A história inacreditável de Amr Fahmy, o líder dos ultras do Al Ahly que encabeçou revoluções
Amr Fahmy fundou os Ahlawy e esteve na linha de frente da Primavera Árabe, enquanto também vinha de uma família influente de dirigentes e lutou contra a corrupção nos corredores da CAF

Não importa quantas taças o Al Ahly tenha conquistado em sua história (e são tantas que o clube precisou até ampliar seu museu recentemente para abrigar todas), o maior orgulho dos Diabos Vermelhos está em sua torcida. Não se trata “apenas” daquela que é avaliada como a maior massa de torcedores do mundo. Tal identidade se concentra também na paixão inquebrantável, no espetáculo recorrente nas arquibancadas, na ligação com a história do Egito que está desde os primórdios da agremiação. O Al Ahly surgiu para ser uma bandeira nacional dentro de um ambiente imperialista britânico no início do Século XX, e seguiu com a mesma força através das décadas para integrar outras lutas, incluindo a derrubada de um ditador. Dentro desse contexto, um personagem incrível é Amr Fahmy, um revolucionário do futebol em diferentes frentes.
Fundador dos Ahlawy, o principal grupo de ultras dos Diabos Vermelhos, Fahmy teve uma “dupla identidade”: era o líder nas arquibancadas, ao mesmo tempo em que trabalhava no alto escalão da CAF – a Confederação Africana de Futebol. Fez ecoar a paixão pelo Al Ahly ao redor do mundo, encabeçou manifestações na Primavera Árabe, lutou por justiça após o Massacre de Port Said e derrubou o presidente corrupto da CAF. Uma pena que tenha falecido com apenas 36 anos, vítima de um câncer no cérebro, às vésperas de se candidatar para a própria presidência da confederação continental. Sua história, porém, estará sempre viva através dos torcedores do Al Ahly e dos ultras ao redor do mundo que continuam prestando tributo mesmo quase dois anos depois de seu falecimento.
O sobrenome “Fahmy” é de suma importância ao futebol africano. Mourad Fahmy defendeu o Al Ahly como jogador nos tempos de amadorismo. Após pendurar as chuteiras, tornou-se comandante da seleção do Egito entre 1955 e 1958. Neste período, consagrou-se como o primeiro treinador campeão da Copa Africana de Nações, em 1957. Já em 1961, assumiu como secretário-geral da CAF e manteve-se no cargo por 21 anos. O filho Mustapha seguiu os mesmos passos. Trabalhou como secretário-geral da CAF por quase três décadas, de 1982 a 2010, antes de se tornar diretor de competições da Fifa. E a família influente abriu caminhos para Amr, neto de Mourad e filho de Mustapha.
Saindo de uma família rica, Amr Fahmy teve a oportunidade de realizar uma excelente formação. O jovem passou um tempo na Itália, onde estudou em Milão. Também fez cursos de especialização na Inglaterra, inclusive um mestrado oferecido pela Fifa em “gerenciamento, lei e humanidades do esporte” em Leicester. Neste tempo na Europa, Amr Fahmy mergulhou na cultura de arquibancada. Era fascinado pelos ultras, especialmente do Milan, e pela forma como conduziam a festa nas arquibancadas do San Siro. Também absorveu bastante da vivência dos ingleses nos estádios e da maneira como eles transportavam sua paixão para o dia a dia.
De volta ao Cairo, Amr Fahmy quis adaptar esse contexto ao Al Ahly. Os Diabos Vermelhos contavam com uma das torcidas mais numerosas e apaixonadas do mundo, mas isso não se transformava em um movimento organizado nas arquibancadas. Assim, os Ultras Ahlawy surgiram em 2007. A intenção com os uniformizados era liderar as festas no Estádio Internacional do Cairo, com cânticos e coreografias, assim como acompanhar o time em suas viagens ao redor da África. No entanto, num contexto de ditadura no Egito, os ultras também formavam uma instituição que não era bem vista aos olhos do regime. Os embates com a polícia logo se tornaram comuns, numa repressão que se direcionava não necessariamente a uma postura violenta dos Ahlawy, mas sim à maneira como eles conferiam uma “linha de frente” contra a ditadura.
Amr Fahmy era o porta-voz e o principal líder dos Ahlawy, mas costumava agir incógnito. Ele adotava o nome de guerra “Assad” nas arquibancadas, enquanto costumava esconder sua face com chapéus e óculos escuros. A questão não era apenas dificultar a identificação da polícia, diante do claro risco de perseguição, mas conseguir transitar por dois mundos tão diferentes. Por ser de uma família tão importante para o futebol africano, Fahmy logo seguiu o legado na CAF e se tornou um alto funcionário da entidade, sediada também no Cairo. O dirigente durante os dias da semana tornava-se o “capo” dos ultras aos finais de semana.
A atuação de Fahmy entre os Ahlawy era bastante ampla. O líder dos ultras elaborava bandeirões e coreografias, que logo tornaram o Al Ahly respeitadíssimo no mundo das torcidas. Também compunha parte dos cânticos, que não falavam apenas sobre futebol, mas também clamavam por liberdade e batiam de frente com a ditadura de Mubarak. Fahmy costumava puxar os ultras nas arquibancadas do Estádio Nacional do Cairo, sendo um dos maestros na curva norte – aquele cara que ficava de costas para o gramado em muitos momentos, a fim de coordenar a festa. E não deixava de ter uma postura solidária. Fahmy muitas vezes tirava do próprio bolso para bancar viagens de torcedores mais pobres. Antes das partidas, ficava com seu carro parado nos arredores do estádio para vender CD's com as músicas dos Ahlawy, com o lucro revertido a hospitais infantis.
“Nós nos encontramos toda semana e planejamos o próximo jogo juntos. Quanto precisamos de pirotecnia? Quanto material para a coreografia? Quem não pagou a mensalidade? Mas não temos um lugar fixo de reunião – isso teria tornado muito fácil para a polícia agir contra nós no passado”, afirmaria Fahmy, em entrevista à revista 11 Freunde, em 2011. “Nosso clube tem um claro passado nacionalista. Fomos o primeiro clube totalmente egípcio durante o período colonial inglês e a revolução de 1919 contra os britânicos foi liderada por Saad Zaghlul – que mais tarde se tornou presidente do Al Ahly. Mas, como grupo, somos apolíticos. Temos comunistas e liberais, anarquistas ou islamistas em nossas fileiras. Apenas simpatizantes de Mubarak não serão encontrados aqui”.
Fahmy era o que se pode chamar de “líder natural”, segundo as palavras do jornalista James Montague, que conviveu com ele por anos nas arquibancadas do Estádio Nacional do Cairo. “Ele tinha a habilidade de se conectar com as pessoas de diferentes realidades, religiões e classes, algo bastante raro no Egito. E trouxe uma inteligência feroz, sagacidade, carisma e, mais importante, um sentimento de pertencimento à curva”, definia o premiado autor do livro ‘1302: entre os ultras'. A partir da liderança de Fahmy, os Ahlawy passaram de poucas centenas de pessoas em seus primeiros dias a dezenas de milhares, chegando a quase 40 mil em jogos importantes do Al Ahly. Uniam gente de diferentes contextos e visões. E isso não se restringia apenas ao Egito, com alianças realizadas com torcidas da África e até da Europa.
Se a princípio os ultras costumavam ser ignorados pela ditadura de Hosni Mubarak, vistos apenas como um projeto de hooligans, com o passar do tempo eles geravam mais preocupação nos círculos do regime. Era um movimento amplo e altamente organizado, que se contrapunha às estruturas do poder e à autoridade estabelecida. Num país em crise política e econômica, tornavam-se pólvora. Assim, a repressão aos ultras cresceu com o passar dos anos – algo que acontecia também com os organizados do Zamalek. Entre humilhações e brigas, os ultras criaram uma casca e não tinham medo de bater de frente, inclusive do ponto de vista ideológico, com críticas cada vez mais presentes em cânticos e faixas.
“O conceito completo de qualquer organização independente não existia – nada de sindicatos, partidos políticos, nada era organizado. E então começamos a organizar os ultras. Era apenas esporte de início. Mas para eles [o regime] era juventude, em grande número. Pessoas muito inteligentes que poderiam se mobilizar rapidamente. Quanto mais eles tentavam colocar pressão sobre nós, mais crescíamos no status cult. Os ultras nos ensinaram a expor nossos pensamentos”, definiria Amr Fahmy, em conversa com James Montague.
Em janeiro de 2011, a população egípcia iniciou amplos protestos contra a repressão policial no país, em meio à convulsão social que tomava outros países na chamada Primavera Árabe. A Praça Tahrir se tornou o epicentro do movimento no Cairo. A ideia dos ultras, tanto de Al Ahly quanto de Zamalek, era a de comparecer individualmente e sem as cores de seus clubes para integrar a mobilização. Porém, quando a repressão se iniciou, era natural que os torcedores unissem suas forças para enfrentar os ataques. Numa ditadura de liberdades mínimas, eram eles que detinham a experiência de enfrentar cassetetes e bombas de gás.
“Quando dizem que os Ahlawy tiveram um papel mais importante na revolução que qualquer partido político, isso é uma verdade parcial, porque a afirmação parte de um ponto errado: no Egito de Mubarak, os partidos além do Partido Democrático Nacional só existiam no papel. Parecia uma democracia para o Ocidente, mas a realidade era diferente e provavelmente todo mundo percebeu agora. Durante a revolução, nós ultras éramos como todos os outros jovens egípcios nas ruas – com a diferença que éramos organizados. Esta é também a razão pela qual, durante a ditadura de Mubarak, éramos praticamente o único grupo de oposição real formado por jovens egípcios que realmente existia”, analisaria Fahmy, à revista 11 Freunde.
Os ultras de Al Ahly e Zamalek costumavam fazer cordões para proteger os manifestantes, assim como combatiam a polícia. Logo seus cânticos passaram a ecoar no movimento e as bandeiras tremulavam. “Normalmente os jogos são controlados pela polícia. Muitas vezes os policiais apareciam de repente na frente de nossas portas, na véspera do jogo, e nos jogavam na prisão. A polícia nos tratava como lixo. […] Não queríamos ser mártires, mas os ultras são diferentes de muitos outros jovens egípcios raivosos: não temos medo da polícia, porque não somos novos em lidar com cassetetes e gás lacrimogêneo. Isso sem mencionar que estávamos na linha de frente quando as pessoas lutavam nas ruas”, dizia Fahmy.
“Agimos nas brigas nas ruas mais como nos confrontos nos estádios: cercamos os policiais enquanto eles tiravam seus cassetetes. E você pode acreditar em mim que tínhamos muita experiência com policiais nos espancando nos últimos anos. Foi uma guerra e nós vencemos. […] Jovens torcedores organizados sempre foram uma pedra no sapato do regime de Mubarak. A cultura de torcedor, especialmente dos ultras, foi reprimida no Egito por décadas, e somos um povo louco por futebol. Mubarak queria escravos humildes, mas o país finalmente se opôs a isso”, complementava Fahmy, à 11 Freunde.
E a atuação dos ultras não se restringiu a peitar a repressão. Um episódio bastante célebre aconteceu no Museu Egípcio. Vândalos tentaram se aproveitar da instabilidade e saquear peças históricas do local. Os Ahlawy estavam lá para impedir o assalto e proteger o patrimônio nacional. “Todo egípcio sabe da importância do museu e todos nós queríamos evitar que alguns idiotas se aproveitassem do caos e destruíssem o passado egípcio. Conseguimos isso, embora nenhum policial tenha aparecido em todo o tempo”, contou Fahmy, à 11 Freunde.
Durante a Primavera Árabe no Egito, centenas de torcedores ficaram feridos e dois membros dos Ahlawy faleceram. Porém, a força daquelas manifestações resultou na queda de Hosni Mubarak e na realização de eleições democráticas no Egito. Estava claro como os ultras tiveram um papel central na vitória política. Nos jogos do Al Ahly depois da revolução, o clube delegava a segurança do Estádio Internacional do Cairo aos próprios Ahlawy, o que garantia uma sensação de liberdade nunca antes vivida nas arquibancadas.
“É realmente impossível de descrever, foi de tirar o fôlego! Quando jogamos pela Champions Africana em 18 de março e a curva ficou vermelha, com todos cantando, foi a primeira vez que você sentia aquela sensação completa de liberdade. Você podia perceber nos rostos dos torcedores: aqui somos egípcios livres que não mais precisamos temer que uma bala de borracha seja disparada contra a multidão a qualquer momento. Foi mágico”, resumiria Fahmy, à 11 Freunde, sobre a primeira partida do Al Ahly depois da revolução.
No entanto, os rancores contra os Ahlawy seguiram presentes nas forças de segurança do estado mesmo com a democratização do Egito. Pouco mais de um ano depois do início das manifestações na Praça Tahrir, o Al Ahly disputaria uma partida fora de casa contra o Al Masry. As luzes do estádio em Port Said se apagaram e ultras do time da casa atravessaram as arquibancadas para atacar os Ahlawy. Iniciou-se ali uma das batalhas mais sangrentas e covardes já ocorridas no futebol. Ao todo, 72 torcedores do Al Ahly faleceram, seja pelas agressões ou pelos esmagamentos provocados nos túneis, durante a tentativa desesperada de fugir. Algumas pessoas tentaram se refugiar no próprio vestiário dos Diabos Vermelhos e morreram entre os jogadores.
Desde o princípio, estava claro que aquele episódio não se limitava à “violência de baderneiros”. Foi algo premeditado, que posteriormente as investigações provaram. As autoridades facilitaram não apenas a entrada de armas no estádio em Port Said, como também a passagem dos ultras do Al Masry entre um setor e outro das arquibancadas. Da mesma maneira, dificultaram a fuga dos torcedores do Al Ahly encurralados. A partir de então, o mote dos Ahlawy era buscar justiça pelos 74 – os 72 mortos em Port Said e os outros dois nos protestos da Praça Tahrir.
O futebol no Egito acabou suspenso e os Ahlawy tiveram papel importante para impedir a retomada das competições nacionais enquanto a justiça não fosse feita. Ganharam de novo o apoio dos organizados do Zamalek. Enquanto isso, as competições africanas seguiam em frente e o Al Ahly honrou a memória de seus chamados “mártires” com mais dois títulos da Champions League Africana, faturados logo em 2012 e 2013 –conquistas que pareciam inacreditáveis diante de todo o contexto. Alguns jogadores chegaram a anunciar a aposentadoria, como o lendário Mohamed Aboutrika, que segurou um torcedor morto em seus braços, mas voltaram atrás para liderar o reerguimento dos Diabos Vermelhos.
Com as arquibancadas vazias no Cairo, o papel dos Ahlawy era o de prestar assistência às famílias dos mortos. Amr Fahmy se sentia responsável, como fundador dos ultras. Seguia como líder das passeatas por justiça e também passou a visitar os familiares das vítimas, providenciando ajuda financeira. “Eles diziam que tinham orgulho de seus filhos serem amados por tantas pessoas. Todos só nos pediam uma coisa: obtenham justiça”, diria Fahmy, a James Montague. Em janeiro de 2013, 73 pessoas acabaram condenadas pelos crimes em Port Said, 21 delas com pena de morte. Não só ultras do Al Masry foram sentenciados, como também membros do governo e da polícia. Porém, apesar da vitória, nem todas as punições seriam cumpridas e algumas acabaram reduzidas.
Antes que os Ahlawy pudessem voltar integralmente às arquibancadas, o Egito passou por um golpe de estado em julho de 2013, com o início de um novo regime antidemocrático liderado pelos militares. De novo, os ultras viravam alvo de uma polícia repressiva. O movimento passou a ser perseguido pela ditadura, até ser banido pela justiça em 2015, num processo liderado por Mortada Mansour – o presidente do Zamalek e um antigo aliado de Mubarak. Em meio a prisões arbitrárias e outros ataques às suas liberdades, os Ahlawy anunciaram o fim de suas atividades em 2018. Queimaram seus símbolos e deletaram a página no Facebook. O mesmo seria feito, semanas depois, pelos ultras do Zamalek – igualmente banidos por Mansour em motivação política.
A filosofia dos Ahlawy continua viva nas arquibancadas do Al Ahly, porém. Os ultras podem não existir mais como movimento organizado, assim como as coreografias não são tão elaboradas quanto antes. Todavia, a identidade permanece presente e ecoa através da paixão. Os Ahlawy são uma marca nos jogos do Al Ahly, por mais que não estejam uniformizados. Há uma história que fica – uma história política que, afinal, já estava identificada com os Diabos Vermelhos muito antes de 2007, 2011 ou 2012.
Sem os Ahlawy, seus membros seguiram em frente com suas vidas. E a vida de Amr Fahmy ainda estava conectada fortemente com o futebol, através de seu cargo na CAF. Em 2017, ele assumiu um dos postos mais importantes da confederação: assim como o pai e o avô, acabou nomeado como secretário-geral. Tinha apenas 34 anos e parecia capaz de contribuir bastante, não apenas por seu passado familiar, mas também pela vivência de arquibancada única. O intuito de Fahmy era levar para os corredores da CAF os mesmos valores morais que compartilhava no estádio. Sua ideia era modernizar o esporte, estimulando também a transparência e o combate à corrupção. Sem se esquecer, é claro, da importância das arquibancadas.
A maneira como Fahmy agia não agradava muitos dos cartolas veteranos da CAF. Logo ele bateria de frente com Ahmad Ahmad, o presidente da confederação, que ganhou as eleições na esteira do Fifagate. O malgaxe, aliado de Gianni Infantino, ainda assim era tão ou mais corrupto que seu antecessor, o camaronês Issa Hayatou. Quando Fahmy negociava um contrato de material esportivo com a Puma, recebeu ordens de Ahmad para beneficiar uma outra empresa obscura, que pagaria um valor acima do mercado. Suspeitando dos lucros, logo o egípcio descobriu que a companhia era de um amigo do presidente. A partir de então, o secretário-geral passou a reunir provas de corrupção, má gestão e até mesmo assédios cometidos por Ahmad.
Neste momento, Amr Fahmy descobriu um tumor cerebral e iniciou seu tratamento, se afastando temporariamente do envolvimento com a CAF. A quimioterapia deu resultados e o câncer entrou em remissão. Quando retomou seu posto como secretário-geral, Fahmy organizou um dossiê com as denúncias contra Ahmad Ahmad e o enviou à Fifa. Também passou a enviar parte do material reunido para veículos de imprensa, a fim de aumentar a pressão sobre o presidente e não permitir que o caso terminasse em pizza. Enquanto ainda estava sendo investigado, Ahmad demitiu Fahmy sem justificativas plausíveis. O presidente, contudo, não duraria muito no cargo. Seria preso na França e, depois, acabou destituído pela Fifa, antes de ser banido do esporte pelo comitê de ética da entidade por dois anos.
Fahmy anunciou sua candidatura às eleições presidenciais da CAF em dezembro de 2019, antes que o banimento de Ahmad Ahmad fosse confirmado. Teria um ano para se preparar ao pleito, marcado para 2021. “Meu avô foi um dos membros fundadores da CAF e foi secretário-geral, assim como meu pai. Eles serviram ao futebol africano e agora é minha vez de fazer o mesmo, desta vez na cadeira de presidente. Minha campanha se focará em prol da África, em prol do futebol e contra a corrupção”, diria o presidenciável, à BBC.
Bem antes das eleições, porém, o câncer de Amr Fahmy reapareceu, e com mais agressividade. Em 23 de fevereiro de 2020, o egípcio faleceu com apenas 36 anos. Deixou a esposa e uma filha de três meses.
Diante da notícia, Fahmy seria homenageado por diferentes grupos de ultras que conheciam sua história. Sua imagem apareceu nas arquibancadas de vários países, semanas antes do fechamento dos estádios por conta da pandemia. E sua memória continua viva através do Al Ahly, por mais que muitos torcedores apenas se lembrem dele como “Assad”, o rapaz que vendia CD's na porta do estádio e puxava os cânticos nas arquibancadas. O ethos dos Diabos Vermelhos corresponde muito àquilo que Amr Fahmy pensava e vivia. A paixão amplificada pelos Ahlawy ecoará por muitas décadas ainda. E a trajetória de Fahmy é um exemplo a qualquer torcedor, não apenas do maior campeão africano.
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Além de outros livros e textos, este artigo teve como fontes principais a entrevista de Amr Fahmy para a 11 Freunde e um vídeo do excelente Tifo Football roterizado por James Montague. Você pode conferir também a história de Amr Fahmy, em inglês, com outros detalhes.