O primeiro ouro: a história do título brasileiro no Pan-Americano de 1963, em São Paulo
Muito antes do Rio 2007, o Brasil recebeu o Sul-Americano em 1963, em um ano conturbado, mas que teve título no futebol masculino com Carlos Alberto Torres e Jairzinho no elenco
Em 2007, o Brasil recebe os Jogos Pan-Americanos pela segunda vez. Antes do Rio de Janeiro se preparar para receber a competição, São Paulo já foi o palco do evento, em 1963. Em um ambiente político tenso (no ano seguinte haveria o golpe militar), 22 países brigaram por medalhas em 22 modalidades. No futebol, o País se destacou ao conquistar o ouro com uma equipe na qual despontaram os jovens Carlos Alberto Torres e Jairzinho.
Pela primeira vez, a sede do Pan foi decidida por uma votação. Em 1959, durante o VII Congresso Esportivo Pan-Americano, São Paulo derrotou a cidade canadense de Winnipeg por 18 a 5. No entanto, a competição teve um pequeno número de atletas: apenas 1.665, 385 deles do Brasil. No quadro geral de medalhas, o País teve seu melhor desempenho da história da competição: ficou em segundo lugar (14 medalhas de ouro, 20 de prata e 18 de bronze), mas muito atrás dos Estados Unidos (106 de ouro, 56 de prata e 37 de bronze).
Na época, quase não houve a necessidade de grandes obras para a recepção dos atletas. Aproveitou-se a estrutura dos clubes da cidade e o estádio do Pacaembu, até então o mais importante de São Paulo. A Vila Olímpica foi erguida na Cidade Universitária, onde hoje é o Conjunto Residencial da USP (Crusp). Os prédios deveriam ficar prontos em três anos, mas levaram apenas cinco meses para ser entregues.
Apesar dessas condições, não dá para se deixar de lado a improvisação que tomou conta do evento. As seleções de futebol, por exemplo, ficaram alojadas no estádio do Morumbi, até então inacabado. Cabe lembrar que o local ainda era deserto e de complicado acesso, devido à longa distância do centro.
Futebol no Pan
Como nas três edições anteriores, a competição foi disputada em um sistema de pontos corridos. As cinco seleções participantes (Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Estados Unidos) se enfrentaram uma vez. O primeiro colocado receberia a medalha de ouro, com a prata e o bronze para o vice e o terceiro lugar. Em 1967, no Pan em Winnipeg, o formato de disputa seria alterado.
Até então, os argentinos contavam com um excelente retrospecto, pois haviam vencido as três edições anteriores da competição. O Brasil participava pela segunda vez do torneio de futebol do Pan. Em 1959, em Chicago, a Seleção ficou com a medalha de prata. Dessa vez, a história foi diferente e a equipe se reuniu cerca de um mês antes do começo da disputa para se preparar.
O time-base da Seleção era formado por Heitor (Corinthians); Carlos Alberto Torres (Fluminense), Zé Carlos (Botafogo), Adevaldo (Botafogo) e Riva (Fluminense); Íris (Fluminense), Nenê (Santos); Arlindo (Botafogo), Airton (Flamengo), Jairzinho (Botafogo) e Othon (Botafogo). O técnico era Antônio Ferreira, mais conhecido como Antoninho, do Fluminense. Sim, Carlos Alberto Torres e Jairzinho são os mesmos que conquistaram o tri mundial no México, em 1970.
A campanha brasileira começou em 24 de abril. No Parque São Jorge, o Brasil estreou com uma vitória por 3 a 1 sobre o Uruguai. Logo na primeira partida, Airton se destacou ao marcar dois gols. No entanto, na partida seguinte, ele estabeleceria um recorde. No dia 28, a equipe enfrentou os Estados Unidos, medalha de prata em Chicago. No entanto, a Seleção aplicou a maior goleada do torneio até então: 10 a 0, com sete de Airton — que mais tarde se tornaria conhecido como ‘Beleza’ e se destacaria no Flamengo. Ninguém marcou tantos gols em uma mesma partida com a camisa amarela.
O Brasil passou sem dificuldades pelo Chile (3 a 0), no dia 30, e em 4 de maio, enfrentou a Argentina na última rodada. Como os argentinos haviam empatado sem gols com o Chile, estavam obrigados a vencer para ficar pela quarta vez consecutiva com a medalha de ouro. Entretanto, o jogo acabou empatado por 2 a 2 (Airton e Othon fizeram para o Brasil, enquanto Oleniak e Manfredi marcaram para os argentinos).
A Seleção terminou o Pan de forma invicta, dona do melhor ataque (18 gols marcados) e da melhor defesa (sofreu três, assim como a Argentina). Airton, com onze gols, foi o artilheiro da competição. A Argentina ficou com a prata e o Chile levou o bronze. O Uruguai acabou em quarto e os EUA, saco de pancadas, ficaram na lanterna, tendo perdido todos os seus jogos (tomou 30 gols e marcou apenas três).