Nada de Robin Hood: decisão da Premier League instaura uma verdadeira crise no futebol inglês
Repasse de 900 milhões de libras para as divisões inferiores foi negado por 10 times da Premier League
A Premier League é um exemplo de gestão e como fazer seu campeonato ser uma marca global. A liga, precária em todos os sentidos na década de 80, deu a volta por cima e agora é a mais consumida em todo o mundo por sua grande qualidade no espetáculo. Tudo isso garante muita grana aos clubes, principalmente pelos direitos televisivos. E se depender dos times na elite do futebol inglês, esse dinheiro continuará no topo da pirâmide e não será distribuído para as divisões inferiores.
Isso porque, segundo reportagem do jornal inglês Daily Mail, 10 clubes da PL, dentre eles quatro integrantes do Big Six, Arsenal, Chelsea, Tottenham e Liverpool (além de West Ham, Aston Villa, Wolverhampton, Nottingham Forest, Crystal Palace e Bournemouth), se mostraram contrários a ceder 900 milhões de libras nos próximos cinco anos para English Football League (EFL), a entidade responsável por administrar a segunda, terceira e quarta divisões do futebol na Inglaterra, que contam com 72 times no total.
A recusa veio em reunião na última segunda-feira (11), quando Richard Masters, chefe executivo da liga, apresentou a proposta, que nem entrou em votação, tamanha a rejeição dos donos das equipes e também o interesse em discutir outros assuntos, principalmente as regras de sustentabilidade que tem dado pesadelos a alguns times. Qualquer alteração na PL precisa que 14 dos 20 clubes sejam favoráveis em uma votação – mas, caso haja abstenções, o número pode cair.
Os 900 milhões seriam para toda a estrutura inferior do futebol inglês, como um mecanismo de solidariedade, até porque as equipes só podem chegar na elite da Inglaterra após passar pela pirâmide de divisões.
A pauta é de interesse do governo britânico, que há dois anos informou a PL sobre a necessidade do repasse de verba às divisões inferiores e buscou, por meio da secretária de Cultura, Lucy Frazer, convencer os clubes nesta semana, o que evitaria a necessidade de intervenção do estado, algo que parece improvável hoje com a proximidade da apresentação da Lei de Governança do Futebol. Esse projeto, que conta com aprovação do primeiro-ministro conservador Rishi Sunak, segundo o Bloomberg, terá poderes de regular a Premier e fazer-se cumprir à força o acordo com a EFL.
No entanto, ainda segundo o Daily Mail, os clubes estudam tomar medidas legais contra o governo caso sejam obrigados a cumprir com o valor. Os bilionários donos dos times da Premier entendem que é “impraticável” que uma empresa seja forçada a ceder dinheiro para uma equipe que pode ocupar seu lugar no futuro. Alguns também entendem que, caso sejam punidos pela justiça, seria menor do que os 900 milhões ao longo de cinco anos previstos no repasse.
Nem EFL ou Premier League quiseram comentar o caso. O assunto ainda deve render bastante nas próximas semanas e até meses, seja dentro dos clubes da Premier League, da EFL ou nos corredores da residência oficial do primeiro-ministro, que deve enfrentar as eleições legislativas no segundo semestre desse ano. Segundo o The Athletic, a aprovação do repasse deve se estender, no mínimo, até a próxima temporada, com possibilidade de ser além disso.