Serie A
Tendência

Serie A italiana estuda acabar com exclusividade na venda de direitos de transmissão

Com base na experiência na Serie B italiana, a Serie A estuda não ter mais venda de direitos exclusivos, algo que é também orientado por agências reguladoras

A discussão sobre os direitos de TV serem exclusivos é algo que existe em todo grande evento e na Itália esse é um tópico muito falado no momento. A Lega Serie A, entidade que dirige a primeira divisão italiana, discute acabar com a exclusividade na venda dos direitos de transmissão para o próximo ciclo, com o objetivo de aumentar as receitas.

Segundo informado pela Reppublica Affari & Finanza, a Serie A quer fazer um ciclo de três ou de cinco anos para direitos de transmissão e a Serie B da própria Itália, que tomou esse rumo. A segunda divisão não permitiu exclusividade nos direitos de transmissão para o ciclo 2021 a 2024 e estabeleceu um preço para as partes interessadas.

A ideia foi um sucesso: DAZN, Sky Sports e Helbiz compraram os direitos para transmissão na Itália e praticamente dobraram o valor recebido, que foi de € 26,7 milhões para € 50 milhões e com três empresas transmitindo.

Atualmente, a transmissão da Serie A em território italiano é exclusiva da DAZN. Os direitos de transmissão sofreram uma queda de valor, que foi de € 973 milhões no ciclo anterior para € 927,5 milhões atualmente, também afetado pela pandemia de COVID-19. O serviço de streaming é detentora exclusiva dos direitos de transmissão e foi muito criticado no início das transmissões por problemas técnicos.

Um outro fator que influencia é a agência reguladora e autoridade italiana da indústria da comunicação, AgCom. A agência especificou que as partidas devem ser transmitidas para o máximo de operadores possíveis, garantindo assim uma pluralidade de propostas e reduzindo a média de preço.

Lição para o Brasil?

A discussão é interessante e deve chegar em outras ligas pelo mundo e é bom que seja discutida no Brasil também. No futebol brasileiro, a exclusividade fez com que os direitos de transmissão aumentassem significativamente, chegando a cerca de R$ 1,2 bilhão por ano atualmente, em todas as plataformas (TV aberta, fechada e PPV).

Um nodo modelo pode e deve ser discutido, especialmente porque os direitos atuais só vão até o próximo ano, 2024. Será preciso discutir um novo contrato a partir de 2025, idealmente assinada ainda neste ano de 2023 e no mais tardar 2024. Com a divisão dos clubes atualmente em duas ligas, Forte Futebol e Libra, será preciso encontrar um caminho.

Discutir não ter exclusividade e abrir espaço para que mais empresas comprem pode ser interessante, ainda mais porque a Globo, atual detentora exclusiva dos direitos do Campeonato Brasileiro, mudou a sua estratégia recentemente e abriu mão de exclusividade em outros direitos.

A Copa do Mundo foi um: em 2022, ela abriu mão dos direitos de transmissão pela internet na renegociação com a Fifa para baixar o preço. Com isso, a Fifa teve liberdade para negociar esses direitos no Brasil. Não conseguiu e acabou achando um acordo com o streamer Casimiro, que transmitiu no Youtube e Twitch. Os números foram excelentes, porém deixaram mais dúvidas em relação a valer a pena comprar, porque rentabilizar é muito difícil nos atuais preços de direitos de transmissão. Nenhuma empresa de mídia se animou muito para comprar esses direitos para o próximo ciclo.

A Globo ainda abriu mão de mais exclusividade para 2026: outras empresas poderão transmitir a Copa do Mundo, se assim quiserem e se entrarem em acordo com a Fifa. Resta saber se haverá interessados para isso. Mas a exclusividade já não existe mais. Se Band, ESPN, DAZN ou qualquer outra empresa quiser transmitir a Copa 2026 no Brasil, poderá fazer isso, desde que pague para a Fifa (e não é barato).

A questão da agência reguladora italiana também é interessante, porque é óbvio que se os direitos de transmissão forem mais distribuídos, eles tendem a ser mais baratos ao torcedor, já que a concorrência tende a baixar o preço dos serviços, enquanto a exclusividade faz o caminho contrário: com uma emissora tendo direitos exclusivos, ela basicamente cobra o quanto quiser.

Com o aumento exponencial dos direitos de transmissão esportivas pelo mundo, se tornou muito difícil encontrar interessados em alguns torneios. O fim da exclusividade pode ser um caminho, especialmente onde há muitos interessados, como a Serie A para o mercado italiano. E como é o Campeonato Brasileiro no Brasil. Resta saber se os dirigentes conseguirão discutir coisas importantes como essa ou irão continuar se matando porque alguns querem contar like de Instagram como métrica para receber mais dinheiro.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
Botão Voltar ao topo