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Depois de longos anos em alto nível nas grandes ligas, Dzeko será a estrela do Fenerbahçe no Campeonato Turco

Dzeko seguia como um nome importante da Internazionale e desembarca no Fenerbahçe como nova referência no ataque

O Campeonato Turco costuma ser um paraíso aos medalhões. Os clubes do país não medem esforços para contratar estrelas em fim de carreira, com altos salários e lampejos de seu ápice. Edin Dzeko chega numa idade até mais avançada que o costume para os times da Süper Lig. Porém, aos 37 anos, o bósnio justificava seu espaço na Internazionale e mantinha o bom nível não apenas na Serie A, como também na Champions League. Nesta quinta-feira, o Fenerbahçe aproveitou o fim do contrato do centroavante para anunciá-lo como seu novo reforço. É uma excelente adição aos Canários em busca do fim de seu jejum na liga nacional, que completará dez anos ao final da próxima temporada.

Dzeko assinou contrato com o Fenerbahçe por dois anos. Em teoria, seguirá na ativa em Istambul até completar 39 anos. O salário estimado em €4,2 milhões por ano é relativamente alto e poucos clubes estariam interessados a oferecer para o veterano, sobretudo nas principais ligas da Europa. Por outro lado, as últimas temporadas do bósnio indicam que ele pode compensar o alto valor. É um jogador bastante compromissado e que sempre deixou sua marca em seus clubes, bem como na seleção.

Dzeko encerra uma trajetória de 16 anos nas principais ligas da Europa. O centroavante surgiu nas categorias de base do Zeljeznicar, mas ainda cedo foi vendido ao Teplice, da República Tcheca. Foi por lá que se tornou profissional e que passou a acumular seus gols na primeira divisão, chamando atenção do Wolfsburg. Tinha 21 anos quando os Lobos se dispuseram a pagar €4 milhões pela promessa. Não se arrependeram, pela importância histórica de Dzeko na Volkswagen Arena. A dupla formada ao lado de Grafite é uma das mais efetivas da história da Bundesliga. O atacante vivia o início de seu auge, com a conquista da Salva de Prata em 2008/09 e também da artilharia do Campeonato Alemão em 2009/10. Colocava-se a partir de então entre os melhores da Europa.

O Manchester City desembolsou €37 milhões para contratar Dzeko. O bósnio não conseguiu ser exatamente um protagonista no Estádio Etihad. Por outro lado, se colocou como uma figura importante nas primeiras conquistas da era emiratense dos Citizens. Não teria a estatura de Sergio Agüero, mas anotou 14 gols na campanha do título da Premier League em 2011/12. Começou voando naquela temporada, com quatro tentos nos 5 a 1 sobre o Tottenham e mais dois nos 6 a 1 sobre o Manchester United. Mesmo que tenha caído de produção depois, virou um trunfo na manga de Roberto Mancini durante a rodada final contra o QPR e, saindo do banco, garantiu o empate nos acréscimos do segundo tempo, antes de Agüero assinalar o tento mais famoso do fim do jejum.

Dzeko permaneceu quatro temporadas e meia em Manchester. Anotou 72 gols e deu 38 assistências em 189 partidas pelo City, bons números. Garantiu ainda mais 16 tentos na campanha do novo título na Premier League em 2013/14. Aquele era um momento especial à sua carreira também na seleção, ao liderar a inédita classificação da Bósnia para a Copa do Mundo, presente no Brasil em 2014. Contudo, sem corresponder totalmente à megalomania do City, o centroavante seria cedido à Roma. A partir de então, criou uma relação muito forte na Serie A. Pode ter sido mais vitorioso na Alemanha e na Inglaterra, mas passou a maior parte de sua trajetória profissional na Itália.

Foram seis temporadas de Dzeko como a principal referência ofensiva da Roma. O centroavante levou um tempo para engrenar, mas participou da transição na despedida de Francesco Totti e entregou ótimos números ao clube, mesmo sem levar troféus. Chegou a balançar as redes 29 vezes na Serie A 2016/17, quando faturou a artilharia da competição e chegou até a receber uma proposta do Chelsea. Também fez sucesso nas competições continentais, com gols essenciais sobretudo na caminhada até a semifinal da Champions 2017/18. O bósnio foi exatamente um dos carrascos do Barcelona no épico duelo das quartas de final. Foram 119 gols em 260 partidas pela Loba, sempre uma certeza da torcida. O moral era tamanho que, mesmo aos 35 anos, o veterano rumou à Internazionale campeã italiana.

Dzeko ainda teve ótimos números em Milão. Foram 31 gols e 15 assistências em 101 partidas pelo clube. Acabou dando azar ao sair da Roma antes da conquista da Conference e chegando à Inter depois do título na Serie A. Mesmo assim, entregou bastante para que os nerazzurri seguissem competitivos e manteve seu prestígio no comando do ataque independentemente da volta de Lukaku. Deu tempo de ser campeão na Copa da Itália duas vezes e ainda para disputar sua primeira final de Champions. O bósnio não foi o mais brilhante na campanha europeia, mas deixou sua marca especialmente pelo gol no primeiro encontro com o Milan nas semifinais.

Considerando apenas as cinco grandes ligas nacionais, Dzeko contribuiu com 213 gols e 100 assistências por Serie A, Premier League e Bundesliga. São números expressivos. Já nas competições continentais, o centroavante soma 54 gols e 25 assistências em 125 aparições. Foi um dos grandes goleadores do futebol mundial nas duas últimas décadas, por vezes sem o reconhecimento devido, mas com uma lista inegável de sucessos. E tentará viver agora a idolatria da torcida do Fenerbahçe. Chega como um salvador, num clube que possui ambições e vem do título da Copa da Turquia.

Dzeko será o substituto de Enner Valencia, cedido ao Internacional, no comando do ataque. O equatoriano fez uma excelente temporada no Campeonato Turco, mas não se compara ao que o bósnio representa. De certa maneira, o centroavante também é uma resposta aos reforços que o Galatasaray buscou no último ano. Os Leões fizeram transações bem mais midiáticas com as adições de Mauro Icardi, Dries Mertens, Juan Mata, Nicolò Zaniolo e ainda outros que rechearam seu elenco. Terminaram campeões. Dzeko chega como um contraponto e com uma história que fala por si.

Obviamente, o Fenerbahçe precisa montar uma equipe forte. Muitos dos investimentos recentes do clube não se compensaram e uma perda sentida tende a acontecer nos próximos dias, diante do interesse crescente no talentosíssimo Arda Güler, de apenas 18 anos. Todavia, Dzeko pode ser um indicativo até para que outros medalhões desembarquem a Istambul. O bósnio transmite uma sensação positiva ao redor dos Canários. E não que esteja sozinho, com a companhia de Michy Batshuayi como outra alternativa ao comando de ataque do Fener. O desafio agora também é encontrar um técnico que substitua Jorge Jesus.

Em partes, a contratação de Dzeko lembra a chegada de Robin van Persie ao Fenerbahçe. Era um reforço renomado e que vinha de boas temporadas com o Manchester United. Contudo, o histórico de lesões atrapalhou uma sequência melhor do holandês em Istambul, com 36 gols em 87 partidas pelo clube. Por aquilo que é sua carreira recente, Dzeko transmite até mais confiança de que pode vingar no Campeonato Turco. Os próximos meses responderão se ele será mesmo o salvador a colocar o fim na seca da Süper Lig. De quebra, ainda terá a Conference League para melhorar um pouco mais seus números nas competições continentais.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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