Regularidade nunca foi o forte das equipes montadas por Zdenek Zeman. Ofensividade é o parâmetro básico de seus times, que costumam marcar muitos gols e sofrer ainda mais. Seus maiores críticos dizem que é por isso que Zeman, de 65 anos (quase 40 como técnico) nunca ganha títulos, enquanto seus admiradores gostam de futebol bem jogado e acreditam que os títulos não chegaram por outras questões. É nesse dilema que a Roma se encontra agora: a equipe teria condições de embalar e brigar pelo título italiano?
Desde janeiro deste ano, a Roma não conseguia vencer três partidas consecutivas. Com a vitória sobre a Fiorentina em uma espetacular partida que terminou em 4 a 2 e revelou a essência do futebol zemaniano e de seus herdeiros – como Vincenzo Montella, técnico viola -, já são quatro jogos seguidos de festa. É quase o mesmo número de vitórias que a equipe tinha até a 14ª rodada: cinco, uma delas, contra o Cagliari, no tapetão.
Quando estava no Pescara, equipe pela qual venceu a Serie B, título mais importante de sua longa carreira, Zeman viveu situação parecida à que vive na Roma. Os abruzzese começaram a competição tropeçando muito, mas começaram a engrenar a partir da metade do torneio e praticamente não pararam de ganhar. O resultado foram 83 pontos ganhos, com 90 gols marcados – o melhor ataque da competição, com incríveis 27 gols a mais que a Reggina, segunda colocada. Hoje a Roma é a quinta colocada, cinco pontos atrás da Inter, vice-líder, e nove atrás da líder, a Juventus. O ataque tem 35 gols e é o melhor da Serie A e a defesa, vazada 26 vezes, é a quarta pior.
Na Itália já tem gente que acha que a equipe giallorossa pode superar até mesmo Napoli e Inter numa eventual briga com a Juventus, justamente porque se a equipe seguir a mesma tendência do Pescara e de outros bons trabalhos do técnico boêmio, este é um momento de ascensão. E, uma vez que Inter e Napoli estão empenhadas na Liga Europa e a Roma tem menos desgastes físicos, poderia aproveitar a brecha. É a tese que defende o comentarista Vincenzo D'Amico, da Rai, o maior canal do país. Curiosamente, D'Amico foi um histórico jogador da Lazio.
Fato é que a Roma cresceu depois de perder o dérbi contra a Lazio, na 12ª jornada, mas muito por ter enfrentado adversários abordáveis, como Torino, Pescara e Siena. Os três estão entre os cinco piores ataques da competição – um dos motivos para que a defesa romanista tenha sofrido apenas três gols nos últimos quatro jogos -, e Pescara e Siena estão na zona de rebaixamento. O grande resultado veio mesmo contra a ótima Fiorentina e, no sábado, a Roma desempenhou o melhor futebol da sua campanha. Muito por causa da partida espetacular de Totti.
Sob o comando de Zeman, ainda na década de 90, Totti começou a ser aquilo que é hoje: capitão, ídolo e artilheiro. Com 22 anos era o jovem capitão da equipe do técnico tcheco, em 1997-98, e começou a jogar mais perto do gol. Na primeira temporada, fez 13 gols e chegou a ser cogitado para jogar na Copa de 1998, mesmo sem ter estreado na seleção italiana. 14 anos depois, com 36 primaveras completas, Totti é o terceiro maior artilheiro da história da Serie A, com 221 gols, quatro a menos que Gunnar Nordahl, ex-Milan. Como o capitão da Roma está voltando a jogar o seu melhor desde que Zeman retornou a Trigoria, rapidamente irá superar o sueco. Na última temporada, sob o comando de Luis Enrique, Totti jogou 27 partidas e marcou apenas 8 gols. Com o novo/velho comandante, tem quase a mesma quantidade: 6, mas apenas com 15 participações.
Ao passo que Totti ainda é o ponto de referência desta Roma, Zeman tem outros trunfos na manga. Se Lamela e Osvaldo, implacáveis no início da temporada, praticamente pararam de fazer gols (o primeiro não faz um desde o dérbi), Destro voltou a jogar bem, como no Siena, e desencantou.
A grande vitória zemaniana é, porém, no meio-campo. De Rossi foi barrado pelo treinador e agora, com o maior salário da equipe e de todo o campeonato, é opção no banco. Quem tomou seu lugar foi o grego Tachtsidis, de 21 anos. Ele não tem feito grandes jogos, mas tem dado um balanço tático interessante ao meio-campo, já que Florenzi (titular no lugar de Pjanic, mais um barrado) tem feito grandes jogos subindo e descendo de uma área a outra, e Bradley é o mastim destruidor de jogadas. Justamente a antiga função de De Rossi, que não estava bem jogando ao lado do norte-americano. Mesmo no banco, o vice-capitão da equipe não reclama, uma prova de que a gestão de vestiário do boêmio também é excelente. Falta, porém, encontrar um goleiro titular, já que Stekelenburg está indo mal, Lobont está lesionado e Goicoechea não convenceu. Pode ser um dos objetivos dos romanos no mercado de janeiro.
Que Zeman é um especialista em tirar leite de pedra de equipes menores já sabemos. Foi o que aconteceu com o Pescara da Serie B ou o seu “Foggia dos milagres”, no início dos anos 90, e mesmo com o fraco Lecce que ele fez escapar do rebaixamento e, ao mesmo tempo, ter o melhor ataque da Serie A, em 2004-05. Quando teve chances em equipes maiores, os resultados foram mais modestos – destacam-se um vice-campeonato e um terceiro posto com a Lazio, entre 1994 e 1996. Atualmente, em fase de renovação, a Roma, uma grande, oferece a Zeman o mesmo que os times menores: perspectiva e menos pressão por resultados imediatos. Foi assim que ele brilhou e pode voltar a surpreender. É a sua última chance na carreira.
Pallonetto
– A Juventus tirou o pé do acelerador depois da intensa partida contra o Shakhtar Donetsk, pela Liga dos Campeões, na quarta. A equipe jogou bem abaixo da média contra o Palermo, mas venceu por 1 a 0.
– Impressiona a obsessão de Andrea Stramaccioni com as jogadas ensaiadas. Foi a partir de uma cobrança de escanteio bastante atípica e ensaiada pelo treinador que a Inter começou a construir a importante vitória sobre o Napoli, que fez a equipe ultrapassar os azzurri e retomarem a vice-liderança.
– O Milan continua jogando sem brilhantismo, mas vai se aproximando da zona de classificação às competições continentais. Desta vez, a equipe venceu o Torino fora de casa, por 4 a 2, e contou com grande ajuda do goleiro Gillet, que falhou em três gols. A nota negativa foi a lesão de De Jong, que não joga mais na temporada.
– Um dos episódios mais curiosos da rodada aconteceu na segunda, na partida entre Sampdoria e Udinese: apenas um torcedor da equipe de Údine viajou para assistir a partida em Gênova. Saiu feliz, afinal a Udinese venceu por 2 a 0.
– Seleção Trivela da 16ª rodada: Sorrentino (Chievo); De Sciglio (Milan), Ranocchia (Inter), Barzagli (Juventus), Peluso (Atalanta); Bradley (Roma), Bjarnason (Pescara), Guarín (Inter); Totti (Roma), Bergessio (Catania), Di Natale (Udinese). Técnico: Zdenek Zeman (Roma).