A reconstrução do Parma dá um passo para trás, com a confirmação do rebaixamento à Serie B

A temporada da Serie A termina mais cedo para o Parma, e de maneira amarga. Os gialloblù protagonizaram uma reconstrução espetacular a partir de sua falência. Emendaram três acessos consecutivos, a partir da quarta divisão, para reaparecer na elite. Melhor ainda, os passos no Estádio Ennio Tardini pareciam firmes o suficiente e o clube vinha de duas temporadas satisfatórias na primeira divisão. Porém, em 2020/21, o patamar não se manteve. O Parma atravessou mudanças sensíveis, não conseguiu se restabelecer e atravessou toda a campanha na zona de rebaixamento. Até existiu uma esperança de que o segundo turno guardasse uma reviravolta, o que não aconteceu. Nesta segunda, após a derrota para o Torino, os gialloblù tiveram seu descenso confirmado. Caem ao lado do Crotone, com a terceira vaga por definir.
Quando o Parma retornou à Serie A, existiam dúvidas se o clube teria nível competitivo suficiente para se sustentar neste patamar. O estirão dos gialloblù estava claro, pela maneira como emendaram acessos desde a Serie D. Somente o primeiro acesso foi realmente tranquilo. Na Serie C, a equipe precisou enfrentar os longos playoffs para ficar com a quarta vaga na promoção. Já na Serie B, o Parma não figurava entre os favoritos para subir imediatamente. Tanto é que os Crociati oscilaram demais e somente na reta final arrancaram para selar o acesso, contando com uma combinação de resultados dramática na última rodada. A façanha foi enorme não apenas pela rapidez na reconstrução, mas também pela forma como o time superou percalços ao longo dos diferentes momentos.
Fora de campo, o Parma passou por diferentes mãos, mas indicava ter uma estrutura administrativa minimamente estável para não ficar exposto a outra derrocada. Dentro de campo, ainda existiam dúvidas se os gialloblù seriam fortes o suficiente para seguir na Serie A, com contas mais limitadas e um elenco que já tinha trazido muitas adições para a Serie B. Os reforços até vieram para elite, alguns mais rodados, como o zagueiro Bruno Alves, o meio-campista Juraj Kucka e o atacante Gervinho. No fim, deu liga, porque os gialloblù pareciam ter um projeto esportivo muito coeso sob as ordens de Roberto D'Aversa. Mesmo com as mudanças constantes no grupo e com o crescimento que exigia seguidas remontagens, o treinador liderou um desempenho fantástico a partir da Serie C.
O Parma sequer passou pela zona de rebaixamento na Serie A 2018/19. Conquistou resultados expressivos, ao bater a Internazionale e empatar com a Juventus. Contava com uma equipe bem protegida na defesa, que sabia explorar a velocidade mais à frente, com o sucesso de Gervinho. O 14° lugar saía de ótimo tamanho. Já na Serie A 2019/20, os gialloblù cresceram mais um pouco, agora sob a estrela do novato Dejan Kulusevski. O time até rondou a vaga nas copas europeias, mas perdeu forças no segundo turno e acabou no 11° lugar. A quem se via falido e na quarta divisão poucos anos antes, tal desempenho já parecia suficiente para assegurar uma longa estadia dos Crociati na primeira divisão. Mas não foi o que aconteceu.
Roberto D'Aversa foi demitido sem muita razão para a Serie A 2020/21. A diretoria apostava em Fabio Liverani, um treinador com mentalidade ofensiva no Lecce, mas que terminou rebaixado. Achavam que era um passo mais ousado ao crescimento, mas que desconsiderava os méritos do técnico que liderou a revolução durante quatro temporadas. Que desconsiderava também as características do elenco, montado para outro padrão de jogo, e que não se encaixou diante das ideias de Liverani. O Parma sofreu algumas perdas notáveis, em especial a de Kulusevski, mas não para o impacto que se viu. Os resultados não engrenaram desde o início, com muitos empates. A defesa, que já vinha perdendo solidez na temporada anterior, piorou. A partir de dezembro, a coisa degringolou e, na vice-lanterna, o Parma demitiu Liverani em janeiro. D'Aversa voltou, mas não salvou o barco.
A sequência do trabalho tinha se perdido no Parma e o antigo técnico não se tornou suficiente. O clube também apostou em alguns negócios de última hora na janela de transferências de janeiro, trazendo nomes até interessantes, como Graziano Pellè. Só que, lidando paralelamente com lesões, os gialloblù não viram a luz no fim do túnel. Desde que retornou, D'Aversa só conquistou uma vitória, diante da Roma. Mesmo em confrontos diretos os Crociati não corresponderam, com alguns resultados apertados e insuficientes. O desespero batia em campo, numa equipe nervosa e desconcentrada. Nesta reta final, com uma nova série de derrotas, o time já parecia sem esperanças. E o revés para o Torino, outro que luta contra o risco de cair, se tornaria cabal ao descenso nesta segunda. Os grenás, por outro lado, abriram três pontos de vantagem em relação ao Z-3.
Alguns nomes do Parma ainda conseguem se salvar, apesar de todos os pesares. O lateral Giuseppe Pezzella é um bom valor na defesa, enquanto o brasileiro Hernani foi um raro destaque no meio-campo, passando longe da responsabilidade pelo desastre – como foi também Juraj Kucka no setor. Mais à frente, os romenos Dennis Man e Valentin Mihaila ofereceram lampejos. Mas alguns dos antigos protagonistas caíram de produção, em especial Gervinho, que não conseguiu potencializar o jogo da equipe como em outros momentos. Além do mais, a falta de rumo coletivo se tornou fatal. Não resta nada além da resignação de disputar a Serie B.
A experiência adquirida nas divisões de acesso recentemente não é uma garantia. O Parma trocou de donos nesta temporada, afinal. O clube chegou a ser administrado por empresários locais e por investidores chineses em diferentes momentos a partir da Serie D, até ser comprado pelos americanos da família Krause em setembro de 2020. Não foram eles que trocaram D'Aversa por Liverani e atrapalharam o planejamento nesta campanha, mas também não conseguiram uma guinada satisfatória. Se antes a compra do time ascendente parecia atrativa, agora terão que dar passos atrás.
No geral, o Parma possui uma estrutura maior que os concorrentes na Serie B e uma própria caminhada que respalda ao novo acesso em breve. Todavia, está claro como tradição não é salvaguarda no futebol e o clube já sabe até onde uma má gestão pode levá-lo. A continuidade de D'Aversa terá que ser repensada, diante da falta de resultados neste retorno, assim como a montagem do elenco para a segundona. Nem todos os medalhões devem ficar e alguns destaques podem gerar dinheiro. Talvez seja a hora de largar a empolgação ao redor do nascimento dos gialloblù e pensar em um projeto de médio prazo para o restabelecimento da agremiação. A guinada do Parma foi fantástica e ninguém diminui essa história, mas não seria isso que recolocaria automaticamente os Crociati como uma equipe de relevo nas copas europeias.