Ex-goleiro dos EUA faz apelo à Fifa e a jogadores do Mundial sobre campanhas antirracistas
Entidade deixa de exibir mensagens diretas em condenação à discriminação e gera preocupação em relação às medidas adotadas para a Copa de 2026

A Fifa escolheu não exibir campanha antirracismo nos estádios que recebem jogos do Mundial de Clubes de 2025, nos Estados Unidos. A determinação foi criticada por ativistas nos primeiros dias do torneio, e agora o ex-goleiro Tim Howard também se mostra contrário à decisão.
— Quando se trata de racismo no esporte e na América, infelizmente ainda está vivo e bem. Por muito tempo, ganhamos força no progresso, mas com certeza retrocedemos e você sente as tensões — disse o norte-americano ao “The Athletic”.
O ex-arqueiro ressaltou a crença de que os jogadores têm poder e exercem papel fundamental por sempre haver oportunidades de se posicionar de forma independente, mesmo sem ações da Fifa.
— O racismo precisa ser erradicado. Não vai acontecer tão cedo por causa da divisão atual do país, mas espero que um dia cheguemos lá.
Fifa adere a outra campanha no Mundial de Clubes
A entidade máxima do futebol produziu campanhas com os dizeres “sem racismo” e “sem discriminação” nas competições anteriores sob seu gerenciamento, como a Copa do Mundo do Catar, em 2022, e a Copa Feminina, na Austrália e na Nova Zelândia, em 2023. No entanto, no Mundial de Clubes, optou por não veicular nada relacionado a isso nos estádios ou nas redes sociais.
A única vez que exibiu a frase “sem racismo” durante o torneio foi em 18 de junho, no Dia Internacional contra o Discurso de Ódio. No geral, a Fifa divulga apenas o material com o slogan “Football Unites the World” (Futebol Une o Mundo, em português).

Ao levar em consideração que o Mundial é “evento teste” para a Copa do Mundo de 2026 — como a instituição definiu –, há a preocupação em relação ao discurso a ser adotado na competição de seleções. Além dos EUA, Canadá e México serão sedes.
— Se houver uma campanha, ela não deve ser diluída. Cabe aos jogadores e aos torcedores reagirem se sentirem que a campanha não foi difundida o suficiente. Ano que vem, eles têm outra oportunidade de fazer isso — destacou Howard.
Isso vai de encontro a algo que o ex-jogador ressaltou ser primordial na luta contra o racismo: a expansão do conceito. “Nunca há um momento em que não devemos amplificar a mensagem. Se há uma campanha importante, ela deve ser importante sempre, em todos os lugares”.
A premissa é a mesma defendida por grupos ligados ao futebol ao redor do mundo. A Kick It Out, órgão do Reino Unido focado na antidiscriminação no esporte, disse ao “The Athletic” que pediu à Fifa para reconsiderar a decisão.
Evan Whitfield, presidente do grupo Human Rights Soccer Alliance (HRSA) — com ex-jogadores, ONGs, advogados e organizações de futebol de base dos EUA –, comentou ao jornal a importância de disseminar a campanha antirracismo e antidiscriminação do modo mais direto possível.
— A mensagem básica de ‘futebol une o mundo' não consegue transmitir isso com clareza suficiente. Se a Fifa consegue ter uma mensagem forte na Rússia, no Catar, na Austrália e na Nova Zelândia, o mesmo deve se aplicar aos Estados Unidos — afirmou.
O site questionou a Fifa se a situação política com o governo Trump nos Estados Unidos foi determinante na escolha da Fifa de não exibir a campanha nos mesmos moldes feitos em competições anteriores. A entidade reforçou o estatuto, que aponta neutralidade em assuntos políticos, e reforçou “tolerância zero” em casos de racismo e discriminação.