Hoje ainda não, Napoli: O Scudetto vai sair, mas o empate da Salernitana adiou a apoteose em Nápoles
O Napoli dependia apenas de si após a vitória da Internazionale e teve a taça nas mãos durante 20 minutos neste domingo, mas o empate cedido para a Salernitana no Estádio Diego Armando Maradona não confirmou a conquista ainda

Poderia ser neste domingo, todo mundo sabia há uma semana. Se o Scudetto do Napoli, depois de 33 anos, era só uma “questão de tempo” faz tempo, as horas começaram a ser contadas de fato desde a vitória sobre a Juventus em Turim. O adiamento do duelo contra a Salernitana fazia os napolitanos dependerem apenas de si no momento em que estivessem em campo. Pouco antes, precisavam torcer por uma vitória da Inter sobre a Lazio e, apesar de certo drama, a virada no San Siro aconteceu. O Estádio Diego Armando Maradona, ornamentado para a festa, celebrou o primeiro passo. Mas ainda não o segundo. Não foi neste domingo que o time de Luciano Spalletti confirmou o título italiano, naquela que seria a maior antecipação da história da liga. Ansioso, o Napoli demorou a abrir o placar e reexibiu alguns problemas de apresentações recentes. A Salernitana foi valente e não queria sucumbir diante dos vizinhos e rivais regionais. Guillermo Ochoa acumulou boas defesas e Boulaye Dia assinou uma pintura no fim. O empate por 1 a 1 esfriou as arquibancadas em Nápoles e adiou a catarse, com a expectativa pela glória que se arrastará mais um pouco – mas que, pela enorme vantagem, logo deve se confirmar.
Nápoles está decorada à espera do Scudetto há meses. Foi um processo gradual, em que as homenagens a Maradona passaram a se misturar cada vez mais a artes em reverência aos atuais heróis. Com o título cada vez mais próximo, a espera pela confirmação se escancarou. E a vitória sobre a Juventus na rodada anterior se transformou numa contagem regressiva. Nada continha a empolgação para o jogo deste domingo. Uma combinação de resultados ainda era necessária. E o Estádio Diego Armando Maradona já lotado, à espera do pontapé inicial contra a Salernitana, comemorou efusivamente os gols da Internazionale – que, afinal, fazia os napolitanos dependerem só de um triunfo simples para celebrar a taça.
The moment the stadium PA revealed the result from Milano…?#NapoliSalernitana pic.twitter.com/dSXSRSXHCZ
— Lega Serie A (@SerieA_EN) April 30, 2023
Luciano Spalletti escalou o time praticamente completo. Apenas Mário Rui, lesionado, foi ausência dentre os virtuais titulares. De resto, os nomes principais: Alex Meret, Giovanni Di Lorenzo, Kim Min-jae, Amir Rrahmani, Mathías Olivera; Piotr Zielinski, Stanislav Lobotka, André Frank Zambo Anguissa; Hirving Lozano, Victor Osimhen, Khvicha Kvaratskhelia. Força máxima para tirar a ansiedade da frente.
E não demorou para que o Napoli partisse para cima, na tentativa de encerrar essa espera. Aos dois minutos, num grande avanço de Lozano, Osimhen concluiu de cabeça para fora. Os celestes tinham muita agressividade nas suas investidas, indo para cima e tentando penetrar na área. Mantinham a posse de bola, mas com a aceleração característica do time nas melhores partidas da campanha. Só não durou tanto. A Salernitana se prova um oponente mais competente nas últimas rodadas. Conseguiu fechar bem os espaços e logo esfriar o ímpeto dos anfitriões.
À medida que o tempo passava, o Napoli ficava mais tenso. Não conseguia concluir as jogadas, um pouquinho atrasado na hora de encher o pé nas finalizações. Foi só numa bola parada que o time voltou a assustar, aos 23. Também esbarrou em Guillermo Ochoa, que realizou uma defesaça para rebater a cabeçada de Osimhen. Logo depois, no escanteio, Di Lorenzo também desviou de cabeça para fora. A Salernitana até conseguiu uma escapada em contragolpe que não ameaçaria tanto Meret. O jogo era do outro lado, com abafa dos napolitanos, mas ainda sem alguma maneira de destrancar o zero no placar.
Com o passar do tempo, o Napoli pareceu até mais disposto a cadenciar e a rodar os passes em busca do momento certo para abrir o placar. O nível de atenção da Salernitana era alto e a criação dos celestes não oferecia as jogadas mais inventivas. Lozano foi travado dentro da área, antes que Anguissa mandasse uma sapatada de longe 42, rebatida por Ochoa. Mesmo Kvaratskhelia, quando conseguia emendar um ou dois dribles, não tinha continuidade. O primeiro tempo terminou com 80% de posse de bola para os napolitanos, além de oito finalizações contra só uma dos visitantes. Faltava o gol, aquele que provocaria o êxtase.
A volta para o segundo tempo viu o Napoli mais disposto a arriscar. Tentava mais as trocas de posição e as infiltrações, além de finalizar mais. A blitz aumentava. Osimhen puxou para fora da área e Anguissa entrou para a batida, mas foi travado. Depois, Kvaratskhelia tentou um lance individual como tão característico e bateu por cima. A Salernitana era mera coadjuvante na tarde, empenhada em se fechar, com raríssimos avanços ao campo de ataque. A história esperada era o gol napolitano que não vinha, e Zielinski foi ousado quando emendou uma bicicleta que saiu por cima do travessão. As primeiras mudanças vieram aos 15, com Luciano Spalletti deixando o time mais ofensivo: Lozano e Zielinski deram espaço a Giacomo Raspadori e Eljif Elmas.
Se não vinha com brilhantismo, sairia na raça. O gol do Napoli finalmente pintou no placar aos 17 minutos, a partir de um escanteio cobrado por Raspadori. E o tento seria exatamente daquele que era o único “intruso” no time titular, Mathías Olivera. O lateral uruguaio prevaleceu pelo alto mandou a cabeçada para baixo, longe do alcance de Ochoa. O San Paolo entrava ainda mais em clima de festa. Ninguém se contentaria só com um. Neste momento, o Scudetto se pintava de celeste.
A pressão do Napoli se tornava contínua, à medida que a Salernitana também concedia mais espaços. Quase Elmas anotou um golaço, quando fez uma fila tremenda na marcação e chutou cruzado para fora. Os grenás, porém, ainda queriam jogo. A entrada de Krzysztof Piatek foi importante para que o time ganhasse mais presença ofensiva, embora os napolitanos ainda fossem mais perigosos. Os protagonistas da campanha tentavam marcar o segundo – mesmo que o momento mais recente não seja o melhor de ambos. Osimhen testou de longe, para a rebatida de Ochoa sem muitos problemas. Kvaratskhelia testou o chute cruzado e a bola saiu ao lado da trave.
E numa Salernitana que não pretendia ser uma mera convidada na festa dos vizinhos, o empate congelou os milhares de presentes nas arquibancadas. Foi uma jogadaça de Boulaye Dia. O atacante aplicou uma caneta em Osimhen e partiu em diagonal, rumo à área. A finalização também saiu com muita qualidade, fugindo do alcance de Meret. O relógio já chegava aos 39 e não sobrava muito tempo para o Napoli tentar evitar a decepção momentânea no Estádio Diego Armando Maradona.
A pressa do Napoli, obviamente, se tornou muito maior. A equipe voltou a forçar e quase anotou o segundo aos 42. Kvaratskhelia teve a bola do título e bateu no alto da meta, mas Ochoa espalmou. A insistência dos napolitanos era enorme. Gio Simeone e Tanguy Ndombélé foram as últimas cartadas para encontrar o gol nesses minutos finais. Não que a Salernitana se fechasse, esboçando até uma virada numa bola aérea que saiu sem direção. Já nos acréscimos, os últimos suspiros dos anfitriões. Gio Simeone pôde girar um chute na área, mas Ochoa conseguiu abafar a batida e desviar para escanteio. Na cobrança, Rrahmani cabeceou e Ochoa pegou com segurança. O tempo adicional seria ainda alongado e os partenopei tentavam de qualquer maneira achar um chute salvador. Não aconteceu. Não era para ser nesse domingo. Mas não que cancele totalmente a festa em Nápoles.
O Napoli fecha a rodada com 79 pontos. O time até aumenta sua vantagem na liderança para 18 pontos sobre a Lazio, com mais 18 pontos em disputa, mas a confirmação não é matemática – até porque a Juventus pode reduzir a diferença para 17 pontos na sequência da rodada, mesmo que isso não represente uma ameaça tão grande. Vai acontecer, é fato, o lamento fica só por não ser hoje. Talvez na quinta, mas fora de casa, em visita à Udinese. Já a Salernitana faz muito bem sua parte para fugir dos riscos de descenso. Com 34 pontos, abre sete em relação ao Z-3, no 14° lugar. Paulo Sousa consegue um grande feito.