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Fifa muda regras para impedir concorrentes a novo mandato de Blatter

Em 2011, o jornalista americano Grant Wahl, da revista Sports Illustrated, se candidatou publicamente ao cargo de presidente da Fifa. Foi principalmente uma forma de usar o sistema de criticá-lo, uma vez que as regras para a eleição da entidade permitiam que qualquer pessoa se candidatasse ao cargo máximo da Fifa. Para isso, bastava ser nomeado por uma federação entre as 209 filiadas.

A candidatura não foi efetivada, já que ele não foi nomeado por ninguém, mas a campanha causou discussões e o levou a conversar com cerca de 150 federações no mundo todo. Em 2015, teremos uma nova eleição na Fifa. Joseph Blatter, que anunciou naquele ano de 2011 que aquele seria o seu último mandato, deve concorrer novamente. Tudo balela, claro. Ele será novamente candidato em 2015. Possivelmente, candidato único. De novo.

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Grant e a equipe da Sports Illustrated fizeram um vídeo da campanha questionando o fato de Blatter e a Fifa serem alvos de diversas denúncias de corrupção e da reputação da entidade estar ruim e mesmo assim ele ser candidato a reeleição. Você pode assistir ao vídeo logo abaixo:

 

As propostas de Grant Wahl eram simples e atendiam a pedidos de grande parte dos torcedores do futebol pelo mundo: uso de tecnologia na linha do gol, incluir mulheres no Comitê Executivo da entidade (que toma as principais decisões sobre o futebol) e limites de mandatos para os dirigentes da Fifa. Vale dizer que a Fifa acabou acatando as duas primeiras, mas, é claro, a última continua sem entrar em vigor. Afinal, Blatter quer continuar concorrendo enquanto estiver vivo. E outros candidatos também querem.

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Durante a sua campanha, Grant Wahl chegou a conversar com uma federação europeia, que já ganhou a Copa do Mundo, mas não revelou qual. Na conversa, o dirigente que o atendeu perguntou por que a federação dos Estados Unidos (US Soccer) não o nomeou candidato. O jornalista respondeu que, asism como todas as outras, temiam retaliação da Fifa e dos seus dirigentes.

O dirigente que atendeu Wahl contou que Blatter iria anunciar naquele Congresso da Uefa que estavam que não iria concorrer novamente em 2015. Costurou um acordo para que Michel Platini, presidente da Uefa, o sucedesse. E, por isso, Platini, pediria apoio dos europeus à candidatura de Blatter naquele ano. Isso significava que nomear Wahl como candidato significaria, ao mesmo tempo, fazer oposição a Blatter na Fifa e Michel Platini na Uefa. Para o dirigente, seria fácil votar em Wahl, porque o voto é secreto, mas a nomeação da candidatura é pública e seria uma declaração, alta e forte, de oposição aos dois poderosos dirigentes. “É impossível nomear você”, afirmou o dirigente a Wahl.

A campanha teria o catariano Mohamed Bin Hammam, mas que abdicaria de concorrer ao cargo depois que foi provado que ele subornou dirigentes do Caribe, com a intermediação de Jack Warner, presidente da Concacaf, para comprar seus votos na presidência da Fifa. Um escândalo que afastou o catariano e acabou com a carreira de Warner na Fifa, que era vice-presidente na época. Outras denuncias surgiram sobre corrupção envolvendo também Bin Hammam e outros dirigentes. Ele foi um dos que ajudou a levar a Copa do Mundo ao Catar, em 2022, uma vitória que está sendo muito contestada também por denúncias de compra de votos.

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Desta vez, não haverá espaço para uma candidatura como a de Grant Wahl. Segundo o próprio americano conta no jornal Guardian, a Fifa mudou seu sistema eleitoral para restringir mais os candidatos. Aqueles que quiserem se candidatar para a presidência da Fifa precisa não mais de apenas uma, mas da nomeação de cinco federações. Mais do que isso, será necessário também que o candidato tenha trabalhado em uma das 209 federações filiadas à Fifa em dois dos últimos cinco anos antes da eleição. Ou seja: só quem está no meio poderá concorrer. Uma forma de evitar um novo Grant Wahl, que crie, como o jornalista americano criou, uma discussão e até um risco que, de fato, um candidato externo consiga a nomeação e possa oficialmente concorrer.

A Fifa não mudou muito. Continua a mesma. Mais fechada, cada vez menos transparente.

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Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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