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Essencial na conquista do Scudetto 2021/22, Paolo Maldini deixa a diretoria do Milan após conflito com proprietários

Maldini foi uma figura central na montagem do Milan campeão e desejava mais investimentos no elenco, o que gerou atritos com seus superiores

O Milan começará a próxima temporada sob nova direção. Nesta terça-feira, o clube confirmou a saída de Paolo Maldini do cargo de diretor técnico. A lenda do clube havia entrado em rota de colisão com os proprietários, especialmente durante uma reunião de planejamento realizada nesta segunda-feira, com a presença do dono Gerry Cardinale. Durante as últimas horas, aumentaram os rumores de que ele seria demitido, até o adeus se oficializar. Maldini sai de cena em circunstâncias frustrantes, depois de uma temporada na qual a equipe ficou abaixo de seu potencial, mas teve clara importância na montagem do elenco que garantiu o Scudetto em 2021/22. Independentemente da última temporada insatisfatória, a saída de Maldini parece desconsiderar sua importância ao clube e ao processo recente.

Segundo a imprensa italiana, Maldini e a Red Bird, proprietária do Milan, não estavam de acordo em relação à postura do clube no mercado de transferências. O diretor técnico desejava investimentos maiores e uma atitude mais agressiva no mercado, em busca de jogadores renomados. Também solicitou o aumento da folha salarial para o plantel. A Red Bird, entretanto, preferia direcionar seu dinheiro a apostas futuras que pudessem se valorizar nos rossoneri e gerar lucro com revendas. Diante do entrave, a continuidade do dirigente se sugeria inviável e o rompimento de seu contrato acabou antecipado. Pesa o poder de decisão da Red Bird sobre o clube.

A saída de Maldini gerou ruído dentro do elenco do Milan. Parte dos jogadores não recebeu bem a notícia, diante da importância do diretor na montagem do grupo e também sua relação positiva com astros da equipe. Tal decisão deixa dúvidas também sobre a maneira como a torcida lidará com a notícia, não só pelo simbolismo do craque, mas também porque ele pedia justamente um investimento maior. É ver como a organização interna se dará, depois de uma temporada em que os resultados ficaram aquém das expectativas – mesmo com a conquista da vaga na próxima Champions League.

A princípio, Maldini não será substituído em seu cargo. As atribuições do veterano serão divididas entre Geoffrey Moncada, chefe do departamento de observação, e Giorgio Furlani, o chefe-executivo. Quem também fica na berlinda é Frederic Massara, diretor esportivo dos milanistas e principal aliado de Maldini em seu trabalho nos bastidores do clube. Stefano Pioli continuará no cargo de técnico, com o apoio dos atuais proprietários para um trabalho de longo prazo.

Maldini havia retornado ao Milan em 2018, primeiro para ocupar o cargo de diretor de desenvolvimento. Posteriormente, o ex-defensor se tornou diretor técnico. Maldini era uma figura de relevo sob a gestão do Elliott Management e teve participação direta na construção do elenco. A lenda auxiliou na negociação de vários reforços e ajudou na elaboração de um time competitivo, mesmo bastante jovem. Mike Maignan, Rafael Leão, Fikayo Tomori, Sandro Tonali e Theo Hernández estavam entre os principais acertos do clube, mesclados com figurões como Olivier Giroud e Zlatan Ibrahimovic. Parte deles admitiu publicamente que as conversas iniciais com um ídolo como Maldini foi essencial na assinatura.

Num momento de reconstrução financeira do Milan, Maldini auxiliou os níveis esportivos aumentarem. Também foi importante para bancar a permanência de Stefano Pioli, especialmente quando Ralf Rangnick estava prestes a desembarcar em Milão numa aposta dos antigos proprietários. O ápice do trabalho aconteceu com o Scudetto em 2021/22. Dá para dizer que o sucesso veio mesmo antes do projetado pelo clube, pela forma como muitos jovens jogadores lideraram a campanha. Maldini se fazia presente também nos treinamentos, para dar conselhos aos jogadores, e foi muito festejado nas cerimônias pelo título.

Com a saída do Elliott Management e a chegada da Red Bird como proprietária do Milan, o futuro de Maldini dentro do clube ficou incerto. Os novos donos demoraram a negociar a renovação de contrato do diretor técnico no início da atual temporada e somente de última hora confirmaram sua permanência, assim como de Massara. O problema é que o atraso na solução impactou no mercado de transferências. O Milan teve uma atuação letárgica em busca de novos reforços e não conseguiu potencializar a força do time campeão. Além do mais, algumas apostas realizadas por Maldini e Massara foram totalmente frustrantes.

Assim, o Milan passou longe de competir pelo bicampeonato italiano. A temporada na Serie A ainda garantiu vaga no G-4, mas sem brigar pelo título com o Napoli. Já a campanha até as semifinais da Champions League foi positiva, só que a inoperância diante da Internazionale nas semifinais também gerou uma cobrança extra – e queixas públicas de Maldini sobre a necessidade de investimento. Entre a falta de acordo entre as ideias de Maldini e da Red Bird, o diretor técnico é que vai precisar buscar um novo rumo. Deixa, de qualquer forma, um troféu a mais para sua vitoriosa trajetória em Milanello. Não se nega a importância que teve na conquista de 2021/22.

A tendência agora é que o Milan confie num trabalho maior de prospecção e aposta em jogadores menos cotados no mercado, que se valorizem no clube. Se for um processo bem feito, existe uma chance de sucesso aos rossoneri. Entretanto, tal estratégia também parece distanciar um pouco os milanistas do protagonismo almejado sob as ordens de Maldini. Não que o time fizesse negócios tão bombásticos quanto no passado, mas ainda exibia certa ambição. Diante da redução de investimentos, talvez o processo para que o clube retorne ao topo se torne ainda mais demorado.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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