Caos na Juventus: presidente Andrea Agnelli e toda diretoria se demitem em meio a suspeitas de fraudes financeiras
Investigações sobre fraude financeira colocam em suspeita toda a diretoria da Juventus, que se demitiu
Em meio à Copa do Mundo, a Juventus vive um caos. O presidente Andrea Agnelli e toda a diretoria pediu demissão do clube nesta segunda-feira, confirmou o clube em comunicado. Isso acontece em meio a investigações de autoridades italianas sobre fraude financeira no clube pelo CONSOB, órgão que supervisiona atividades financeiras de empresas que estão listadas na bolsa, como é o caso do clube de Turim. A Juventus teve prejuízo de € 254,3 milhões na temporada 2021/22.
“Dada a centralidade e relevância das questões legais e pendências técnico-contábeis, [os membros do conselho] julgaram, de acordo com o melhor interesse social, recomendar que a Juventus forneça um novo Conselho de Administração para tratar dessas questões”, diz o comunicado divulgado pela Juventus.
“A Juventus continuará cooperando com as autoridades fiscalizadoras e do setor, sem prejuízo da proteção de seus direitos em relação às disputas contra as demonstrações financeiras e comunicações da Empresa pelo CONSOB e pelo Ministério Público”.
Além do presidente Andrea Agnelli, também pediram demissão o vice-presidente do clube Pavel Nedved, ex-jogador e ídolo dos bianconeri; Maurizio Arrivabene, CEO; Laurence Debroux, diretor; Massimo Della Ragione, diretor independente; Kathryn Fink, diretora independente; Daniela Marilungo, diretora independente; Francesco Roncaglio, diretor; Giorgio Tacchia, diretor independente; Suzanne Heywood, diretor.
A Exor, empresa que é dona da Juventus, indicou Gianluca Ferrero como candidato a substituir Andrea Agnelli como presidente do clube. “Ferrero tem experiência sólida e competência técnica, assim como uma verdadeira paixão pelos Bianconeri, o que o torna o melhor candidato para o papel”, afirma a Exor em comunicado. “A Exor irá comunicar a lista de candidatos para renovar a diretoria nos termos da lei”.
A Juventus confirmou em comunicado que Maurizio Scanavino será o seu novo CEO. Por causa das investigações, a reunião de acionistas que era para ter acontecido no dia 23 de novembro foi adiada inicialmente para 27 de dezembro e agora foi adiada novamente para o dia 18 de janeiro de 2023.
Inicialmente, foi divulgado que a investigação das autoridades italianas era sobre ganhos de capital irregulares na compra e venda de jogadores, como foi no caso da transferência de Arthur e Miralem Pjanic, que fizeram caminhos opostos: Arthur do Barcelona para a Juventus e Pjanic da Juventus para o Barcelona. Os investigadores analisam publicações das finanças do clube de 2018, 2019 e 2020.
Só que o caso pode ser bem mais simples: em maio e junho de 2020, 23 jogadores do elenco assinaram acordos para reduzir seus salários por quatro meses, durante a pandemia da COVID-19, de forma a ajudar o clube a passar pelo período difícil e sem jogos – e sem receitas. O problema é que a Juventus está com dificuldades de provar que foi isso que aconteceu.
Há suspeitas que o clube continuou a pagar os jogadores por fora depois do primeiro mês, permitindo tanto aos jogadores quanto ao clube não pagarem impostos, além de falsificarem a folha salarial para manter as contas balanceadas. Isso é importante porque conta tanto para a Serie A, liga italiana, quanto para a Uefa na Champions League, que tem o Fair Play Financeiro (que, convenhamos, está desmoralizado, mas ainda existe). Se houver provas que o clube fez isso, será caracterizada fraude financeira.
A investigação sobre isso começou com suspeitas que Cristiano Ronaldo receberia valores extras de salários e bônus além dos declarados oficialmente, o que também caracterizaria fraude financeira.
Ainda não se sabe qual punição a Juventus pode sofrer, porque não estão claros quais acusações poderão ser provadas. Em caso de fraude financeira, a equipe poderá ser punida em termos financeiros e seus diretores podem responder criminalmente. Para haver punição esportiva, como aconteceu em 2006, teria que haver um julgamento em um tribunal esportivo, o que não é o caso, por enquanto.