Itália

Entidades místicas do futebol europeu: o centroavante italiano

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“Conhecido pelo seu esforço e bravura, podia marcar gols de dentro e de fora da área e era preciso com a cabeça. Dava a impressão de sempre saber como se posicionar e qual o momento certo de entrar na área”. Com estas palavras, poderíamos descrever muitos dos centroavantes italianos mais clássicos que povoam a nossa mente nas entidades místicas do futebol europeu e, neste caso, italiano. Mas a descrição acima é de Silvio Piola, chamado por muitos italianos como o primeiro “bomber”, como eles descrevem os seus centroavantes goleadores. Centroavantes que nem sempre têm lá muita técnica, muitas vezes não contam com o requinte dos craques. Mesmo assim, são exímios em colocar a bola na rede.

Piola foi o centroavante da Itália na Copa de 1938, quando a Azzurra levantou a taça pela segunda vez e tornou-se o primeiro país bicampeão do mundo. A grande estrela era Giuseppe Meazza, mas o goleador foi mesmo Piola, com cinco gols em quatro jogos no torneio. Dois deles na final contra a Hungria, que decidiu o título. Isso, claro, além de ter sido artilheiro da Serie A duas vezes, ambas pela Lazio, em 1936/37 e em 1942/43. Estava inaugurada a era dos centroavantes brigadores e artilheiros do futebol italiano. E foram muitos.

Nos anos 1970, um jogador que ganhou fama foi Paolo Pulici. Foi artilheiro três vezes da Serie A (1972/73, 1974/75 e 1975/76), sempre pelo Torino. Era um jogador forte fisicamente, que tinha sua maior habilidade na bola aérea. Chegou a jogar pela seleção da Itália, mas a concorrência com jogadores mais talentosos na época impediu que ele tivesse grandes participações. Mesmo assim, jogou 19 vezes pela Azzurra, com cinco gols. Um clássico centroavante italiano de força e capacidade artilheira.

Nos anos 1980, quando os clubes italianos tinham muito dinheiro e contratavam estrelas de toda Europa, grandes craques se tornaram artilheiros da liga, como Platini e Maradona. Mas a tradição de centroavantes grandalhões e goleadores seguia. Nas temporadas 1980/81, 1981/82 e 1985/86, o artilheiro do Campeonato Italiano foi Roberto Pruzzo, jogador da Roma. Sua descrição como jogador já diz tudo: ele era conhecido por ser um jogador forte fisicamente, muito trabalhador em campo e com instinto artilheiro. Já deu para entender, né?

Um jogador que se tornou mundialmente conhecido pela sua capacidade artilheira, mesmo não tendo uma relação muito próxima com a bola, foi Salvatore “Totó” Schillaci. Ele foi o nome que brilhou na Copa do Mundo de 1990, na Itália. Era um notório fazedor de gols pelo Messina, até que foi contratado pela Juventus. Chegou à Copa do Mundo como reserva, se tornou titular e foi o artilheiro do time e da competição. Não era um jogador de muita classe, mas conseguiu fazer muitos gols e terminou a carreira balançando a rede no Japão.

Nos anos 1990, um centroavante tipicamente italiano surgiu. Em 1996/97, jogando pela Atalanta, Filippo Inzaghi terminou como artilheiro com 24 gols. O trato com a bola nunca foi dos mais, digamos, carinhosos. Não importa: Inzaghi sempre foi goleador. Empurrava as bolas para as redes como poucos. Marcou muitos gols pela Juventus e, depois, pelo Milan. Pela Itália, também marcou seus gols (25 em 57 jogos). As especialidades de Inzaghi não era dominar bonito a bola. Colocar na rede, porém, sim.

Aliás, os anos 1990 foram uma terra farta de artilheiros, digamos, não muito habilidosos, mas goleadores. Um jogador conhecido pela sua habilidade para fazer gols, não para tratar bem a bola, era Christian Vieri. Surgiu pelo Torino, em 1991/92, e passou por diversos clubes na carreira, como Juventus, Atlético de Madrid, Lazio e Internazionale, onde passou mais tempo. Excelente na bola aérea e um centroavante forte e brigador, jogou quase 10 anos pela Itália, entre 1997 e 2006. Jogou duas Copas do Mundo, em 1998 e 2002. E manteve uma gloriosa tradição de artilheiros grandalhões, nem sempre muito habilidosos, mas goleadores. Aqueles que toda torcida gosta de ter. Ainda mais na Itália.

Este tipo de artilheiro italiano tem uma característica muito comum: eles brilham em divisões inferiores e depois aparecem na Serie A, já conhecidos em seus clubes como artilheiros. Esqueça a habilidade: a função desses jogadores é dar um toque na bola e guardar na casinha.

Dario Hübner foi um deles. Surgiu no final dos anos 1980 jogando em times pequenos. Conseguiu ser artilheiro da Série C1 em 1991/92, da Serie B em 1995/96 e, finalmente, da Serie A em 2001/02, pelo modesto Piacenza. Foi o maior momento da carreira do centroavante, conhecido pelos gols, mas que não era lá muito habilidoso.

Outro desses artilheiros era Christian Riganò. Com 1,91 metro, ele fez a carreira em times amadores ou parcialmente profissionais da Itália. Ficou conhecido quando jogou pela Florentina Viola, nome de refundação da Fiorentina, rebaixada após falência. Teve a chance de jogar por um time com tradição e não decepcionou. Foram 30 gols em 32 jogos na Serie C1, ajudando o time a subir. Marcou também 23 gols na Serie B, conquistando outro acesso, desta vez à Serie A. Estreou na primeira divisão italiana aos 30 anos. Depois, rodou por mais times menores e segue atuando em divisões amadoras de Florença, mesmo aos 42 anos.

Cristiano Lucarelli é outro dos jogadores que ganhou fama por ser um artilheiro dos times pequenos. Atuou por vários deles na Itália, mas sua temporada de maior destaque foi 2004/05, no Livorno, quando foi artilheiro da Serie A com 24 gols. Isso o levou a atuar pelo Shakhtar Donetsk, mas o sucesso internacional não veio. Voltou, jogou pelo Parma em 2008/09, foi emprestado ao Livorno e encerrou a carreira no Napoli, como um autêntico centroavante matador. Talvez chamado de grosso e amado pelos italianos. Como tem que ser.

Dos artilheiros que faziam a rapa nas divisões inferiores, o mais bem-sucedido na história recente é Luca Toni. Recém aposentado, aos 39 anos, passou por diversos clubes modestos no início da carreira. Foi artilheiro da Serie B em 2003/04 pelo Palermo, quando se tornou nacionalmente conhecido. Levou sua fama e seus gols para a Fiorentina, onde foi artilheiro em 2005/06. Mais do que isso: foi o centroavante italiano na Copa do Mundo de 2006, que acabou com título da Azzurra. Foi jogar pelo Bayern de Munique, onde também foi artilheiro, em 2007/08. Ainda jogaria por Roma, Juventus, voltaria à Fiorentina e passaria os três últimos anos da sua carreira no Verona.

Centroavantes italianos caneleiros e artilheiros se tornaram uma entidade mística do futebol europeu. Mais do que isso, se tornou um estilo italiano, com jogadores até de outras nacionalidades fazendo sucesso no país. E os italianos continuam gostando de ter esse tipo de jogador. Está aí Graziano Pellè na Eurocopa, envergando a camisa da Azzurra para manter a tradição de um camisa 9 trombador e artilheiro. Os italianos apreciam. Nós também.

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Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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