Wenger pede para torcida não protestar contra preço dos ingressos durante jogo

Wenger está na contramão do que parece ser o movimento natural do futebol inglês para os próximos tempos: a diminuição do preço dos ingressos. Enquanto grupos de torcedores organizam protestos, se fazem ouvir com gritos e faixas e até conquistam vitórias importantes, como no caso do congelamento do preço das entradas no Anfield, e diversas figuras de dentro do futebol saem em defesa das torcidas, como o técnico Slaven Bilic, do West Ham, o treinador do Arsenal preferiu o lado do patrão. O francês voltou a se posicionar sobre o assunto, desta vez pedindo para que os torcedores dos Gunners e do Leicester, que se enfrentam neste domingo, não coloquem em execução o protesto programado para o confronto.
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A iniciativa partiu de um grupo de torcedores do Leicester, que pretende entrar na área que lhe foi destinada apenas quando o jogo já estiver em andamento. A ideia tem se espalhado, e o REDaction, uma das associações de torcedores do Arsenal, já afirmou que dará seu apoio ao ato dos Foxes, aplaudindo a torcida adversária em sua entrada, assim como fez com torcedores do Bayern de Munique que executaram o mesmo tipo de protesto, também contra preços abusivos de ingressos, no encontro entre as duas equipes no Estádio Emirates, na atual edição da Champions League.
Em declarações publicadas pela BBC, Wenger usou um argumento esdrúxulo para defender que os torcedores deixem os protestos apenas para antes e depois do jogo, quando teriam muito menos repercussão do que o que se planeja. “Vocês podem protestar antes e depois, mas durante o jogo você quer todo mundo lá. A vida não é fantástica todos os dias. Às vezes ela é entediante, às vezes é difícil, para muitas pessoas. O futebol é um momento de alegria na sua vida, então não deixe passar”, recomendou.
Enquanto torcedores, jornalistas ingleses e mesmo alguns jogadores e treinadores defendem que as novas receitas com o acordo de TV da próxima temporada deveriam ser usadas para subsidiar uma diminuição no preço dos ingressos, Wenger defendeu na semana passada que o dinheiro deverá ser usado para investir na contratação de jogadores. “O que acontecerá é que o preço dos jogadores irá subir, e você precisa desse dinheiro extra para comprar novos jogadores. Acredito que a pressão em gastar dinheiro aumentou, e você não pode necessariamente distribuir o dinheiro para outras pessoas”, argumentou o técnico.
Nesta semana, o francês voltou a comentar o assunto, defendendo a política de preços do Arsenal. “É um assunto muito complicado. Nosso ingresso mais caro é uma fração mais alto do que o de outros clubes em Londres. Nosso preço de ingresso mais comum é mais barato do que o de muitos lugares em Londres. Não acho que temos um problema enorme nesse quesito. Você quer que o preço do ingresso seja o mais confortável possível para nossos torcedores. Nossos ingressos mais baratos são mais baratos do que qualquer um em Londres”, afirmou, tirando os dados de algum tipo de pesquisa imaginária, afinal, o Arsenal é o clube que cobra mais caro por ingressos na Premier League.
Os Gunners têm, disparados, a entrada mais cara da competição, a £ 97, acima de West Ham (£ 95) e Chelsea (£ 87), e também o carnê de temporada mais custoso, vendido a £ 2.013, consideravelmente à frente das £1.895 cobradas pelo Tottenham, segundo no quesito. Mesmo as entradas mais baratas no Emirates são mais caras que a média das entradas mais baratas da liga (£ 27 no estádio do Arsenal e £ 20 na média do campeonato). Um estudo da Deloitte mostrou que, como consequência dos preços dos ingressos caríssimos e excludentes praticados pelo clube, o Arsenal foi o clube que mais lucrou com seu estádio (com venda de ingressos e produtos em dias de jogo) no mundo, faturando £ 101,84 milhões na última temporada.
Todos esses números fazem a argumentação de Wenger subir pelo telhado e dão aos torcedores ainda mais motivos para se engajarem no protesto previsto para o jogo deste domingo. Pela maneira como o tópico tem evoluído na Inglaterra, é possível que o treinador futuramente se arrependa da posição que está tomando publicamente.