2002 fez quatro gols contra a Venezuela pelo sul-americano sub-17 e em 2003 marcou três dos quatro tentos peruanos no sul-americano sub-20, agora ascende à titularidade da seleção principal e desbrava a Europa. Seguirá ele os passos de Romário e Ronaldo, que depois do PSV foram ídolos do Barcelona? Bem, o empresário de Farfán se chama Jose Luis Catalan…

Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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