Como troca do futebol por ciclismo aos 17 anos levou belga a dois ouros na Olimpíada
Remco Evenepoel, duas vezes ouro em Paris, trocou os gramados pela bicicleta apenas no fim da adolescência
O belga Remco Evenepoel, de apenas 24 anos, brilhou neste sábado (3) ao vencer a prova de ciclismo estrada nos Jogos Olímpicos de Paris. Na última semana, ele já tinha levado o ouro na prova contrarrelógio.
O bi olímpico não é por acaso, o ciclista europeu é um verdadeiro fenômeno.
Mesmo começando no esporte “tarde”, aos 16, conquistou vários campeonatos nos juniores — recebendo o apelido de “Messi do ciclismo” — e, quando passou ao profissional, levou os mundiais de ciclismo estrada (2022) e contrarrelógio (2023).
Esse início tardio é explicado por uma história inusitada. Evenepoel não esperava ser um ciclista, e sim um jogador de futebol, carreira que investiu mais de uma década até a mudança de esporte.
Unieke Olympische prestatie 🥇🥇
Trots op onze oud-jeugdspeler, Remco ❤️🤍 pic.twitter.com/1NgvBJeubn
— PSV (@PSV) August 3, 2024
Evenepoel passou por bases de grandes clubes da Bélgica e Holanda, além da seleção
O belga é daqueles atletas que capazes de atingir o profissionalismo em diferentes esportes pela sua capacidade física. A ida ao futebol aconteceu já aos cinco anos, captado pelo Anderlecht, o maior clube da Bélgica.
Na gigante equipe de Bruxelas ficou até os 11, quando os trocou por um time ainda maior: o PSV, campeão europeu em 1988 e 25 vezes vencedor da Eredivisie — segundo maior vencedor, só atrás do Ajax.
Inclusive, durante a trajetória na Holanda chegou a jogar junto de Cody Gakpo, atacante do Liverpool e da seleção holandesa.
— Sou um ano mais novo [do que Gakpo], mas às vezes fui promovido ao time mais velho. Por isso, pude observar o talento de Gakpo de vez em quando, conheço-o um pouco. E é claro que ainda o acompanho, sim. Especialmente depois da sua transferência para o Liverpool – um momento muito bom. Realmente acho que ele é um dos melhores da seleção holandesa — afirmou ao portal belga Sporza.
Um vídeo de Remco Evenepoel a fazer a assistência para o golo de Cody Gakpo a passar por vocês
pic.twitter.com/7xKfqFMeOL— Francisco Martins (@kiko13_martins) June 17, 2024
Por conta de uma doença da mãe de Evenepoel, o jovem lateral-esquerdo retornou para Bruxelas para defender o Anderlecht novamente. Lá, impressionava seus colegas pelo vigor físico invejável.
Isso foi relatado pelo meio-campista Théo Leoni, hoje profissional no clube belga e ex-colega do ciclista, ao jornal francês La Tribune.
Remco brilhava nos chamados testes de VO2max, capazes de medir, durante o esforço físico, a capacidade do corpo de utilizar oxigênio.
— Ele é um monstro físico. Os testes feitos na sua capacidade pulmonar sempre mostraram isso. Em cada sessão de teste, eu sempre ficava entre os últimos com o Remco. Um a um, todos os outros desistiam. Para mim, era realmente uma motivação seguir o Remco. Mas, no final, eu também tinha que parar. Mentalmente eu ainda estava disposto, mas fisicamente minhas pernas diziam ‘pare'. Remco continuava. — disse Leoni.
No Anderlecht, ganhou as primeiras oportunidades para jogar pela seleção da Bélgica, na qual seria capitão dos times sub-15 e 16, atuando ao lado do atacante Loïs Openda, do RB Leipzig, e do volante Albert Sambi Lokonga, do Arsenal, emprestado ao Sevilla.
— Lokonga está no time que eu sonhava em jogar [à época o Arsenal], então ele realmente tornou meu sonho realidade — disse Evenepoel, admirador dos Gunners, há dois anos.
Na transição dos 16 aos 17 anos, o modesto defensor, nem sempre titular e incomodado com o banco de reservas, sofreu uma lesão e sentiu que o clube da capital belga não confiava mais nele.
Era momento de ir para o KV Mechelen, onde só ficou alguns meses até, definitivamente, largar o futebol em abril de 2017, mesmo recebendo uma proposta para assinar um vínculo profissional.
— [No Mechelen] me ofereceram um lugar no time principal e um contrato profissional, mas a paixão [pelo futebol] desapareceu. Os meus colegas não compreenderam a minha escolha, mas senti que tinha de fazer outra coisa. — revelou o hoje ciclista ao jornal francês L'Equipe.
Evenepoel já se arriscava no ciclismo em meio ao futebol, no segundo semestre de 2016, muito pela influência do pai, o ex-ciclista Patrick Evenepoel.
— Acredito que ele fez a escolha certa ao mudar de esporte, não acha? Não que Remco não soubesse jogar futebol, mas duvido que ele tenha alguma vez lamentado essa mudança. — brincou o meia Leoni.
Um exemplo que Remco poderia ter sido atleta em outros esportes
O relato de Stéphane Stassin, ex-técnico de Evenepoel no Aderlecht, à revista Sport/Voetbal mostra como o ciclista poderia ter ido para outros esportes, seja o futebol ou o atletismo.
Em 2016, o então treinador pediu que os atletas descansassem em um domingo porque jogaram no sábado anterior e teriam outra partida importante na quarta-feira seguinte.
Eis que, no dia de folga, Remco, então com 16 anos, simplesmente correu a meia maratona de Bruxelas e terminou em 13º lugar com tempo de 1h 16'14.
Um atleta nato, Evenepoel manterá sua trajetória absurda no ciclismo e mira vencer o Tour de France e o Giro d'Italia, duas das três principais voltas no ciclismo de estrada — ele já venceu a terceira, a Vuelta a España.