Imbatíveis: Há 30 anos, o Milan conquistava um Scudetto que se confirmaria invicto
Dirigido por Fabio Capello a partir daquela temporada, o Milan teve um desempenho arrasador e o protagonismo de Van Basten

Uma conquista invicta numa das principais ligas do mundo sempre é um feito expressivo. Ainda mais quando acontece bem no meio de sua Era de Ouro, como conseguiu o Milan na temporada 1991/92 da Serie A. O esquadrão rossonero hesitou no começo, mas logo afiou a pontaria e levantou o título maior do Calcio atravessando toda a campanha sem sofrer nenhuma derrota e ainda aplicando várias goleadas, alavancadas por um Marco Van Basten em estado de graça. E seu novo comandante, Fabio Capello, rapidamente provou que era muito capaz de manter os milanistas no caminho das grandes glórias, no qual o clube havia sido recolocado por seu antecessor, Arrigo Sacchi.
Um novato no comando
Nas quatro temporadas em que esteve à frente do Milan em sua primeira passagem pelo clube, entre 1987 e 1991, o técnico Arrigo Sacchi fez história, conquistando um Scudetto e duas Copas dos Campeões que consagraram um estilo de jogo que revolucionava o Calcio e recolocava em discussão várias ideias num novo contexto. E, sobretudo, resgatava aos rossoneri o protagonismo no cenário doméstico e continental numa década que havia começado com dois rebaixamentos e campanhas apenas medianas.
Porém, a última dessas quatro temporadas – a de 1990/91 – não chegou a ser tão bem-sucedida quanto as que a precederam, em que pese as conquistas, ainda no ano de 1990, da Supercopa Europeia e do Mundial Interclubes. Na Serie A, a equipe não teve pernas para acompanhar uma Sampdoria que se desgarrou na reta final e levou o Scudetto. E na Copa dos Campeões, o sonho do tri terminou de maneira vexatória, eliminado nas quartas de final pelo Olympique de Marselha em jogo conturbado no Vélodrome.
O papelão não foi pelo que se deu dentro de campo: embora os franceses já contassem com um time fortíssimo, os dois jogos foram parelhos. No San Siro, empate em 1 a 1. E na volta, os donos da casa venciam por 1 a 0, gol do ponta inglês Chris Waddle, quando, a dois minutos do fim, os refletores do estádio se apagaram. Quando a luz voltou, o Milan se negou a retornar ao campo para disputar o restante do jogo. Diante disso, a Uefa o declarou perdedor por 3 a 0 e o suspendeu das copas europeias por um ano.
Foi nesse anticlímax, depois de tudo que havia vivido e conquistado em Milão, que Arrigo Sacchi deu adeus ao clube. Em novembro de 1991, ele substituiria Azeglio Vicini no comando da seleção italiana, então já praticamente sem chances nas Eliminatórias para a Eurocopa de 1992 (a União Soviética estava com a única vaga do grupo quase assegurada). Sacchi teria o objetivo de repetir na Azzurra a renovação de práticas e ideias a qual havia submetido os rossoneri. Enquanto isso, a vida seguia em Milanello sob nova direção.
Curiosamente, o novo técnico do Milan era o mesmo que havia deixado o cargo – o qual ocupava interinamente – quando da chegada de Sacchi. Ex-volante de SPAL, Roma, Juventus e do próprio Milan, com participação na Copa do Mundo de 1974 pela Itália, Fabio Capello havia tido carreira vitoriosa como jogador, mas era um treinador cuja experiência em equipes principais se resumia aos sete jogos em que dirigira os rossoneri como tampão entre abril e julho de 1987, após a saída do veterano sueco Nils Liedholm.
E foi exatamente esse o ponto que os críticos não perdoaram. A alfinetada mais sutil na imprensa dizia que a presença de Fabio Capello no cargo significava uma participação mais direta de Silvio Berlusconi, presidente do clube, na escalação do time. Nem mesmo os colegas treinadores se furtaram a detonar a escolha. Franco Scoglio, técnico da Udinese, chegou a afirmar: “Todas as manhãs me olho no espelho e digo a mim mesmo que Capello é a maior ofensa a toda a categoria. Me envergonho de ser treinador”.
Capello, porém, conhecia o Milan por dentro. Pendurara as chuteiras no clube, o qual defendera entre 1976 e 1980, após vencer a Coppa Italia logo ao chegar, na temporada 1976/77, e participar – pouco, devido a lesões – da conquista do décimo Scudetto milanista, o que garantiu a primeira estrela na camisa, em 1978/79. Também foi no Milan que teve o pontapé inicial como técnico nas categorias de base (após breve estágio na Escócia), lapidando os talentos que emergiriam no clube ao longo da década de 1980.
Em todo caso, Capello inicialmente tratou de não mexer muito na estrutura da equipe deixada por Arrigo Sacchi. Afinal, pisava em ovos. Além disso, a própria movimentação de mercado do Milan na pré-temporada indicava que pouco mudaria na escalação titular: a lista de reforços era constituída apenas por jovens que voltavam de empréstimos; jogadores para compor o elenco; e dois novatos estrangeiros logo emprestados, já que não poderiam ser inscritos por conta do limite de três que vigorava na época.
No primeiro caso, estavam o goleiro Francesco Antonioli (Modena), o volante Demetrio Albertini (Padova) e o meia-direita Diego Fuser (Fiorentina). No segundo, o lateral Enzo Gambaro (Parma), o ponta Giovanni Cornacchini (Piacenza) e o experiente atacante Aldo Serena, vindo da rival Inter e que retornava ao clube oito anos após a primeira passagem. Já no terceiro, estavam o armador croata Zvonimir Boban (Dínamo Zagreb) e o atacante brasileiro Élber, de apenas 19 anos, trazido do Londrina e cedido ao Grasshoppers.
Assim, o time titular previsto para o início da temporada era praticamente o mesmo dos últimos tempos da Era Sacchi. No gol estava Sebastiano Rossi, trazido do Cesena em 1990 para a reserva de Andrea Pazzagli, mas que acabou tomando a posição na reta final da temporada e se firmaria após a venda do antigo camisa 1 ao Bologna. Já a defesa preservava a linha de quatro consolidada desde 1989: Mauro Tassotti, Alessandro Costacurta, Franco Baresi e Paolo Maldini, nesta ordem, da direita para a esquerda.
Capello também ensaiou de início manter o meio-campo móvel de Sacchi, com cinco homens no apoio, tendo Carlo Ancelotti e Frank Rijkaard na base, Roberto Donadoni e Alberigo Evani pelos lados direito e esquerdo, respectivamente, e Ruud Gullit pelo meio, no suporte ao único homem de frente, Marco Van Basten. Porém, como havia relaxado um pouco o “pressing” tão marcante no trabalho do antecessor, o novo técnico percebeu pelos primeiros jogos que dessa forma o poderio ofensivo se tornara insuficiente.
A solução foi então incorporar mais um atacante, convertendo o sistema em um mais ortodoxo 4-4-2. Uma mudança feita desde a primeira rodada, porém, foi a efetivação do jovem Demetrio Albertini, a quem Capello conhecia desde a base, no lugar do veterano Ancelotti como um dos volantes ao lado de Frank Rijkaard. De suporte entre meio e ataque, Ruud Gullit passou a jogar aberto pela direita, com Alberigo Evani mantido pela esquerda. E o versátil Roberto Donadoni poderia entrar em qualquer posição.
Na frente, quem ganhou a vaga ao lado de Marco Van Basten – que tinha o desejo de se reabilitar de uma temporada menos prolífica que o de costume em 1990/91, quando anotou somente 11 gols em 31 jogos na Serie A – foi Daniele Massaro, jogador veloz e de movimentação incessante. Este Milan de Capello preservava alguns dos emblemas táticos de Arrigo Sacchi, como a linha de impedimento na defesa, mas de modo geral era nitidamente mais pragmático. E a nova filosofia estaria à prova nos torneios domésticos.
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O panorama do Calcio
O Milan, no entanto, não era o único gigante do trio de ferro da Itália relegado a disputar apenas as competições nacionais naquela temporada. A Juventus, que em 1990/91 havia terminado em sétimo lugar na Serie A após uma desastrosa reta final e caído nas quartas de final da Coppa Italia e nas semifinais da Recopa, também ficara de fora das taças europeias e por isso passara por uma troca de comando: o malfadado Luigi Maifredi, que só durou uma temporada, saiu para o retorno do velho campeão Giovanni Trapattoni.
A volta de Trap a Turim era uma tentativa de recolocar a Vecchia Signora no caminho do Scudetto, o qual o clube não conquistava desde 1985/86, sob seu comando. Teria nas mãos, porém, uma equipe cujo maior astro, Roberto Baggio, era muito contestado: a revista Guerin Sportivo chegou a publicar que entre os planos do clube estavam a venda do meia-atacante de volta à Fiorentina e a contratação do iugoslavo Dejan Savicevic, destaque do Estrela Vermelha na recente conquista da Copa dos Campeões, para seu lugar.
A terceira ponta do trio de ferro, a Internazionale, fazia uma aposta arriscada para a sucessão de Trapattoni: o quase desconhecido Corrado Orrico, apresentado como “a resposta nerazzurra a Arrigo Sacchi”, já que ambos se assemelhavam por terem despontado em clubes da Serie B – a Lucchese, no caso de Orrico – e serem adeptos fervorosos da marcação por zona. Diferentemente de Milan e Juve, a Inter dividiria suas atenções entre as competições domésticas e a Copa da Uefa, da qual era a detentora.
Quem também seria colocada à prova nesse quesito de brigar em várias frentes era a Sampdoria, que tentaria revalidar seu Scudetto ao mesmo tempo em que estrearia na principal competição europeia de clubes, a qual, naquele ano, havia incorporado uma fase de grupos, aumentando seu calendário em duas datas. Parma, Genoa e um renascido Torino, sensações de 1990/91, também buscariam provar que não eram times de uma temporada só. Já ao Napoli, restaria mostrar que havia vida sem Diego Maradona.
Ainda no bloco intermediário, a Roma de Ottavio Bianchi contava com uma equipe forte, mas que precisava enfrentar sua própria inconstância. A rival Lazio, por sua vez, ainda era um time em fase de amadurecimento sob o comando de Dino Zoff. Já a Fiorentina, na qual o brasileiro Sebastião Lazaroni iniciava sua segunda temporada à frente do time, buscava espantar o marasmo recente. Entre os demais, recomendava-se atenção com o recém-promovido Foggia do tcheco Zdenek Zeman e seu esquema ultraofensivo.
Um atribulado início de caminhada
O fato de a campanha milanista rumo ao Scudetto ter sido concluída sem derrota pode levar a crer que tenha sido um passeio do início ao fim. O começo, entretanto, esteve longe disso. Por várias vezes o Milan se salvou de empatar ou mesmo perder de maneira dramática. Já a partir da estreia, diante da Ascoli no estádio Cino e Lillo Del Duca no dia 1º de setembro de 1991, em que a vitória por 1 a 0 do time de Fabio Capello só vem graças a um chute de Van Basten que desvia no zagueiro Paolo Benetti.
Contra o Cagliari no San Siro, na segunda rodada, o gol sai logo no primeiro minuto, num pênalti após toque de mão do zagueiro Gianluca Festa, que Van Basten converte. Porém, o Milan não consegue ampliar a vantagem de 1 a 0 obtida logo cedo. O destaque negativo fica por conta do péssimo gramado, que provoca grave lesão no joelho do meia rossoblù Massimiliano Cappioli. Mesmo os mais técnicos jogadores milanistas demonstram dificuldade em dominar a bola num campo cheio de buracos e areia.
O primeiro grande desafio, contra a Juventus no Delle Alpi pela terceira rodada, é um jogo de dois tempos distintos. Muito velozes, os bianconeri dominam o primeiro e abrem a contagem aos 13 minutos num cruzamento de Roberto Baggio para Pierluigi Casiraghi. No segundo, a pressão milanista vai parando em Stefano Tacconi até que, já nos acréscimos, aos 46 minutos, um centro de Albertini desvia na cabeça de Massimo Carrera e morre no fundo das redes, decretando o 1 a 1 e salvando os rossoneri.
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O placar se repete no confronto da quarta rodada, contra a Fiorentina treinada pelo brasileiro Sebastião Lazaroni no San Siro. Um golaço do meia Pietro Maiellaro, encobrindo Rossi num chute de fora da área, coloca a Viola em vantagem. O empate vem de novo no fim: aos 40 da segunda etapa, Van Basten se enrosca na área com o zagueiro Massimiliano Fiondella e o árbitro marca pênalti, expulsando o brasileiro Mazinho por reclamação. O próprio Van Basten bate e decreta o 1 a 1, sob vaias do público.
Sem Donadoni, que deixou o jogo contra os toscanos antes do fim ao fraturar uma costela num choque com Dunga, o Milan recebe em seguida o Genoa. Mas a partida sequer chega ao fim: a forte chuva que alaga não apenas o gramado, como também as demais dependências do San Siro, leva à interrupção do jogo no início do segundo tempo, com o placar de 1 a 0 para os donos da casa, gol de Evani de falta. O confronto é remarcado para 20 de novembro. Até lá, os rossoneri ficam com um jogo a menos.
O balanço do primeiro mês mostra um time ainda um tanto travado, com quatro gols marcados em quatro jogos (sem contar a partida interrompida), sendo dois deles anotados em pênaltis e os outros dois em desvios de adversários contra as próprias redes. O mês de outubro começa com Massaro efetivado como novo titular, evidenciando a opção de Capello por uma formação 4-4-2 mais bem definida. E a escolha começa a dar resultado logo no jogo seguinte, diante da Atalanta em Bérgamo, no dia 6.
O Milan começa em cima e abre o placar logo aos três minutos, num pênalti após toque de mão de Sergio Porrini num escanteio que Van Basten converte, marcando seu terceiro gol no torneio (o terceiro de pênalti). Depois de Gullit ter um gol anulado por falta de ataque ainda no primeiro tempo, Albertini define o 2 a 0 no início da etapa final com um belo chute de curva após um escanteio curto. No fim, Rossi faz pênalti em Carlo Perrone, mas se reabilita pegando a cobrança do brasileiro Careca Bianchezi.
A evolução fica mais nítida no jogo seguinte, diante do Parma no San Siro. Mesmo assim, os gols só saem no segundo tempo. No primeiro, Costacurta lança Gullit na ponta direita, e o holandês invade a área e bate cruzado, rasteiro, sem chance para Taffarel. Mais tarde, Van Basten conclui de cabeça um cruzamento de Albertini e amplia. E poderia ter marcado o terceiro dos rossoneri num pênalti de Taffarel em Ancelotti. Mas é a vez do goleiro brasileiro se redimir e defender a cobrança. E o placar fica mesmo em 2 a 0.
O destaque da partida, aliás, é Ancelotti, que faz ali seu primeiro jogo na última temporada de sua carreira, na qual entraria menos em campo em parte por lesões e em parte por participar do curso de formação de treinadores mantido pela federação italiana em Coverciano. O meia segue no time no 1 a 0 sobre o Bari no San Nicola, placar magro em vista do amplo domínio milanista. Massaro faz o único gol, mas os rossoneri criam várias chances. Além dos dois pontos, fica a sensação de que o time encaixou de vez.
Enfim, deslanchando
A sensação virou certeza diante da Roma, adversário perigoso que até ali havia somado sete pontos em oito jogando fora de casa. E tudo sob o olhar de Arrigo Sacchi, que volta ao San Siro pela primeira vez desde que deixou o clube e assiste ao jogo das tribunas. O time abre o placar aos 30 minutos com Van Basten aproveitando confusão na área. Amplia seis minutos depois numa cabeçada de Massaro. E não diminui o ritmo na etapa final: Rijkaard pega o rebote de um chute de Massaro e faz o terceiro aos 12.
A Roma desconta logo depois com Andrea Carnevale em falha da linha de impedimento milanista. Mas um belíssimo gol de Costacurta, pegando de sem-pulo da intermediária uma rebatida da defesa giallorossa, fecha de maneira esplêndida uma vitória enfática por 4 a 1, que deixa o Milan na liderança isolada com um jogo a menos. O único senão é a expulsão absurda de Van Basten no fim, delatado pelo bandeirinha por uma agressão que não existiu, desmentida pelo próprio “agredido”, o zagueiro Marco de Marchi.
O bom momento segue na visita à Sampdoria no dia 17 de novembro. Detentora do Scudetto, a Samp dirigida pelo iugoslavo Vujadin Boskov vem fazendo campanha decepcionante, mais perto da zona de rebaixamento do que das primeiras posições. E chega pressionada ao confronto com o Milan. Para piorar, no fim do primeiro tempo perde uma chance incrível com Gianluca Vialli, que é lançado nas costas da defesa, dribla Rossi já fora da área e toca para o gol vazio, mas vê Costacurta chegar a tempo de salvar.
Na etapa final, o Milan acaba decidindo a vitória por 2 a 0 em cinco minutos. Aos 20, Van Basten recebe na ponta esquerda e alça para a área. Gullit sobe mais que o goleiro Gianluca Pagliuca e cabeceia para as redes. E aos 25, uma troca de passes entre os holandeses foi novamente transformada em gol por Gullit. No meio da semana, numa brecha do calendário do Genoa (que disputa a Copa da Uefa), enfim acontece o jogo interrompido e adiado da quinta rodada. Mas o Milan vê sua arrancada ser freada.
Dentro do San Siro, o Genoa marca logo aos 12 minutos quando o tchecoslovaco Tomas Skuhravy aproveita a distração na defesa milanista para acertar um belo voleio. Um tanto nervosos, os rossoneri começam a empilhar chances perdidas, a mais clara delas um chute de Rijkaard no travessão, enquanto os visitantes levam perigo em esporádicos contra-ataques. O alívio vem no fim: um pênalti de Vincenzo Torrente em Rijkaard, que Van Basten converte aos 40 minutos do segundo tempo para salvar o 1 a 1.
A máquina de Capello, entretanto, volta a funcionar no primeiro tempo do jogo seguinte, contra a Cremonese no San Siro. O Milan domina amplamente e marca em duas jogadas pelo alto. Primeiro Van Basten desvia uma falta lateral cobrada por Donadoni. Depois Gullit cabeceia um cruzamento encobrindo o goleiro Michelangelo Rampulla. Na etapa final, porém, a Cremonese volta mais perigosa. Desconta antes dos 10 minutos num cochilo da defesa milanista quando Marco Giandebiaggi, sem ser incomodado, escora para as redes um centro da linha de fundo. E leva perigo em alguns contragolpes.
Mas quando o zagueiro Mauro Bonomi é expulso, aos 25 minutos, os grigiorossi enfim entregam os pontos: o terceiro gol milanista vem seis minutos depois, dos pés de Fuser – que, ironicamente, errou a tentativa de cruzamento da ponta direita, mas viu a bola tomar o caminho das redes. Com a vitória por 3 a 1, o Milan chega aos 19 pontos em 22 possíveis, mantendo a vantagem de dois para a vice-líder Juventus e já começando a se desgarrar dos demais. E dezembro começa com o Derby Della Madonnina logo no dia 1º.
O Milan larga melhor no jogo e reclama de um pênalti de Giuseppe Bergomi em Donadoni. Gullit acerta o travessão numa cabeçada. E aos 18 minutos, o holandês aciona Massaro, que cruza rasteiro para o gol de Van Basten. A Inter assume o controle na etapa final e empata com Jürgen Klinsmann, numa bola mal afastada pela defesa milanista. O Milan ainda perde Baresi, que recebe o segundo cartão amarelo após falta em Stefano Desideri e é expulso de campo. Mas consegue se estabilizar e valoriza o 1 a 1.
O próximo adversário é o Torino, dono da defesa menos vazada do campeonato até ali. Diante dela, o Milan começa sufocando. E abre o placar aos 18 minutos com um gol de joelho de Gullit, após cruzamento de Evani da esquerda. No início da etapa final, Tassotti cruza da direita, Roberto Cravero não consegue afastar e Massaro cabeceia para as redes, definindo o placar de 2 a 0. No jogo seguinte, diante da surpreendente Lazio comandada por Dino Zoff, que vem num bom quarto lugar, o Milan volta a empatar.
Os laziali, que tiveram um gol do uruguaio Rubén Sosa anulado por impedimento no primeiro tempo, abrem a contagem na etapa final com o alemão Karl-Heinz Riedle, de cabeça, após grande jogada do lateral Raffaele Sergio pela esquerda. O Milan reage rápido e três minutos depois chega ao 1 a 1 definitivo: Gullit lança para a área, Massaro escora de cabeça e Van Basten testa para o gol vazio. Em vez de um ponto perdido, porém, o resultado amplia a vantagem milanista na ponta com a derrota da Juve para a Sampdoria.
Mais goleadas e o título de inverno
O primeiro jogo do ano de 1992 é contra um Napoli que até ali vem reagindo muito bem a sua primeira temporada completa sem Diego Maradona, ocupando uma ótima terceira colocação a quatro pontos dos milanistas, além de invicto fora de casa. Mas quando Maldini marca de cabeça logo aos 30 segundos, é a senha para o desmoronamento dos partenopei dirigidos por Claudio Ranieri. Uma bela troca de passes após uma bola recuperada na intermediária napolitana termina no segundo gol, marcado por Rijkaard.
Antes do fim do primeiro tempo, Massaro marca o terceiro, novamente pelo alto. Na etapa final, Donadoni amplia em jogada individual. E Van Basten, numa jogada ensaiada de escanteio, fecha a goleada em 5 a 0. No fim, o time perde Costacurta expulso ao cortar um lançamento com a mão. Além dele, Tassotti e Albertini levam o terceiro cartão amarelo e ficam suspensos para o jogo seguinte, contra o Verona no estádio Marc’Antonio Bentegodi. Mas tudo isso é só uma nota de rodapé no massacre rossonero.
Apesar da vitória por 1 a 0, a partida contra o Verona se torna uma espécie de anticlímax, marcada pela arbitragem muito contestada pelos donos da casa, que protestam contra o escanteio que resultou no tento rossonero – anotado num desvio do ex-milanista Andrea Icardi contra a própria meta após chute de Ancelotti – e também contra um gol legal de Alessandro Renica anulado por impedimento inexistente (Baresi dava condição de jogo). Após a partida houve confusão entre torcedores nas imediações do estádio.
No fim das contas, o resultado dá ao Milan o título simbólico de campeão de inverno com uma rodada de antecipação, graças ao empate da Juventus com o Cagliari em 1 a 1 na Sardenha. Para não deixar dúvidas de sua superioridade até ali, a equipe vence também o último jogo do turno contra o ousado Foggia de Zdenek Zeman por 3 a 1 no San Siro. Van Basten anota uma tripleta (com dois gols de pênalti e um após passe de Gullit em contragolpe) e os visitantes marcam o seu com o russo Igor Shalimov.
Um dos pênaltis convertidos pelo centroavante holandês é sofrido pelo atacante Marco Simone, que entra bem durante o jogo e ganha pontos com Capello, passando a figurar numa frequência maior até mesmo entre os titulares. Como acontece já na partida seguinte, na estreia do returno diante da lanterna Ascoli no San Siro, suprindo o desfalque de Van Basten. E Simone faz por merecer a chance: na goleada por 4 a 1, marca um gol e dá uma assistência, sofre um pênalti não marcado e tem uma cabeçada salva em cima da linha.
Seu tento é o de abertura do placar, logo aos seis minutos. Aos 35, Maldini desvia um chute de Albertini e marca o segundo. Ainda na primeira etapa, cada lado acerta o travessão uma vez em cobranças de falta: a Ascoli com o argentino Pedro Troglio e o Milan com Donadoni. Os visitantes descontam no início da etapa final com Fiorenzo D’Ainzara. Mas Rijkaard recebe de Gullit na área e amplia novamente. E oito minutos depois, aos 24, Simone faz ótima jogada pela esquerda e serve a Albertini para marcar o quarto.
O placar poderia ter sido ainda mais elástico: Serena, que entra no lugar de Massaro, acerta o travessão em sua primeira jogada. E minutos depois, é derrubado na área por Massimo Piscedda. Sem Van Basten, é Baresi quem se prontifica a cobrar a penalidade. Mas pega muito embaixo da bola e acaba isolando a cobrança, de modo muito semelhante com o que faria contra o Brasil na final da Copa do Mundo de 1994. Mas não faz mal. Com a derrota da Juventus para a Fiorentina, o Milan abre cinco pontos na liderança.
Van Basten volta ao time na rodada seguinte contra o Cagliari na Sardenha e repete sua tripleta, enquanto os rossoneri, por sua vez, repetem o placar de 4 a 1 da partida anterior. O jogo, porém, é difícil no primeiro tempo: os sardos abrem o placar com Pierpaolo Bisoli e perdem ótima chance de ampliar em jogada do uruguaio Enzo Francescoli. Mas na volta do intervalo, a reação milanista é fulminante, com o holandês marcando ao desviar uma cobrança de falta; ao aproveitar uma bola escorada por Gullit; e num pênalti.
No fim, Massaro ainda marca o quarto e fecha a goleada após uma falta lateral batida para a área. O Milan já chega aos 40 gols marcados em 19 jogos, tendo sofrido apenas 10 – disparado o ataque mais positivo do campeonato e agora também a defesa menos vazada, com um gol a menos que Juventus e Torino. Os rossoneri ainda assistem aos perseguidores se distanciarem: além dos cinco pontos de vantagem sobre a Juve, estão sete à frente do Napoli, terceiro, e 11 acima de Lazio, Parma e Inter, que vêm a seguir.
Empates repetidos
Essa ampla vantagem, porém, se desfaz um pouco nos três jogos seguintes, quando o Milan troca as goleadas pelos empates. Primeiro, 1 a 1 com a Juventus no San Siro. Em seguida, dois 0 a 0 fora de casa contra Fiorentina e Genoa. No duelo do líder com a vice-líder, os rossoneri saem na frente logo aos quatro minutos com Van Basten concluindo um cruzamento de Evani. Mas ainda na etapa inicial, aos 26, os bianconeri empatam num belo gol de sem-pulo de Pierluigi Casiraghi após passe de Roberto Galia.
O Milan pressiona, acerta a trave com Massaro e perde inúmeras chances, mas ao fim tem de se contentar com o empate. Nos dois jogos seguintes, em Florença e Gênova, há pouco a destacar. Curiosamente, os rossoneri voltam a perder pontos contra três adversários com quem já tinham empatado no primeiro turno. Mas com a chegada de março, o time volta a vencer, batendo a Atalanta no San Siro por 3 a 1 no dia 1º num jogo tenso em alguns momentos e que teve em Van Basten seu grande personagem.
No meio da semana que antecede ao jogo, o atacante se envolve numa confusão com jogadores do Torino no empate em 1 a 1 entre as duas equipes pela partida de volta das quartas de final da Coppa Italia, sendo substituído ainda no primeiro tempo. Já a partida contra a Atalanta no San Siro evoca lembranças não muito boas aos rossoneri: na temporada anterior, a Dea havia sido a última equipe a bater o Milan em seu estádio – 1 a 0, gol de Evair, num jogo que acabou minando as chances de Scudetto milanista.
E a história parece se repetir, quando, aos oito minutos, Careca Bianchezi – o substituto de Evair, por quem foi trocado pela Dea com o Palmeiras – fura a linha de impedimento milanista, dribla Rossi e toca para as redes. Com raiva, o Milan vai para cima e sufoca a Atalanta. Aos 32, o árbitro deixa passar um pênalti de Giuseppe Minaudo em Van Basten, mas dois minutos depois assinala outro, de Tebaldo Bigliardi, no mesmo jogador. O próprio holandês bate e empata. É o pontapé inicial de uma virada relâmpago.
Mais dois minutos e o Milan passa à frente no placar: Van Basten recebe de Gullit e chuta com veneno, fazendo a bola quicar no gramado e encobrir o goleiro Fabrizio Ferron. E, de novo apenas dois minutos depois, vem o terceiro gol, com Van Basten desarmando Bigliardi na saída de bola da Atalanta e chutando forte entre Ferron e a trave para espantar de vez o fantasma: 3 a 1. É a terceira tripleta do atacante em seus últimos cinco jogos pela Serie A – nos quais fez dez dos 11 gols marcados pela equipe.
Van Basten passa em branco no jogo seguinte, mas o Milan conta com seu elenco para bater um Parma que não perdia em seu estádio Ennio Tardini há 14 jogos pela Serie A, somando-se a temporada anterior. Os Crociati até saem na frente com um gol de Alessandro Melli e descem ao intervalo em vantagem. Mas na volta, com Simone no lugar de Massaro, o Milan dá a volta no jogo e no resultado. O atacante que entra marca duas vezes, e um gol contra do belga Georges Grün completa o placar de 3 a 1.
Contra o Bari no San Siro, dois belíssimos gols – um em cada tempo – dão a vitória por 2 a 0. Na etapa inicial, Simone emenda de primeira um lançamento de Rijkaard. E na final, uma primorosa cobrança de falta de Van Basten define o placar. Porém, diante da Roma na capital, a equipe tem atuação irregular. Bem na etapa inicial quando abre o placar com Simone. Mal e pressionado na final, quando Andrea Carnevale entra no lugar do capitão Giuseppe Giannini e serve a Ruggiero Rizzitelli para decretar o 1 a 1.
A ex-campeã destronada
Um passo importante na direção do Scudetto, no entanto, vem na rodada seguinte, a 27ª, no dia 5 de abril. Os rossoneri recebem uma Sampdoria em recuperação, invicta há 15 jogos e que saltou do 14º para o quinto lugar. Simultaneamente, acontece em Turim o Derby della Mole. Melhor em campo desde o início, o Milan acerta o travessão com Donadoni e enfim abre o placar aos 34 num chutaço de fora da área de Rijkaard. Do outro lado, Roberto Mancini perde chance incrível para empatar. Sinal de que o dia é milanista.
No segundo tempo, os rossoneri são avassaladores. Aos nove minutos, Evani pega uma bola mal rebatida pela defesa e chuta da entrada da área para ampliar. Reclamando de uma suposta falta de Costacurta em Mancini na origem da jogada, o meia Srečko Katanec aplaude ironicamente o árbitro e é expulso, piorando as coisas para a atual detentora do Scudetto. Fica difícil suportar o massacre: oito minutos depois, Van Basten marca o terceiro para o Milan ao pegar o rebote de uma bola que acertou o travessão.
O time de Capello não diminui o ritmo nem sob a chuva intensa que cai sobre o San Siro: aos 37, Donadoni faz bela jogada pelo lado direito da área e entrega para Massaro anotar o quarto. A Sampdoria desconta dois minutos depois com Gianluca Vialli. Mas a nota final ainda é milanista, com um chute de fora da área de Albertini para superar Gianluca Pagliuca pela quinta vez e fechar a goleada em 5 a 1. Enquanto isso, em Turim, dois gols do brasileiro Casagrande para o Torino afundam a Juventus no derby.
O Milan abre seis pontos de vantagem faltando sete rodadas para o fim do campeonato, levando a imprensa por toda a Itália a comentar que o título já está decidido. A distância, porém, diminui em um ponto na rodada seguinte, quando a equipe fica no 1 a 1 na visita à Cremonese num jogo de tempos distintos. No primeiro, sai o gol milanista, num chute de Massaro que Mauro Bonomi desvia contra a própria meta. No segundo, um belo chute de Agostino Iacobelli decreta o empate para os donos da casa.
Os rossoneri ainda reclamam de um gol de Donadoni anulado por impedimento duvidoso, mas não há tempo para lamentar. Ainda mais porque, dois dias depois, o time sofre sua única derrota na temporada ao cair diante da Juventus por 1 a 0 no Delle Alpi no jogo da volta das semifinais da Coppa Italia, gol de Salvatore Schillaci, resultado que decreta sua eliminação na competição, após o 0 a 0 na ida no San Siro. Agora, o foco no campeonato é total. Pela frente, nada menos que o Derby della Madonnina.
O Milan tem um desfalque certo sofrido nos treinos durante a semana: Rossi, com lesão no joelho direito, desfalcará o time naquela partida e nas três seguintes. O jovem Antonioli entra em seu posto sob as traves. A rival, por sua parte, lamenta a ausência de seu maestro do meio-campo, o alemão Lothar Matthäus, que rompeu os ligamentos do mesmo joelho direito e ficará de fora por sete meses (o que o fará perder inclusive a Eurocopa com o Nationalelf). O zagueiro Riccardo Ferri, suspenso, também é baixa.
O clássico é muito disputado, sem predomínio de nenhum dos lados. Nem mesmo quando o meia interista Stefano Desideri é expulso, ao receber o segundo cartão amarelo aos 40 minutos da etapa inicial, o Milan consegue destravar a partida. Quando o confronto parecia destinado a um empate sem gols, os rossoneri marcam: Fuser, que entrara no lugar de Albertini, recebe na direita e cruza para a cabeçada inapelável de Massaro: 1 a 0. Com o empate da Juventus diante da Roma, a diferença volta a seis pontos.
O Torino, que havia colaborado com a causa milanista três rodadas antes, agora tenta atrapalhar a caminhada no confronto entre os dois clubes no Delle Alpi. Fica duas vezes à frente do placar graças a um gol de Casagrande e outro em que a bola resvala em Ancelotti. Mas em ambas as ocasiões o Milan busca o empate, primeiro com Massaro e depois com Fuser. Prevalece o empate em 2 a 2. A quatro jogos do fim, a vantagem cai de novo para cinco pontos. Mas o clima já é de contagem regressiva para o Scudetto.
A reta final
E o título fica praticamente garantido na rodada seguinte, quando o Milan recebe e vence a Lazio por 2 a 0. No primeiro gol, Maldini faz grande jogada pela esquerda e cruza. Van Basten faz o corta-luz e Massaro finaliza. O segundo vem em jogada individual de Fuser, que havia entrado no lugar do centroavante holandês. Com o empate sem gols da Juventus diante da Sampdoria em casa, a diferença volta a seis pontos faltando apenas três jogos. Basta um ponto ao Milan, ou um tropeço da Vecchia Signora.
E os dois acontecem no domingo, 10 de maio de 1992. No estádio San Paolo lotado, os rossoneri saem na frente do Napoli com um gol de Rijkaard coroando uma bela triangulação. Criam ainda outras chances claras, como uma bola na trave após cabeçada de Van Basten, e chegam a perder um pênalti com Van Basten parando na defesa de Giovanni Galli. O Napoli empata com o francês Laurent Blanc de cabeça num escanteio, decretando o 1 a 1. Mas o ponto ganho garante o 12º título italiano ao Milan.
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No Ennio Tardini, a Juventus tampouco faz sua obrigação, ficando no 0 a 0 com o Parma. A festa do Milan é incontestável: seis pontos à frente do segundo colocado, 12 à frente do terceiro. Uma campanha que começou com resultados apertados termina com ares de banho de bola, podendo se dar ao luxo de poupar titulares, como Rossi (recuperado de lesão) e Gullit, que começam no banco no jogo do título contra o Napoli. E as duas últimas partidas, com o Scudetto já assegurado, só reforçam essa sensação.
Primeiro, diante do já rebaixado Verona, no San Siro, uma tranquila goleada por 4 a 0. Van Basten abre o placar cobrando pênalti sofrido por Maldini. Gullit batendo de canhota da entrada da área amplia no início da etapa final. Mais tarde, o holandês dá lugar a Ancelotti, que faz o último jogo de sua carreira no estádio pela Serie A. E são dele os dois últimos gols: um num chute de fora da área após passe de Rijkaard e outro, um minuto depois, tomando a bola da defesa logo na saída e batendo para fechar o placar.
A última parada seria a visita ao Foggia, a sensação da temporada entre os pequenos e dono do segundo melhor ataque do campeonato, atrás apenas do próprio Milan. Mas são os visitantes que saem na frente, com Maldini cabeceando um cruzamento de Gullit. A equipe de Zdenek Zeman está disposta a pregar uma peça e reage no fim do primeiro tempo: após grande jogada individual de Francesco Baiano, Giuseppe Signori empata. Dois minutos depois, é o próprio Baiano que marca, tirando do alcance de Rossi.
Com a virada, o Milan vai para o intervalo ameaçado de perder no último jogo sua invencibilidade de um campeonato inteiro. O time, porém, faz questão de entrar para a história do melhor modo possível. E o segundo tempo é um passeio. Os rossoneri balançam as redes nada menos que sete vezes em 40 minutos: Gullit aos dois, Van Basten aos sete, Salvatore Matrecano contra aos 14, Simone aos 27 e aos 29, Van Basten aos 37 e Fuser aos 42, pouco antes de o campo ser tomado por torcedores milanistas em êxtase.
O jogo é encerrado antes do fim com o surreal placar de 8 a 2 para o Milan, que se confirma como campeão italiano invicto, o primeiro da história da Serie A (o Perugia de 1978/79 havia terminado sem derrotas, mas tendo de se contentar com o segundo lugar, ironicamente atrás do Milan). Um feito que não era alcançado no Campeonato Italiano desde a conquista do Genoa em 1922/23, no tempo em que a disputa ainda era regionalizada e dividida em várias fases. E que carrega uma batelada de números expressivos.
Nas 34 partidas, os rossoneri obtêm 22 vitórias e 12 empates, sendo 14 vitórias e três empates como mandante e oito vitórias e nove empates como visitante. Somam ao todo 56 pontos (o que dá um aproveitamento de 82,35%), ficando oito à frente da vice-campeã Juventus e 13 à frente do Torino, que ultrapassa o Napoli e pega a terceira colocação nas rodadas finais. O ataque é, de longe, o mais positivo, com 74 gols marcados. Já a defesa é a segunda menos vazada: 21 gols sofridos (só um a mais que o Toro).
Também é expressiva a marca de Van Basten, artilheiro do campeonato com 25 gols, cifra que não se via na Serie A desde a temporada 1965/66, quando o brasileiro Luís Vinícius balançou as redes pelo mesmo número de vezes defendendo o Lanerossi Vicenza. Mas de todos os envolvidos na conquista, o mais realizado é mesmo Capello, que responde ao ceticismo inicial imprimindo sua assinatura em uma campanha histórica, logo em sua primeira temporada completa à frente de uma equipe profissional.
Na temporada seguinte, a federação italiana mudaria as regras quanto ao número de estrangeiros por clube, permitindo até seis no elenco, mas mantendo o limite de três relacionados por jogo. O Milan monta um superelenco que conquista o bicampeonato italiano com folga, mas o retorno em grande estilo ao cenário europeu – vencendo todas as partidas na Copa dos Campeões no caminho até a final – acaba interrompido na decisão pelo Olympique de Marselha, que outra vez se torna o carrasco dos rossoneri.
A reconquista da Europa ficaria para 1993/94, com goleada de 4 a 0 sobre o Barcelona na final em Atenas. Além dela, o clube completaria o tricampeonato nacional – curiosamente com uma campanha bem mais eficiente do que brilhante, marcando apenas 36 gols em 34 jogos, bastante diferente da volúpia ofensiva de dois anos antes. Após passar em branco a temporada 1994/95, os rossoneri voltariam a conquistar o Scudetto no ano seguinte, mas seria o último com Capello, que seguiria para o Real Madrid.
O treinador ainda retornaria para mais uma temporada com o Milan em 1997/98, mas o cenário no Calcio já havia se modificado totalmente, com o clube em profunda crise técnica (terminaria a Serie A num vexatório décimo lugar) e a Juventus de Marcello Lippi passando a dar as cartas. De todo modo, tanto Capello quanto o esquadrão invencível da campanha de 1991/92 já tinham seus nomes escritos na história dos rossoneri e do futebol italiano com um feito que só seria igualado pela Juve em 2011/12.