Mundial de Clubes

Como era o Fluminense que conquistou a Copa Rio de 1952, título pleiteado como Mundial de Clubes

Fifa equipara Copa Rio à Intercontinental, e time campeão pelo Fluminense tinha escalação de ídolos, que começava com Castilho, passava por Pinheiro, Didi, Telê e Orlando Pingo de Ouro

Castilho; Píndaro e Pinheiro; Jair Santana, Edson e Bigode; Telê, Didi, Marinho, Orlando Pingo de Ouro e Quincas. Foi com essa escalação que o Fluminense empatou com o Corinthians em 2 a 2, e com a melhor campanha, venceu a Copa Rio de 1952, no Maracanã, pleiteada pelo clube como o Mundial da época.

Em 2023, o Flu disputa o segundo Mundial de Clubes de sua história, ao menos, na visão do clube. O trabalho de recuperação da memória tricolor começou em 2012, quando a expressão “Campeão Mundial de 1952” passou a estampar os muros do Estádio das Laranjeiras.

Estádio das Laranjeiras estampa desde 2012 as inscrições "Campeão Mundial 1952" - Foto: Mailson Santana - Fluminense F.C.
Estádio das Laranjeiras estampa desde 2012 as inscrições “Campeão Mundial 1952” – Foto: Mailson Santana – Fluminense F.C.

No mesmo ano, quando comemorava-se 60 anos da Copa Rio de 1952, o Tricolor passou a usar patches comemorativos em alusão ao título. Em partida contra o Palmeiras, campeão da mesma competição em 1951, os times trocaram faixas que rememoravam as conquistas.

O dossiê sobre o primeiro título mundial do Fluminense foi enviado à Fifa pela primeira vez em 2016. Em 2020, Rogério Caboclo, então presidente da CBF, esteve na sede social de Laranjeiras por Mário Bittencourt, presidente do Flu, e também ajudou a levar a pauta para a entidade máxima do futebol.

Então presidente da CBF, Rogério Caboclo foi às Laranjeiras com Mário Bittencourt em 2021 e entidade passou a apoiar pleito do Fluminense na Fifa - Foto: Mailson Santana/Fluminense FC
Então presidente da CBF, Rogério Caboclo foi às Laranjeiras com Mário Bittencourt em 2021 e entidade passou a apoiar pleito do Fluminense na Fifa – Foto: Mailson Santana/Fluminense FC

Em 2021, o Tricolor enviou novo ofício, já com apoio da CBF. Recentemente, Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, também expressou à Fifa seu apoio aos pleitos de Palmeiras e Fluminense sobre a Copa Rio.

Como foi a Copa Rio de 1952, torneio que Fluminense pleiteia como Mundial

A Copa Rio de 1952 recebeu esse nome por ser disputada no Rio de Janeiro por oito equipes. O apoio estatal, à época, foi feito em troca dos naming rights da competição que tinha a ideia de medir forças entre os principais campeões do futebol mundial. Palco da Copa do Mundo de 1950, o Brasil queria usar o Maracanã, então maior estádio do planeta, como chamariz.

A competição reuniu times de peso da América do Sul e da Europa. Do Brasil, vieram o Fluminense e o Corinthians, campeões de Rio de Janeiro e São Paulo, estados mais fortes no esporte à época. O Peñarol representou o Uruguai, campeão do mundo em 1950, e o Libertad esteve como líder do campeonato do Paraguai naquele ano. Da Europa, vieram o Sporting, campeão de Portugal, o Grasshopper, campeão suíço, o Áustria Viena, campeão austríaco, e o Saarbrucken, vice-campeão alemão.

O campeão argentino Racing e a campeã italiana Juventus foram convidadas, mas não participaram por problemas de datas.

Manchete de jornal afirma que Fluminense foi campeão do mundo entre clubes em 1952 - Foto: Flu Memória
Manchete de jornal afirma que Fluminense foi campeão do mundo entre clubes em 1952 – Foto: Flu Memória

A vitória do Fluminense foi comemorada à época como resposta pelo Maracanazzo de 1950. A vitória por 3 a 0 sobre o Peñarol, então favorito, lavou a alma da opinião pública. O Flu terminou a conquista invicto, com cinco vitórias e dois empates.

Fifa não deu resposta formal, mas iguala Copa Rio à Copa Intercontinental

O Fluminense pleiteia a conquista da Copa Rio de 1952 como Mundial de Clubes. A Fifa chegou a dar um parecer favorável ao Palmeiras, em 2014. A entidade máxima do futebol chamou a Copa Rio de “primeira competição de clubes a nível mundial e a Sociedade Esportiva Palmeiras como a vencedora”.

Pouco tempo depois sinalizou também positivamente ao Tricolor quando do envio do primeiro dossiê.

Em 2017, a entidade máxima do futebol mundial desconsiderou as conquistas intercontinentais antes de 2000, por não ter organizado as competições — embora as tenha autorizado. Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol fez um pedido formal pelo reconhecimento dos campeões e recebeu o aval, mas sem a unificação com a atual disputa.

Pouco tempo depois, a Fifa voltou atrás chancelou as disputas de 1960 a 2004 — de 2000 a 2004 houve. Oficialmente, a entidade não desconsidera a Copa Rio.

A taça da Copa Rio de 1952, considerada o Mundial de Clubes da época, no Salão Nobre das Laranjeiras, sede social do Fluminense - Foto: Bruno Haddad/Fluminense FC
A taça da Copa Rio de 1952, considerada o Mundial de Clubes da época, no Salão Nobre das Laranjeiras, sede social do Fluminense – Foto: Bruno Haddad/Fluminense FC

A Trivela apurou junto a funcionários da Fifa, que há a intenção de unificar diversas competições como a Copa Rio à Copa Intercontinental de 1960 à 2004. Internamente, a Fifa já considera os títulos como equivalentes.

Fluminense tinha escalação de ídolos na Copa Rio de 1952

O onze inicial da conquista da Copa Rio de 1952 acumulou, na soma, 3946 jogos pelo Fluminense. Uma escalação de ídolos.

O time começa com o homem que dá nome ao Centro de Treinamentos do clube, Carlos Castilho. Mas não para por aí. Logo depois, dois jogadores que completam um trio histórico: Píndaro e Pinheiro. Os zagueiros formaram uma dupla das mais conhecidas na história do clube.

Ídolos históricos e campeões da Copa Rio em 1952, Castilho, Pinheiro e Telê dedicaram a vida ao Fluminense - Foto: Mailson Santana/Fluminense FC
Ídolos históricos e campeões da Copa Rio em 1952, Castilho, Pinheiro e Telê dedicaram a vida ao Fluminense – Foto: Mailson Santana/Fluminense FC

Do meio para a frente, outras lendas do futebol mundial — e tricolores de coração. Edson, Bigode e Jair Santana tem seus nomes cravados na sala de troféus do clube, que virará um lindo museu.

Didi, o Folha Seca, e Telê Santana, ícone como jogador e treinador no clube — ele até chorou de tristeza ao fazer gol no Fluminense como adversário. O ataque ainda tinha Orlando Pingo de Ouro, o terceiro maior artilheiro da história do Fluminense, com 187 gols.

O técnico era Zezé Moreira, quem mais treinou o Fluminense em todos os tempos. Foram 482 jogos, em três passagens.

A grande conquista de Castilho, ídolo histórico do Fluminense

Para muitos, Carlos José Castilho é o maior ídolo da história do Fluminense. Com 697 jogos, o goleiro é conhecido por ter amputado parte do dedo mínimo da mão esquerda para parar de sofrer lesões. Ele atuou de 1947 a 1965 nas Laranjeiras.

Castilho amputou o dedo para jogar pelo Fluminense, e é considerado por muitos o maior ídolo da história do clube - Foto: Flu Memória
Castilho amputou o dedo para jogar pelo Fluminense, e é considerado por muitos o maior ídolo da história do clube – Foto: Flu Memória

No Flu, foram três títulos do Campeonato Carioca de 1951, 1959 e 1964, duas taças do Torneio Rio-São Paulo em 1957 e 1960, além de conquistas da Copa das Municipalidades de 1953, do Torneio José de Paula Junior de 1952 e do Torneio Municipal de 1948. Pela Seleção, Castilho jogou quatro Copas do Mundo, em 1950, 1954, 1958 e 1962, sendo reserva nos bicampeonatos mundial e no vice do Brasil em casa.

Um time de tricolores que deram a vida ao Fluminense

Mas o time do Fluminense de 1952 não é só o de Carlos Castilho.

Na zaga, Pinheiro é o segundo jogador com mais partidas pelo Fluminense, com 606 e 51 gols. O defensor dedicou toda sua vida ao Tricolor. Após se aposentar dos campos, passou a ser um funcionário do departamento de futebol, e também é o 14º treinador com mais jogos pelo clube, com 115, em três passagens, além de anos nas divisões de base.

Telê Santana talvez seja o mais famoso dos nomes. O Fio de Esperança é um dos maiores ídolos da história do clube por tudo o que fez como jogador e treinador, bem como o que representa para o futebol brasileiro.

No Fluminense, fez 162 gols em 552 jogos como ponta, além de 98 partidas como treinador. Conquistou a Copa Rio de 1952, o Carioca em 1951 e 1959, além do Rio-São Paulo em 1957 e 1960. Como técnico, formou o time que seria campeão brasileiro em 1970, e acabou vice com seu Atlético-MG. Anos depois, admitiu que não conseguiu ficar triste com o título do Tricolor.

Outro grande nome da equipe era Didi, o Folha Seca. Além dos 297 jogos e 97 gols, um deles na final da Copa Rio em 1952, de cabeça, o Mr. Football também voltaria como técnico ao Fluminense. E em outro time histórico: a Máquina Tricolor de Rivellino, Carlos Alberto Torres e Paulo Cezar Caju, em 1975 e 1976.

Nomes históricos que não estão mais entre nós, mas certamente estariam na torcida por Fernando Diniz, Germán Cano e companhia na Arábia Saudita em 2023. O Fluminense já está em Jeddah, onde disputa a semifinal do Mundial de Clubes na segunda (18), contra o vencedor da disputa entre Al Ahly, do Egito, e Al Ittihad, o time da casa.

Foto de Caio Blois

Caio BloisSetorista

Jornalista pela UFRJ, pós-graduado em Comunicação pela Universidad de Navarra-ESP e mestre em Gestão do Desporto pela Universidade de Lisboa-POR. Antes da Trivela, passou por O Globo, UOL, O Estado de S. Paulo, GE, ESPN Brasil e TNT Sports.
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