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Papu Gómez: “Nós, jogadores, somos como uma manada, mas gosto de seguir meu próprio caminho”

Alejandro “Papu” Gómez cada vez mais eleva seu personagem no futebol. Seja por lances de pura habilidade, gols e assistências em campo pela Atalanta ou quando se senta para uma entrevista mais aprofundada. Desta vez, em conversa com a revista argentina Enganche, o destaque do time de Bérgamo falou de tudo um pouco: sua trajetória na Dea, a importância da força mental no esporte, seu desejo de representar a seleção argentina e seu jeito próprio de conduzir a carreira.

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Ponderando sobre o papel do jogador de futebol na sociedade, Gómez diz enxergar sua classe profissional toda seguindo basicamente o mesmo caminho, algo com que ele não consegue se relacionar.

“Sinto-me um pouco diferente (do restante dos jogadores). Sempre fui espontâneo e tratei de seguir meu próprio caminho, sem copiar o restante e sem seguir as modas. Nunca gostei de copiar. É verdade que nós, jogadores, somos como uma manada, vamos imitando uns aos outros. Temos uma espécie de caminho estabelecido, em que temos que mirar certos clubes e determinados contratos. Comigo, não tive a oportunidade de ir a um clube de topo, ainda que tenha estado próximo. Mas a vida neste esporte te dá segundas chances, e essa Atalanta é essa segunda chance em minha vida, e a estou aproveitando”, analisou.

Dizer que a equipe de Bérgamo mudou a trajetória profissional de Papu Gómez seria insuficiente. Nas próprias palavras do camisa 10, imaginando o que diria a ele mesmo no passado, afirma que a Dea mudou sua vida.

“Eu o parabenizaria. Diria, de verdade, que foi corajoso ao ir ao Catania. Sempre joguei e dei meu máximo. Só reprovaria ter ido para a Ucrânia, onde perdi um ano da minha carreira e apenas ganhei dinheiro (Papu defendeu o Metalist em 2013/14). Isso foi tudo que levei de lá. Nunca se sabe o que teria acontecido. Depois disso, a Atalanta me comprou e mudou minha vida. Sou feliz pelo que está acontecendo comigo.”

Parte da transformação necessariamente passou pelas mãos do técnico Gian Piero Gasperini. Na entrevista ao Enganche, Papu recorda como a mudança de posição promovida pelo treinador lhe abriu um novo caminho.

“Quando conheci Gasperini, três ou quatro anos atrás, eu jogava de atacante pela esquerda. A função que eu faço hoje era do Jasmin Kurtic, um esloveno que tem um perfil mais de volante. Ele é um volante, mas tem uma capacidade física enorme e se destacava por isso, além de conectar as linhas. Quando perdemos essa função, o posto ficou vago. Então, um dia, o técnico me disse: ‘Olha, Papu, vejo você para bem para fazer isso. Você terá que correr mais, terá que se adaptar, mas vai tocar mais na bola e vai se juntar aos volantes e aos atacantes. Vamos testar’. E então fizemos uma partida contra o Chievo, que foi um divisor. Vencemos por 5 a 1. Dali em diante, fui muito bem, e nos classificamos para a Champions League.”

Infelizmente para Papu, o encontro com Gasperini aconteceu quando o jogador já tinha 28 anos. Tivesse sido mais cedo, teríamos visto um atleta ainda mais completo e renomado.

“Se eu tivesse tido Gasperini quando tinha 24 ou 25 anos, teria crescido muito mais, teria tido outras oportunidades e outro caminho, mas o tive aos 28 anos, e minha cota de sorte chegou aqui”, comenta.

Para Papu, no futebol, é preciso cruzar com as pessoas certas, que serão um gatilho em seu desenvolvimento, em termos de ensinamentos e criação de novos caminhos. Existem, é claro, aqueles jogadores que são exceção.

“Com o passar dos anos, você vai entendendo muitas coisas. Mas há jogadores que são realmente craques e que se dão conta de tudo aos 23 anos. O Paulo Dybala é um desses, por exemplo. Em sua idade, já é dono de sua equipe. Ele assimilou tudo cedo.”

Por falar no conterrâneo, Papu Gómez olha para a seleção argentina e vê ali uma história que faltou ser contada, uma “conta pendente”. Campeão do mundo sub-20 pela Argentina em 2007, ganhou sua primeira convocação com Sampaoli, apenas em 2017, atuando em três amistosos e um jogo das eliminatórias para a Copa do Mundo. Entretanto, no ano seguinte, não foi ao Mundial e tampouco retornou ao esquadrão.

“Nos últimos cinco anos, por meu nível, deveria ter jogado muito mais partidas do que joguei (pela Albiceleste). (…) Nos últimos cinco ou seis anos, a Argentina mudou muito de técnico, e isso complicou as coisas. De todos eles, o único que viu algo em mim foi o Sampaoli, junto com o Scaloni. E eu não posso culpar ninguém por isso, só posso dizer que teria adorado ter outras oportunidades.”

Por clubes, no entanto, sua história é outra, e Gómez fala com orgulho do caminho que escolheu. “Em relação aos clubes, deixei uma marca na maioria deles, e isso é único. Prefiro muito mais isso do que ser só mais um em um clube grande, ter ganhado títulos e não ter ninguém que se lembre de você. Se paro para pensar, no Catania deixamos uma marca. No Arsenal (de Sarandí), também. Na Atalanta, o mesmo. Prefiro isso a ter ido a um clube importante e ter passado despercebido.”

Papu de fato já deixou seu nome na história do clube de Bérgamo, mas a atual temporada reserva ainda a chance de estender o sonho da excelente campanha de estreia na Champions League. A Atalanta está nas quartas de final, enfrentará o PSG em jogo único nesta quarta-feira (12). Economicamente, o argentino sabe que seu time não pode competir com os franceses ou com outros gigantes do continente. Porém, é justamente o autoconhecimento que permitiu à Dea ter, nos últimos anos, objetivos aparentemente acima de seu alcance.

“Sabemos que somos uma equipe de uma cidade de 150 mil habitantes. Não somos o time grande de uma capital. Mas sabemos aonde vamos, o que queremos e como conseguir isso durante todos esses anos. Estamos aqui também por um motivo. Ninguém nos deu nada de presente. Fomos aprendendo ao longo do caminho, desde a primeira partida de Champions, em que levamos quatro gols do Dínamo Zagreb e todos nos criticavam. (…) Do lado econômico, nunca vamos alcançar este nível. A Atalanta é outra história. Porém, futebol é 11 contra 11, e tudo pode acontecer.”

Se tem um clube que mostrou nos últimos anos que, com organização, esforço e, claro, alguma qualidade, é possível se impor em campo, este clube é a Atalanta, e Papu tem orgulho de ter feito parte do salto de patamar. Do início turbulento ao melhor momento na história da agremiação, o argentino viu tudo, e tem motivos para crer em mais belas histórias.

“A Atalanta tem um senso de pertencimento com a cidade, e você se sente parte disso. As pessoas fazem você sentir isso. Antes de eu chegar, o clube lutava apenas para se salvar do rebaixamento, e todos eram igualmente felizes. Mas nós elevamos o nível, e agora te pedem copas europeias. Eu vi isso. Conseguir isso (a mudança de patamar) não tem preço. Quando cheguei, tivemos 14 partidas sem vencer, e nunca houve uma crítica. Gasperini disse que aqui era uma ‘ilha feliz’. E nós mudamos, os jogadores, o técnico e os dirigentes. Propusemos que isso não aconteceria mais, e não aconteceu. Sempre melhorou”.

NA TV
Atalanta x PSG
Quarta-feira, 12 de agosto, 16h (horário de Brasília)
TNT, Facebook do Esporte Interativo, EI Plus

Foto de Leo Escudeiro

Leo Escudeiro

Apaixonado pela estética em torno do futebol tanto quanto pelo esporte em si. Formado em jornalismo pela Cásper Líbero, com pós-graduação em futebol pela Universidade Trivela (alerta de piada, não temos curso). Respeita o passado do esporte, mas quer é saber do futuro (“interesse eterno pelo futebol moderno!”).
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