Itália

Bastoni, Bisseck, a evolução da posição zagueiro e motivos da Internazionale estar tão bem

Após gol de vitória contra o Bologna, zagueiros remontam tempos dos maiores times da história da Inter, em que defensores eram também artilheiros

Um dos mantras do futebol, independentemente de onde ele é jogado, é que uma grande defesa constrói times campeões. E o sentido literal da frase pode ser atribuído à Inter de Milão na Serie A desta temporada. Líder com 16 de vantagem para o Milan, segundo colocado, os Nerazzurri tomaram apenas 13 gols em 28 jogos, e têm disparado a melhor defesa do torneio.

O número é ainda mais impressionante quando se leva em conta que dois titulares deixaram a equipe de uma temporada para a outra. Andre Onana rumou ao Manchester United e foi substituído por Yann Sommer, enquanto Benjamin Pavard e Yann Bisseck chegaram para o lugar de Milan Skriniar, que após anunciar sua saída para o Paris Saint-Germain, perdeu a braçadeira de capitão e um lugar entre os titulares ainda em 2022/2023.

Mas mais do que serem essenciais para manter a equipe com a defesa menos vazada do campeonato, os zagueiros interistas também estão sendo decisivos na frente. No último sábado (9), a Inter quebrou a sequência de 6 vitórias seguidas do Bologna, e ganhou fora de casa com jogada de defensores. Carlos Augusto tocou para trás e de primeira, Bastoni deu um cruzamento longo que entrou Bisseck. O peixinho do zagueiro alemão foi o responsável por dar a vitória de 1 a 0 para o time de Milão, que também possui o melhor ataque da Serie A, com 70 gols. Mais do que zagueiros artilheiros, a Inter atualmente comandada por Simone Inzaghi recria, de uma forma diferente, a tradicional escola interista de fazer com que seus defensores sejam além de firmes atrás, também técnicos e essenciais para a construção de jogadas dos seus melhores times da história do clube.

Bons zagueiros construíram times campeões na Itália

Ao longo da história, a posição de zagueiro foi ganhando novos atributos além de só dar chutão para afastar a bola da meta. Tanto na Europa quanto na América do Sul, esquemas táticos foram se aperfeiçoando. E a partir de 1960, a Inter de Milão passou a entrar no rol de times inesquecíveis desde atrás, com a chegada de Helenio Herrera, para montar a equipe. O 5-3-2 do treinador nascido na Argentina tinha Armando Picchi como líbero para começar as jogadas, e Aristide Guarneri um pouco mais adiante para protegê-lo. Porém, seus dois defensores do lado atuavam como laterais, e subiam à frente, com grande desempenho também no ataque. Tarcisio Burgnich jogava pelo lado direito, e Giacinto Facchetti, pelo lado esquerdo, chegou a marcar mais de 50 gols, e foi um dos grandes astros da chamada ‘Grande Inter', que venceu a Copa Europeia (atual Champions League) em 1964 e 1965.

Após ver o arquirrival Milan também conquistar a Europa nos anos 1990 com Arrigo Sacchi montando um esquema em que Franco Baresi, Paolo Maldini, Alessandro Costacurta e Mauro Tassotti, pela lateral direita, participavam do início das jogadas defensivas, a Inter reconquistou a Europa e o mundo em 2010 de forma bastante semelhante. Além da defesa formada por Lucio e Walter Samuel, Maicon era o responsável por atacar, enquanto Christian Chivu, do outro lado, fechava os espaços para impedir contra-ataques da equipe que tinha José Mourinho como treinador. Mesmo sem serem campeões europeus com a Inter, defensores como Bergomi e Andreas Brehme, também tiveram passagens inesquecíveis como defensores que sabiam atacar quando necessário.

O que já era bom, melhorou

Entretanto, a Inter havia se acostumado a atuar sempre com quatro defensores, sendo dois laterais e dois zagueiros. Tudo passou a mudar quando Antonio Conte chegou ao time, em 2019, e implementou o 3-5-2. Quando ele saiu, a diretoria encontrou em Simone Inzaghi um técnico que também utilizava o mesmo esquema na Lazio, e que melhorou a saída de bola da equipe ao longo do tempo. Ainda na temporada passada, Skriniar deu lugar para Darmian, zagueiro de origem. E para 2023/2024, o investimento em Pavard foi justificado justamente pela melhor saída de bola do francês quando comparado ao eslovaco. Tanto pelos Bleus quanto pelo Bayern de Munique, Pavard atuava como lateral-direito apesar ser zagueiro de origem.

Mas nem a lesão do francês fez com que Inzaghi deixasse de fazer sua defesa praticasse um futebol de chutões. Bisseck, substituto de Pavard, também vem cumprindo à risca, e sobe quando necessário. E foi assim que o alemão fez o gol no último fim de semana após excelente cruzamento de Bastoni, que desde à época de Conte, já era o zagueiro principal da equipe nas construções de jogadas.

E é assim, revivendo os velhos tempos, mas em um esquema mais físico e conectado, que a Inter chega para o virtual título italiano e com chances reais de avançar na Champions League. Na última temporada, os nerazzurri pararam na final, contra o Manchester City. E nesta quarta-feira (13), precisará de seu trio forte para fazer frente ao Atlético de Madrid e avançar às quartas de final da competição europeia. A vantagem de 1 a 0 conquistada na primeira partida será importante, mas tanto quanto será a proteção atrás e a construção de jogadas de seus defensores. Na Inter, times inesquecíveis sempre começaram dessa maneira.

Foto de Vanderson Pimentel

Vanderson PimentelRedator de esportes

Jornalista formado em 2013, e apaixonado por futebol desde a infância. Em redações, também passou por Estadão e UOL.
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