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Demme trocou o Leipzig pelo Napoli, uma transferência explicada mais pelo coração do que pela razão

Aos 28 anos, Diego Demme tinha chances razoáveis de marcar seu nome de vez com a camisa do RB Leipzig. O volante vinha usando a braçadeira de capitão dos Touros Vermelhos e ajudou sua equipe a terminar o primeiro turno na liderança da Bundesliga. Porém, peça importante na equipe de Julian Nagelsmann, o meio-campista preferiu deixar a Red Bull Arena nesta janela de transferências. Seu acerto com o Napoli, oficializado no último final de semana, tem mais a ver com o coração do que com meras questões esportivas.

Afinal, soa estranho que Demme troque o líder da Bundesliga para se juntar ao 11° colocado da Serie A. Diante das excelentes perspectivas de crescimento sob as ordens Julian Nagelsmann, o vice-capitão do RB Leipzig preferiu abraçar o momento nebuloso do Napoli, que vem lidando com uma crise em seu elenco. Loucura? Não quando se entende que o pai do jogador é italiano e, de tão fanático pelo clube napolitano, batizou seu filho em homenagem a Diego Maradona. Além do mais, o garoto cresceu acompanhando o Milan e idolatrando Gennaro Gattuso, o atual treinador celeste. A mudança, na realidade, concretiza um sonho ao alemão.

E, diante das circunstâncias, o Napoli se deu bem na transferência. Demme custou €12 milhões ao clube italiano, menos que seu valor de mercado atual – €17 milhões, segundo o Transfermarkt. Aos 28 anos, não é um investimento de longo prazo e muito menos um atleta para se pensar na revenda. Em compensação, Gattuso ganha um jogador no auge, que preferiu realizar o desejo do pai o quanto antes. Questiona-se o momento em que a transação ocorre, bem no meio de uma temporada ótima ao RB Leipzig, quando Demme poderia ser campeão e se valorizar. Compreende-se a relação afetiva que antecipa a saída do volante.

Nascido na cidade alemã de Herford, na Renânia do Norte-Vestfália, Demme cresceu por lá e fez toda a sua carreira em clubes locais. Seus primórdios aconteceram com a camisa do Arminia Bielefeld, onde se profissionalizou, antes de se juntar ao Paderborn em 2012. Foram duas temporadas e meia com os alviazuis, ainda na segunda divisão, antes de abraçar o RB Leipzig na terceirona. Então, o meio-campista seria titular em todo o projeto de ascensão dos Touros Vermelhos à elite.

Demme conquistou dois acessos, sempre como titular do RB Leipzig, e manteve sua posição na primeira divisão da Bundesliga. Na atual temporada, o jogador assumiu a braçadeira após a lesão de Willi Orban e esteve presente em todos os 17 jogos do primeiro turno, titular em 14 deles. Também somou cinco aparições na fase de grupos da Champions. Ao todo, são 214 partidas disputadas desde sua chegada ao clube, 105 delas pela Bundesliga. Apenas Yussuf Poulsen vestiu mais vezes a camisa da agremiação.

Tanto quanto a vontade de Demme, a ótima relação do atleta com o RB Leipzig e o histórico de serviços prestados facilitaram a transferência. Com um ano e meio de contrato a se cumprir, o clube preferiu não fazer jogo duro para segurar o titular do meio-campo e permitiu a transação. Apesar da perda, Nagelsmann continua com ótimas perspectivas no setor. A tendência é que o excelente Amadou Haidara, trazido do Red Bull Salzburg, ganhe mais espaço na cabeça de área ao lado de Konrad Laimer. Além dele, Tyler Adams está recuperado de lesão e se torna outra alternativa para jogar no posto, assim como o rodado Kevin Kampl.

Demme chegou a enfrentar o Napoli com a camisa do RB Leipzig. Durante os 16-avos de final da Liga Europa 2017/18, os Touros Vermelhos avançaram e o volante até usou a braçadeira no jogo de volta, na Red Bull Arena. Na época, ele não escondeu a empolgação ao encarar o clube de seu pai. Segundo o alemão, ele assistiu a quase todos os jogos do Napoli de Maradona em VHS durante sua juventude. O pai adorava apresentar a magia do camisa 10 ao pequeno Diego, por mais que ele tenha se transformado em um volante.

“Meu pai continua orgulhoso de mim e do que faço em campo. Ele não sabia qual meu talento quando escolheu o nome. Acho que misturo um pouco mais as características de Gattuso e Pirlo. Eram meus dois ídolos, por isso via muitos jogos do Milan”, declarou em 2018, antes de encarar os celestes pela Liga Europa, durante entrevista ao Sportbild. Na época, um amigo de seu pai já havia fundado um fã clube a Demme em Nápoles. São estes torcedores que devem acompanhar o novo meio-campista em sua empreitada no San Paolo.

Incansável na faixa central, Demme também se destaca pela capacidade nos passes curtos e por comandar a saída de bola. Durante sua passagem pela seleção alemã em 2017, o meio-campista chegou a ser comparado com o próprio Gattuso, segundo palavras do técnico Joachim Löw. Unindo força na marcação e uma dose de capacidade técnica, o alemão pode ser muito útil neste novo momento do Napoli. E terá muito a aprender com seu novo treinador. Gattuso já tinha tentado levar “seu fã” ao Milan, durante a passagem pelo comando técnico dos rossoneri.

Se a sequência recente do Napoli ou mesmo as perspectivas para o final da temporada não animam, Demme se transforma em uma ótima cartada para formar a trinca no meio-campo ao lado de Allan e Fabián Ruiz – ao lado da iminente incorporação de Stanislav Lobotka, o que abre espaço também às vendas dos celestes. O alemão não é um jogador badalado no mercado, mas parece uma oportunidade caída do céu, até pelas circunstâncias ao redor. A missão do novo volante será honrar a paixão do pai e agradar seu velho ídolo na casamata.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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