Cristiano Ronaldo e o alerta sobre as redes sociais
Craque português, fenômeno digital, ataca o comportamento da maioria do público que o segue e o faz faturar alto
Cristiano Ronaldo alcançou a impressionante marca de 1 bilhão de seguidores em redes sociais. Curiosamente, o craque português disparou duras críticas à geração de jogadores que faz uso obsessivo das redes sociais.
Em entrevista ao podcast do ex-jogador inglês Rio Ferdinand, CR7 disse que não se via como treinador no futuro porque tem dificuldade em se relacionar com a nova geração.
“É difícil, especialmente no futebol, porque eles não levam em consideração a nossa experiência. Eles acham que o celular será uma boa fonte de educação, o Tik Tok e o Instagram”, afirmou.
Não deixa de ser contraditório o ataque de CR7 a uma de suas fontes de renda. Muita renda. Uma simples postagem do craque em sua conta no Instagram rende a ele cerca de R$ 12 milhões.
O atleta tem mais de 670 milhões de seguidores nesta rede social. Quando criou seu canal oficial no YouTube, em agosto deste ano, ele amealhou 60 milhões de inscritos em menos de 30 dias.
É realmente curioso que um dos atletas mais midiáticos da história, que cristalizou sua espetacular carreira em tempos de vídeos curtos, cortes e likes, manifeste esse posicionamento.
Ele, inclusive, revelou há alguns anos que seu filho, Cristiano Ronaldo Júnior, não tinha um telefone celular.
Posicionamento de Cristiano Ronaldo merece atenção
No terreno do esporte, quando o ícone de uma geração de jogadores de futebol vem a público reclamar do comportamento dos colegas mais jovens, é preciso escutar com atenção.
A história de Cristiano Ronaldo tem trechos que demonstram seu cuidado com a carreira e o respeito à opinião alheia. Quando estava no United, ele lutava para conseguir espaço no time e aceitou o conselho de um dos preparadores físicos do clube, que o alertou para o fato de ele estar treinando errado.
Após corrigir o treinamento, CR7 cresceu de produção e sua carreira ofuscou a de Wayne Rooney, que era a grande estrela do time de Manchester naquele período.
Muitos treinadores e ex-atletas de futebol reclamam do comportamento da nova geração de jogadores. Apontam individualismo em excesso, arrogância e pouca vontade de ouvir os mais experientes.
Dizem que eles passam o tempo trancados em seus quartos na concentração, mexendo nos celulares. Também demonstram certo desprezo pelo futebol jogado pelas gerações anteriores.
Não se trata de exclusividade do futebol e nem dessa geração. Todos nós temos esse comportamento em algum momento de nossas vidas. Tendemos a desprezar os mais velhos, a desvalorizar suas conquistas e a supervalorizar as nossas.
Quando envelhecermos, reclamaremos desse comportamento dos mais jovens. Trata-se de um tipo de situação bastante comum.
Os atletas de sucesso de hoje ganham muito mais dinheiro muito mais rápido que os de épocas anteriores. No futebol, em especial, o sucesso financeiro costuma chegar antes mesmo do equivalente esportivo.
O modelo de negócios precipita a conquista da fortuna que para outras gerações demorava muito a ser obtida. Para manter um jovem jogador e aumentar o valor de sua multa contratual, os clubes promovem aumentos salariais que fazem um adolescente pular de salários de 2, 3 mil reais para 600, 700 mil da noite para o dia.
Talvez o desabafo de Cristiano Ronaldo traga certa nostalgia de um tempo em que jovens jogadores viam os mais velhos com genuína admiração e se orgulhavam de vestir suas chuteiras para amaciá-las. Esperavam ansiosos a oportunidade de fazer um simples treinamento com os ídolos e sonhavam em jogar ao lado deles.
Com a velocidade supersônica do sucesso e da necessidade de capitalização de suas imagens, alguns são tratados como superestrelas tão rapidamente que acabam se perdendo na trajetória ainda inicial.
O alerta de um dos maiores jogadores da história do futebol, cujas fama e fortuna se construíram com base nesse processo, deve ser interpretado com especial atenção.
Afinal, mesmo bilionário, consagrado e ídolo mundial, Cristiano Ronaldo segue sendo um profissional com a mesma fome e dedicação dos tempos em que treinava errado com o sonho de desbancar Rooney.