Serie A

A Cremonese até deu bons sinais, mas não se encaixou e sofreu o esperado rebaixamento na Serie A

A Cremonese chegou a ter boas atuações contra times da parte de cima da Serie A, mas faltaram as vitórias contra os concorrentes da parte inferior

O acesso da Cremonese já representava um momento especial: depois de 26 anos, o clube reaparecia na Serie A. O longo período longe da elite guardou três passagens pela Serie C, até que a escalada mais recente se iniciasse em 2017. Porém, a estadia dos grigiorossi na primeira divisão não durou mais do que uma temporada. Neste domingo, sem sequer entrar em campo, a Cremonese teve seu rebaixamento confirmado no Campeonato Italiano. Não dá para dizer que o descenso é surpreendente, pela campanha que manteve o clube durante todo o tempo no Z-3. Apesar disso, não dá para classificar essa passagem como um desastre total.

A Cremonese precisou mudar de direção ao chegar na Serie A. O técnico Fabio Pecchia deixou o clube após o acesso, ao acertar com o Parma. Massimiliano Alvini assumiu o comando com grande rodagem nas divisões de acesso, mas nenhuma experiência anterior na elite. Além disso, o elenco perdeu vários destaques dos tempos de segundona, que estavam emprestados. Até ficaram alguns remanescentes, mas a espinha dorsal precisou ser reconstruída através do mercado de transferências.

Por conta disso, a Cremonese investiu bastante em reforços. Trouxe nomes interessantes, como os atacantes Cyriel Dessers e David Okereke. Além disso, vários jovens desembarcaram em Cremona, a exemplo do promissor Felix Afena-Gyan. Não seria simples moldar o time praticamente do zero, mesmo que houvessem remanescentes do acesso, como o veterano artilheiro Daniel Ciofani. Naturalmente o projeto levaria um tempo até se encaixar, mas os resultados negativos minaram a confiança aos poucos.

A Cremonese perdeu seus quatro primeiros jogos na Serie A, mas deu certo trabalho a Fiorentina, Roma, Torino e Internazionale. Depois, os empates com Sassuolo e Atalanta davam uma resposta. O problema é que os triunfos não saíam. E por mais que a tabela diminuísse um pouco o grau de dificuldade com o passar das semanas, faltavam vitórias. Durante todo o primeiro turno, os grigiorossi não ganharam um jogo sequer. Os oito pontos conquistados vinham de empates. Conseguiram arrancar a igualdade do Milan, por exemplo, mas os tropeços contra rivais diretos da parte inferior da tabela eram problemáticos.

Durante o mercado de inverno, a Cremonese trouxe novos reforços pontuais. A aposta maior foi na mudança de comando, com a confiança em Davide Ballardini, acostumado a assumir times em situações emergenciais na Serie A. Alguns sinais positivos vieram a partir de então. A campanha na Copa da Itália empolgou, com as classificações para cima de Napoli e Roma, que colocaram os azarões nas semifinais – nas quais caíram diante da Fiorentina. Depois disso, também viriam os primeiros triunfos na Serie A. Ganharam de Roma, Sampdoria, Empoli e Spezia. Ainda teriam outro empate contra o Milan. De qualquer forma, era pouco para a guinada necessária.

No fim das contas, a Cremonese até conseguiu deixar a lanterna com a Sampdoria. Mas os 24 pontos passam longe do mínimo necessário para a permanência, com o time abaixo de Verona e Spezia na luta para deixar o Z-3. No sábado, os grigiorossi foram goleados por 5 a 1 em casa contra o Bologna, justamente sua pior derrota na campanha. E o empate do Spezia com o Lecce na sequência do final de semana decretou a queda, com duas rodadas de antecipação. Por aquilo que se viu no primeiro turno, poderia ter sido até pior.

É bem provável que o elenco da Cremonese passe por um desmanche, com jogadores de nível para jogar na primeira divisão. Os grigiorossi podem aproveitar a oportunidade, inclusive, para lucrar com os negócios e voltar como favoritos à segundona. Jogadores como Dessers, Okereke e Soualiho Meïté devem garantir um dinheiro razoável nessa reformulação. São alternativas interessantes inclusive para os outros clubes que continuam na Serie A, se preferirem permanecer na Itália.

A história de um rebaixamento não precisa ser necessariamente a de um desastre. Há momentos em que as coisas simplesmente não se encaixam. No geral, a Cremonese não foi tão ruim quanto a posição na tabela sugere. Só que a equipe não conseguiu transformar as atuações valentes em resultados positivos e se afundou rapidamente na zona de rebaixamento. O orgulho pelo acesso depois de 26 anos não se anula por isso. Dá para pensar em um retorno à elite bem antes disso.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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