A efetividade do Milan para superar o Napoli passa muito pelo impacto de Rafael Leão no ataque
Rafael Leão assombrou a defesa do Napoli com suas arrancadas nas duas partidas - embora nessa também tenha causado reclamações por um pênalti não dado

O prêmio de melhor jogador da Serie A 2021/22 serve de cartão de visitas a Rafael Leão. O atacante, feito uma locomotiva, carregou os rossoneri a diversas vitórias naquela campanha e ao consequente Scudetto. O desempenho do jovem de 23 anos não é tão decisivo na atual edição do Campeonato Italiano, por mais que os números se aproximem. Ainda assim, essa melhor versão de Leão, a mais destrutiva, pintou nas quartas de final da Champions League. O português assombrou o Napoli nas duas partidas. E seria eleito o melhor em campo no Estádio Diego Armando Maradona, pela forma como influenciou o empate por 1 a 1.
Os números de Rafael Leão nesta Champions são tímidos. Em dez partidas, o atacante só marcou um gol e deu cinco assistências. Sua preponderância, contudo, é expressa no que se vê durante as partidas. E muita coisa se viu nos dois jogos contra o Napoli. O Milan atacou pouco, mas com muita voracidade quando conseguiu encaixar seus lances ofensivos. E isso se deve bastante à maneira como o ponta desmantelou a linha defensiva sempre que teve a oportunidade.
Os temores do Napoli nem começaram na Champions, em si. A vitória do Milan por 4 a 0 na Serie A contou com dois gols de Rafael Leão. Era um aviso, que se confirmou no embate dentro do San Siro, na ida do torneio continental. A história daquele embate começa a virar aos 25 minutos, numa jogadaça de Leão no contra-ataque. Os rossoneri ainda não tinham finalizado na noite e tomavam pressão. A arrancada do ponta assustou os adversários e, nessa crescente, o gol da vitória não tardou. De novo com participação de Leão: primeiro por puxar a marcação ao centro da área, depois por conectar o lindo lance de Brahim Díaz com a definição de Ismael Bennacer – justamente no buraco que o português havia aberto pelo lado esquerdo da área.
Rafael Leão estaria ainda mais visado no reencontro em Nápoles, nesta terça-feira. Não que o Napoli tenha encontrado um remédio. Pelo contrário, o ponta esquerda sofreu o pênalti de Mário Rui, que deu a chance para Olivier Giroud abrir o placar e o centroavante não aproveitou. Mas, se de um lado o português causava calafrios, do outro gerou reclamações. Os napolitanos se queixaram, com razão, de um pênalti do atacante sobre Hirving Lozano. Acertou primeiro o pé do mexicano, mas o VAR não entendeu assim, sem que o lance fosse revisado pelo árbitro no monitor. Leão se safou.
E neste alívio, a participação de Rafael Leão na defesa floresceu no gol que consolidou a classificação do Milan. Foi uma jogada que resume muito bem o futebol imparável do atacante. A arrancada começou ainda na intermediária defensiva, ao interceptar o passe que Tanguy Ndombélé não dominou. O português atropelou quem passasse pela sua frente. Teve velocidade para impedir que qualquer adversário o acompanhasse, teve habilidade para uma finta seca na altura da linha central, teve força para que Amir Rrahmani se esborrachasse na tentativa desesperada de parar o adversário no jogo de corpo dentro da área. Por fim, teve frieza diante da meta e também empatia com Giroud, ao entregar o passe para que o colega se redimisse.
O segundo tempo não veria tanto mais de Leão. Ainda teve uma arrancada perigosa em que se perdeu na linha de fundo e uma tentativa de acrobacia que não deu certo. Não deixou de se empenhar também sem a bola, mas ficava mais difícil de fazer qualquer coisa se o Milan concentrava as energias em evitar o gol de empate. Deu certo até o fim dos acréscimos, no pouco útil tento de Victor Osimhen. Leão saiu já nos minutos finais, quando compartilhava o protagonismo com Mike Maignan pelo pênalti defendido contra Khvicha Kvaratskhelia. Mas como a Uefa só oferece um troféu ao melhor em campo, sem a possibilidade de dividir os méritos com o goleiro, o português levou a condecoração para casa.
Obviamente, os aspectos físicos influenciam demais o jogo de Rafael Leão. É um atacante que une força e velocidade para uma combinação mortal. Mas não que pare nisso, também com qualidade técnica e uma capacidade decisiva aprimorada nas duas últimas temporadas. O atacante amadurece nesse ciclo mais recente com o Milan e já cresceu bastante em relação à sua chegada ao clube. Aos 23 anos, é uma inegável referência aos rossoneri. E com margem para mais, agora com uma Champions para que os torcedores sempre se recordem de seu impacto.