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Considerada a terra ‘oficial’ do Papai Noel, a Lapônia tem sua própria seleção de futebol

Localizada no Círculo Polar Ártico, a Lapônia é famosa por ser a terra do Papai Noel e tem uma seleção de futebol que colaborou para um maior reconhecimento do povo indígena da região

A Lapônia é uma região de pouco menos de 400 mil km² situada no norte da Escandinávia e que abrange partes da Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. Com boa parte de sua área localizada dentro do Círculo Polar Ártico, é famosa turisticamente pelo Sol da Meia-Noite e pela Aurora Boreal, mas também é conhecida por ser a casa ‘oficial' do Papai Noel. E, por mais incrível que pareça, a terra do bom velhinho possui sua própria seleção nacional.

A seleção de futebol da Lapônia existe há 38 anos e faz parte da ConIFA (Confederação de Futebol de Associações Independentes), já que não representa um estado e não está filiada na Uefa ou na Fifa. A Federação de Futebol local até tentou aderir a entidade máxima do futebol mundial em 2001 e imitar outros territórios não independentes, como as Ilhas Faroé, mas não obteve sucesso.

Sua primeira partida foi em 19 de julho de 1985, na derrota por 4 a 2 para seleção de Aland (região autônoma localizada no mar Báltico entre a Suécia e a Finlândia). A primeira vitória veio um ano depois, também contra Aland, por 2 a 0. Em 1987, disputou seu primeiro amistoso contra uma verdadeira seleção nacional, perdendo por 6 a 0 para a equipe sub-23 da Alemanha Ocidental. Já em 1991, conseguiu a façanha de derrotar a Estônia por 2 a 1 após ter perdido por 2 a 0 no ano anterior.

As principais proezas da seleção de futebol da Lapônia, no entanto, aconteceram neste século. Em 2006, conquistou a primeira edição da Copa do Mundo VIVA (torneio internacional realizado entre equipes não afiliadas à Fifa) ao golear Mônaco por 21 a 1 na decisão. A vantagem por 20 gols de diferença é explicada pela utilização de jogadores profissionais finlandeses, dinamarqueses e suecos. Dessa forma, ainda terminou em terceiro lugar nas edições de 2008 e 2009.

Em 2010, no entanto, a equipe da Lapônia deixou de ser organizada pela Federação de Futebol da região e passou a ser de responsabilidade de uma nova organização: a FA Sápmi. Em 2014, a região sediou a primeira Copa do Mundo ConIFA, que sucedeu a Copa do Mundo VIVA, mas o desempenho não foi bom. Com os clubes profissionais da Suécia, Dinamarca e Finlândia liberando cada vez menos atletas, a seleção da terra do Papai Noel perdeu as duas partidas que disputou e não passou da fase de grupos.

Na edição de 2016 do torneio, parou nas quartas de final ao ser eliminada pela anfitriã e futura campeã Abecásia, uma república autônoma no norte da Geórgia que busca a independência há 30 anos. Depois de não ter se classificado para Copa do Mundo ConIFA de 2018, a Lapônia agora vai em busca de uma vaga na edição do ano que vem, que será realizada no Curdistão.

O papel social da seleção da Lapônia

Se esportivamente a relevância é pequena, socialmente a seleção de futebol da Lapônia teve um impacto importante. De acordo com a revista francesa So Foot, a região foi habitada pelo povo nômade indígena Sámi, popularmente conhecido como lapões e alvo de perseguições e termos discriminatórios durante grande parte do século XX. O próprio termo “Sámi” significa “portador de trapos” em sueco.

O acesso às terras e o uso da língua dos Sámi eram limitados por leis datadas desde o século XIX. Só na década de 1970 que os direitos deste povo passaram a ser gradualmente reconhecido, muito por causa das reivindicações levantadas com as criações de “parlamentos” Sámi. Assim, em 1985 foi possível a criação da seleção da região.

A derrota por 4 a 2 para Aland foi transmitida por rádio para Noruega e Suécia, além de ter resultado na criação da primeira bandeira Sámi, nas cores vermelho, verde, amarelo e azul. Não é exagero dizer, portanto, que o time da Lapônia foi determinante para um maior reconhecimento dos direitos do povo indígena. Atualmente, a população Sámi é de cerca de 100 mil pessoas.

Foto de Felipe Novis

Felipe NovisRedator

Felipe Novis nasceu em São Paulo (SP) e cursa jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Antes de escrever para a Trivela, passou pela Gazeta Esportiva.
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