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Quando Garrincha quase trocou o alvinegro do Botafogo pelo da Juventus

Seria o maior negócio da história até então. O craque da última Copa do Mundo chegaria a um poderoso esquadrão da Itália, então dominante no cenário europeu. Na edição desta sexta-feira, o jornal O Globo relembra a história ocorrida há exatamente 50 anos: o periódico noticiava em 5 de setembro de 1964 que a Juventus estava próxima de contratar Garrincha. Uma transferência que certamente seria histórica, mas que ficou apenas gravada em pedaços de papel.

O interesse da Juventus por Garrincha era bem anterior àquele rumor. A primeira vez que os italianos tentaram contratar o craque foi em 1962, durante a Copa do Mundo. O craque foi recomendado por Paulo Amaral, preparador físico da Seleção no Mundial de 1958 que tinha ido exercer a função na Velha Senhora. O carioca, que já tinha trabalhado com o ponta no Botafogo, também ajudou a convencer a comissão técnica brasileira que seus dribles não eram uma forma de debochar do adversário e que poderia ser um jogador importante no elenco.

Então executivo da Juve, Giampiero Boniperti foi enviado ao Chile durante o Mundial. O ídolo juventino chegou a afirmar que Umberto Agnelli, dono da Fiat e presidente do clube, estava disposto a ir a extremos na contratação de Garrincha. Os italianos ofereceram 500 milhões, além de 165 milhões por Amarildo. A dupla também era almejada pela Roma, que tinha mandado representantes à Copa do Mundo.

Garrincha foi a grande estrela do bicampeonato mundial do Brasil, eleito o melhor jogador do torneio. E, semanas depois, Paulo Amaral foi anunciado como treinador da Juventus, aumentando as investidas sobre o craque. Boniperti chegou a afirmar: “Um atacante da categoria de Garrincha é necessário a qualquer time. Eu o vi jogar nas duas últimas Copas do Mundo e sei quanto vale tê-lo em uma equipe”. Com a redução no limite de jogadores estrangeiros na Itália, Mané passou a ser o alvo único dos bianconeri.

Entretanto, o Botafogo mantinha-se firme em segurar o seu craque. E, sem que o negócio acontecesse em 1962, Boniperti voltou a negociar com Garrincha no ano seguinte.  Em uma excursão dos alvinegros pela Europa, o italiano foi a Paris conversar com dirigentes cariocas. Aproveitava o recuo da Internazionale, que praticamente tinha fechado a transferência por 700 mil cruzeiros, mas voltou atrás por não conseguir vender seus estrangeiros por um bom preço. Durante a mesma época, o Milan também oferecia uma fortuna ao Santos por Pelé.

Na volta do Botafogo ao Brasil, dirigentes da Juventus e da Internazionale permaneceram observando Garrincha. O problema é que ambos os clubes pediam um abatimento no valor pedido pelo craque. Os alvinegros chegaram a reduzir a pedida para 490 milhões cruzeiros, mas os italianos não cobriram a oferta. Naquela temporada, quem acabou rumando à Itália foi mesmo Amarildo, negociado com o Milan como alternativa a Pelé. Entretanto, o dinheiro da venda foi insuficiente para que o Botafogo contratasse Vavá, pedido do técnico Danilo.

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Em 1964, a renovação das investidas, como O Globo noticiava na imagem acima. Outra vez, nada feito. Mané já vivia o seu declínio com a camisa alvinegra, enfrentando problemas físicos. No ano seguinte, a última investida da Juve oferecia ainda mais pelo craque, mas pedia garantias sobre as condições de jogo. Sem negócio com os italianos, o ostracismo do camisa 7 começava a partir da transferência para o Corinthians em 1966, onde jogou pouco.

Não dá para prever qual seria o sucesso de Garrincha na Serie A. Porém, pela repercussão internacional que o atacante tinha, certamente seria um negócio de grande impacto. Mané, um dos maiores gênios da história do futebol, talvez fosse ainda mais lembrado pelos europeus disputando a Serie A e a Copa dos Campeões, em uma época na qual a Juventus tentava correr atrás dos esquadrões de Inter e Milan. Para sorte dos brasileiros, sobretudo dos botafoguenses, o craque seguiu no país, para encantar ainda mais com seus dribles.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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