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O abismo europeu dentro do abismo italiano

A eliminação da Juventus na Liga dos Campeões diante do Bayern Munique assustou. Que os bávaros eram ligeiramente favoritos já se sabia, afinal a equipe atuava como um rolo compressor na Bundesliga e fazia ótima campanha também na Champions – o susto contra o Arsenal era apenas isso, um susto. A Juve, em território nacional, era soberana, passou mais de um ano invicta, e após início claudicante na competição continental, havia despachado o Chelsea e feito ótimos jogos contra Shakhtar Donetsk e Celtic. Porém, o Bayern mal suou contra a melhor equipe italiana (com sobras) nos últimos dois anos, e deixou grandes dúvidas sobre o nível da Serie A. Se nem a Juve pode bater de frente com os gigantes europeus, o que resta aos outros times do país?

Na coletiva pós-jogo, Antonio Conte, técnico da Juve, não economizou nas palavras para descrever o desnível entre os maiores times italianos e os maiores de outros campeonatos: “Os italianos não vencerão a Champions nos próximos anos. Há um abismo entre nós e equipes como Real Madrid, Barcelona, Bayern, Manchester United e PSG, que faturam € 400 milhões por ano”, disse. Conte tem razão em falar em diferença de ganhos, mas ao menos em relação à Juventus, devemos relativizar.

O Bayern, por exemplo, tem uma saúde financeira melhor que a equipe juventina, penalizada pelo rebaixamento após envolvimento no Calciopoli e também pela não participação em quatro das últimas seis edições da Champions. Porém, pouco justifica o fato de os bávaros contratarem Mandzukic, Shaqiri e Dante por menos de € 30 milhões enquanto a própria Juve gastou um pouco mais apenas para contratar Vucinic e Matri, no ano passado. Mandzukic, € 3 milhões mais barato que o reserva Matri, poderia ser muito mais útil ao elenco italiano. Em grande parte das vezes, falta visão aos clubes do Belpaese. Quem tem pouco para gastar não pode se dar ao luxo de desperdiçar ou fazer más contratações.

Se falta visão, também é verdade que o campeonato está desvalorizado. Seria mais difícil convencer um jogador como Mandzukic a jogar na Juventus do que no Bayern – além de o jogador já estar provavelmente mais adaptado à Alemanha, a taxa de impostos germânica é menor que a italiana e o campeonato é mais atrativo. Os estádios alemães são mais cheios, mais organizados e mais modernos. Para qualquer jogador com cartaz e que quer aparecer e ganhar mais não só com contratos com os clubes, mas extras com publicidade, a Itália não é mesmo o melhor local hoje em dia.

Pela primeira vez na história, a Itália não coloca nenhum clube em semifinais das duas competições continentais por três anos consecutivos. Não é coincidência, uma vez que a crise técnica do campeonato coincide também com a crise econômica pela qual passa o país. Até as três maiores equipes passam por problemas financeiros porque os grupos que injetam dinheiro nos clubes não vivem seus melhores dias. Em tempos de crise, é natural que a Fiat não coloque a mesma grana na Juventus, que a petrolífera Saras e a automotiva Pirelli ganhem menos e a Inter também e que a Fininvest, que opera com mídia e crédito, também não possa abastecer o Milan.

O momento é claramente de estagnação. É verdade que os clubes, menos endinheirados, tem investido um pouco mais nos jovens e a Serie A voltou a revelar valores – difícil vai ser segurá-los. A modernização, agora, passa por investir em ações de merchandising e, sobretudo, tornar os estádios mais adequados e seguros. Recuperar a média de público, que decresce vertiginosamente ano a ano, e também tornar os estádios mais rentáveis não apenas em dias de jogos. Dar um passo à frente como fez a Juve, construindo seu estádio. É necessário, também, como sublinhou Conte, mudar hábitos: “Enquanto no exterior fazem investimentos, aqui falamos de arbitragem e com que garota os jogadores estão saindo. Sociedade, torcedores, meios de comunicação, instituições… Todos juntos devemos mudar o futebol italiano”.

Pallonetto

– Nesta quarta, uma Inter em crise e com elenco dizimado enfrenta a Roma, pela partida de volta das semifinais da Coppa Italia. Especula-se que Stramaccioni pode deixar o clube agora ou ao fim da temporada. Lucescu, do Shakhtar, e Tite, do Corinthians, são alguns dos nomes especulados para eventualmente substitui-lo.

– O Napoli deu um bom passo para confirmar a segunda posição e a vaga direta na próxima Liga dos Campeões após o empate com o Milan. Rossoneri brigarão pela outra vaga com a Fiorentina.

– Seleção Trivela da 32ª rodada: Abbiati (Milan); Ângelo (Siena), Danilo (Udinese), Rodríguez (Fiorentina), Leandro Castán (Roma); Allan (Udinese), Vidal (Juventus), Pizarro (Fiorentina), Hamsík (Napoli); Muriel (Udinese), Pinilla (Cagliari). Técnico: Antonio Conte (Juventus).

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