Itália se garante na Copa 2014 e traz “velha” novidade tática

A Itália é a segunda seleção europeia a garantir classificação à Copa do Mundo. Os italianos venceram a República Tcheca por 2 a 1 em Turim e garantiram o primeiro lugar do Grupo B, com 20 pontos. São sete pontos a mais que a Bulgária, com dois jogos a serem disputados. Os italianos só ficaram fora das Copas do Mundo de 1930 e de 1958. E chegarão em 2014 com a possibilidade de ser uma das poucas seleções capazes de inovar em termos táticos.
Em um mundo cada vez mais restrito a três formações táticas básicas, o 4-4-2, o 4-2-3-1 e o 4-3-3, a Itália é uma das poucas seleções que pode levar algo diferente para a Copa do Mundo de 2014 nesse aspecto. A Azzurra de Cesare Prandelli por vezes aposta em um esquema de três zagueiros, ao menos como uma alternativa relativamente bastante utilizada. Antiquada? O técnico italiano tem mostrado que não.
Jogar com três zagueiros é um dos pecados capitais para os românticos do futebol, ao menos no Brasil. Logo que um técnico por aqui escala um time assim é visto como retranqueiro, algo condenável. Em parte, porque os 3-5-2 usados no Brasil muitas vezes são, na prática, um 5-3-2, já que os alas são laterais de fato. Mas não é o caso da seleção italiana.
O esquema usado por Cesare Prandelli não acontece por acaso. Diversos jogadores estão acostumados a jogarem assim nos seus clubes. Na Itália, jogar com três zagueiros não é incomum. O Napoli de Walter Mazzarri fez sucesso nos últimos quatro anos atuando quase sempre assim. A Juventus, atual bicampeã, joga também com três zagueiros. Alguns outros times italianos costumam usar esse esquema com alguma frequência. Por lá, não há nenhum problema. Ao contrário.
Esse não é o esquema base do time. Em geral, Prandelli escala o time no 4-3-1-2, mas a opção com três jogadores na primeira linha defensiva é algo que o técnico tem como carta na manga. É bom lembrar que Leonardo Bonucci, um dos zagueiros titular, tem uma ótima capacidade técnica, tanto que é comum vê-lo fazer lançamentos longos. Prandelli também usa eventualmente Daniele De Rossi, um meio-campista, como líbero, entre os dois zagueiros, compondo a linha de três jogadores atrás.
Vale lembrar também que Christian Maggio jogou um bom tempo como ala direito no Napoli. Sente-se à vontade por ali e aparece muitas vezes fechando como meia ou atacante. Prandelli já usou Emanuele Giaccherini como ala esquerdo, um jogador que é meia-atacante, costuma atuar como ponta nos times que defende. Ou seja: os alas exercem funções de meio-campistas, não só laterais que podem subir mais.
Outro aspecto do uso dos três zagueiros é valorizar os jogadores de meio-campo do time. A Itália tem excelentes opções por ali, com Andrea Pirlo, um regente do time, Riccardo Montolivo, Claudio Marchisio e o próprio De Rossi. Repare que não há nenhum jogador aí que seja o famoso “carregador de piano”. Todos são jogadores que podem atuar como volantes, mas têm qualidades ofensivas. Tanto que Prandelli aposta muitas vezes em jogar com Montolivo como meia, mais à frente. O esquema com três zagueiros permite que esses jogadores intensifiquem o jogo no meio-campo, setor chave para dominar uma partida. E o jogo contra a Espanha, na Copa das Confederações, foi uma prova disso.
No jogo que definiu a classificação italiana à Copa, Prandelli jogou com Pasqual na ala esquerda. É um meio-campista,que já jogou como lateral esquerdo, mas que costuma atuar na ala no seu clube, a Fiorentina do técnico Vincenzo Montella. Com a bela atuação, o jogador da Fiorentina deu um bom passo para ganhar um lugar no grupo e, mais até, no time titular, caso a equipe atue mais vezes assim. É mais um exemplo de om uso do esquema de 3-5-2.
Itália retranqueira? Não com Prandelli
A Itália sempre é descrita como um time que “adora” defender. Em parte pela tradição de solidez defensiva da equipe. Mas essa imagem ficou para trás há muito tempo. Quando a FIGC, a Federação Italiana, escolheu Prandelli como técnico sabia o que estava fazendo. Queria tornar o jogo do time mais ofensivo, envolvente, trabalhando mais a bola – tudo que o time de Marcelo Lippi não teve na Copa de 2010. E esse objetivo foi alcançado nesses quatro anos de trabalho.
A Azzurra se classificou com tranquilidade para a Eurocopa de 2012 e fez uma campanha surpreendente, eliminando uma das favoritas, Alemanha, na semifinal. O atropelamento da Espanha na final deixou uma má impressão, mas a disputa entre as duas seleções na semifinal da Copa das Confederações, neste ano, mostrou que a Itália pode, sim, complicar a Espanha. E um time que pode vencer a Alemanha e complicar a Espanha é um time que precisa ser respeitado. Sendo a Itália, tetracampeã, com uma camisa com um peso monstruoso, mais ainda.
A Itália de Cesare Prandelli é um time que gosta da bola. Não atua só no contra-ataque, não joga por uma bola. O time sabe ficar com ela, trabalhar, criar jogadas. Pode não ter aquele atacante genial que tinha em Roberto Baggio, Alessandro Del Piero e Francesco Totti. Mario Balotelli ainda não chegou a esse nível e é mais centroavante que esses outros três. Não há um trequartista com essa genialidade. Mas o time é forte, sabe chutar de fora da área e, em geral, sabe manter a posse de bola.
No Brasil, a Itália será o que é sempre: uma das favoritas ao título. A camisa Azzurra é dos times para ficar de olho. Seja pela parte tática, com a velha novidade dos três zagueiros, seja pela parte técnica, com bons jogadores e bola trabalhada, seja pela tradição representa.