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Os 10 grandes momentos alternativos da temporada europeia

O time que se recusa a jogar e é abraçado pela torcida
Em protesto, jogadores do Racing se recusaram a jogar contra a Real Sociedad, na Copa do Rei
Em protesto, jogadores do Racing se recusaram a jogar contra a Real Sociedad, na Copa do Rei

O Racing de Santander estava distante de seus melhores dias. A crise financeira havia derrubado o clube para a terceira divisão do Campeonato Espanhol, com amplas dívidas e risco de falência. Obviamente, a crise respingou no bolso dos funcionários, que deixaram de receber. E, na visão de quem acompanha o dia a dia do clube de perto, a culpa estava toda na diretoria. Um magnata indiano se cansou do brinquedinho e deixou o clube nas mãos de Francisco Pernía, acusado de fraudes e má gestão. Pois os racinguistas resolveram pressionar o pedido de demissão dos cartolas no jogo de volta das quartas de final da Copa do Rei, contra a Real Sociedad. Entraram em campo, mas para se abraçar e dar uma volta olímpica. E ganharam o apoio dos milhares que foram até o estádio já sabendo do boicote, ainda assim prontos para aplaudir seus heróis. Como prêmio à união, no final da temporada o Racing conquistou o acesso à segunda divisão espanhola, o que já dá ótimas perspectivas para o clube.

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O mais asiático dos clubes europeus
Shakhter é novato nas competições europeias (Foto: AP)
Shakhter é novato nas competições europeias (Foto: AP)

Karaganda é uma cidade no território ocidental do Cazaquistão, a leste dos Montes Urais e, portanto, no continente asiático. Entretanto, durante os primeiros meses da temporada, se tornou o foco de atenção dos europeus, graças à campanha do Shakhter nos torneios continentais. O clube ficou a um triz da classificação à fase de grupos da Liga dos Campeões. Após eliminar Slovan Liberec, Bate Borisov e Skenderbeu Korçe, precisava passar apenas pelo Celtic para chegar à máxima glória. Porém, não adiantaram nem mesmo os cordeiros imolados em sacrifício para que os cazaques conquistassem o milagre. A equipe venceu por 2 a 0 em Karaganda, mas acabou tomando a virada do Celtic em Glasgow, por 3 a 0. Ainda assim, o Shakhter passou à fase de grupos da Liga Europa, na qual foi eliminado sem nenhuma vitória. A história, de qualquer forma, já estava escrita.

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O milagre de Gus Poyet
Gus Poyet, técnico do Sunderland (AP Photo/Scott Heppell)
Gus Poyet, técnico do Sunderland (AP Photo/Scott Heppell)

O Sunderland começou a Premier League como sério candidato ao rebaixamento. Os Black Cats demoraram nove rodadas para conquistar a primeira vitória e, nas oito anteriores, somaram apenas um ponto. A campanha não se tornou tão espetacular de imediato, mas Gus Poyet conseguiu formar um time. O técnico passou a obter resultados um pouco melhores na liga (afinal, não dava para piorar) e levou os alvirrubros à decisão da Copa da Liga Inglesa, na qual deram muito trabalho ao Manchester United. Mas o momento realmente fantástico aconteceu nas últimas seis rodadas: foram quatro vitórias e um empate, incluindo Chelsea e Manchester United entre as vítimas. A torcida acreditou e o impossível aconteceu. Alegria enorme para o pequeno George, que se tornou o mascote do time durante a campanha e, mais do que isso, também um exemplo de vida.

Os germânicos ganham asas no futebol
Alan foi destaque no Red Bull Salzburg na temporada
Alan foi destaque no Red Bull Salzburg na temporada

Não é de hoje que a Red Bull investe pesado no futebol. Entretanto, em nenhuma temporada os resultados na Europa foram tão bons. Primeiro, porque o Red Bull Salzburg, carro-chefe da empresa, finalmente resolveu vingar nas competições europeias. Os Touros Vermelhos passaram por cima no Campeonato Austríaco, chegando a incríveis 110 gols em 36 partidas, com a dupla fulminante formada por Jonathan Soriano e Alan. E, apesar da eliminação para o Fenerbahçe nas preliminares da Liga dos Campeões, o time brilhou na Liga Europa ao eliminar o Ajax com requintes de crueldade, antes de cair para o Basel nas oitavas. Se as coisas andam bem na Áustria, também começam a reluzir na Alemanha. O RB Leipzig consegue conquistar cada vez mais o público local e emplacou o segundo acesso seguido, se garantindo na segunda divisão da Bundesliga. Não dá para dizer que o clube irá se tornar um novo Bayern, como o dono da empresa respondeu, mas alcançar o Hoffenheim parece bastante palpável.

Um nanico na Liga das Estrelas

eibarO Éibar é figurinha carimbada nas divisões de acesso do Campeonato Espanhol. Todavia, a elite era apenas um sonho na mente dos torcedores do pequeno clube basco. Era. Apesar da folha de pagamentos modesta e do elenco barato, os azulgranas conquistaram o acesso na segunda divisão, de maneira até surpreendente. Com uma defesa bastante sólida, a equipe prezou pela regularidade que a concorrência não teve e tem a chance até mesmo de colocar as mãos na taça, com a derrocada do Deportivo de La Coruña. Questão maior será se o Éibar poderá mesmo disputar a primeira divisão. Embora não sustentem dívidas, ao contrário da maioria dos clubes espanhóis, os bascos precisam apresentar um capital mínimo para não correrem o risco de serem rebaixado à terceira divisão. O clube terá que arrecadar cerca de € 1,725 milhões e, na base da colaboração, já conseguiu € 1 milhão.

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A capital sem clubes na primeira divisão
Hibernian acabou rebaixado e Edimburgo ficou sem time na 1ª divisão
Hibernian acabou rebaixado e Edimburgo ficou sem time na 1ª divisão

Edimburgo é a capital política da Escócia, mas o título de capital do futebol fica mesmo com Glasgow. Ainda assim, apesar do domínio evidente de Celtic e Rangers, os clubes locais tiveram seus momentos de sucesso, com oito títulos nacionais de seus dois grandes. Que, nesta temporada, foram parar no limbo. O Hearts of Midlothian vinha sofrendo há tempos com a grave crise financeira. Perdeu 15 pontos por entrar em concordata e acabou isolado na lanterna do campeonato, sem qualquer chance de salvação. Já o rival Hibernian, em situação não muito melhor, foi parar nos play-offs contra o rebaixamento e acabou degolado ao perder nos pênaltis para o Hamilton Academical. Na próxima temporada, o clássico de Edimburgo acontecerá na segunda divisão, bem como serão adversários do tradicionalíssimo Rangers, que conquistou o segundo acesso seguido após falir e ser relegado à quarta divisão.

A estrela do maior campeão voltou a brilhar na Sérvia
Estrela Vermelha voltou a levantar a taça na Sérvia
Estrela Vermelha voltou a levantar a taça na Sérvia

Os últimos anos foram de amargura para a torcida do Estrela Vermelha. Os alvirrubros viram o Partizan dominar o Campeonato Sérvio por seis temporadas seguidas, um hexacampeonato que era inédito na história do país – e mesmo considerando os tempos de Iugoslávia. Pior, na soma geral de títulos, os grandes rivais conseguiram se equiparar ao Estrela Vermelha como maiores campeões nacionais, cada um com 25 taças. Pois a redenção dos vermelhos veio no momento exato, para não serem superados pelos arqui-inimigos. Foram perseguidos de perto pelos alvinegros no topo da tabela e fizeram clássicos (literalmente) quentes, com focos de incêndio dentro dos próprios estádios. No final, porém, ficou um ponto à frente do Partizan, o suficiente para uma enorme festa na última rodada.

O Anzhi saiu do sonho de dominar a Europa à segunda divisão

 

O Anzhi foi rebaixado no Campeonato Russo
O Anzhi foi rebaixado no Campeonato Russo

O projeto era ambicioso: o Anzhi queria se tornar não só campeão russo, mas um time que frequenta a Liga dos Campeões e, mais ainda, chegar ao título europeu. Claro, sonhar é de graça, mas o time tinha recursos. Chegou a pagar o maior salário do mundo a Eto'o para tirá-lo da Internazionale, em 2011. O projeto ainda não tinha dado resultados – o time sequer tinha conseguido chegar à Liga dos Campeões – e o dono, Suleyman Kerimov, resolveu diminuir os investimentos para a atual temporada, 2013/14. Eu disse diminuir? Entenda corte violento de gastos. O orçamento do time diminuiu para um terço do que era.

Na prática, isso significou se livrar vender os seus melhores e mais caros jogadores, ganhando dinheiro e diminuindo os salários. Willian, por exemplo, foi para o Chelsea por € 35,5 milhões. Kokorin, revelação russa, foi embora por € 19 milhões para o Dynamo Moscou, o time que tinha o vendido pelo mesmo valor meses antes. Boussoufa, Denisov, Lassana Diarra, Zhirkov, Samba, Lacina Traoré e Jucilei, entre outros, deixaram o clube. É claro que isso não poderia dar outro resultado: o time foi lanterna do Campeonato Russo, 20 pontos em 30 jogos, e acabou voltando ao lugar de onde tinha saído em 2009. Volta à segunda divisão e as perspectivas são sombrias para a temporada.

Primeiro campeonato de Gibraltar

LincolnDepois de ser aceita como membro da Uefa em maio, Gibraltar passou a oficialmente poder disputar competições e ter uma liga nacional reconhecida pela entidade. Reconhecida é a palavra certa, porque a liga existe desde 1905 e tem times estabelecidos, como atualmente o Lincoln Red Imps, que vence todas as edições do Campeonato Gibraltino desde 2000/01, exceção ao ano de 2001/02, quando o Gibraltar United levou o título. O Lincoln, aliás, é o maior campeão do país, com 19 títulos. A expectativa é que com a entrada na Uefa e a participação em competições continentais, o profissionalismo (e, por consequência, o dinheiro) aumente para atrair mais jogadores e conseguir fazer alguma figuração na Europa.

Região de influência inglesa, embora fosse território espanhol, Gibraltar participará de sua primeira competição oficial nas Eliminatórias para a Eurocopa de 2016, na França. A liga de Gibraltar classificou seus primeiros times à Liga dos Campeões e Liga Europa: o Lincoln e o College Europa, respectivamente. Os dois times entrarão na primeira fase preliminar das duas competições. No dia 23 de junho será feito o sorteio na Uefa para que os times gibraltarianos conheçam seus primeiros adversários em competições europeias. Os jogos do Lincoln na Liga dos Campeões serão nos dias 1º ou 2 de julho, enquanto a volta será no dia 8 ou 9 de julho. Na Liga Europa, os jogos da primeira fase preliminar serão nos dias 2 e 10 de julho. A temporada 2013/14 será marcante como a primeira de uma liga que, depois de mais de 100 anos, conseguiu o reconhecimento como uma competição oficial.

Os tratores invadiram Paris
A invasão de tratores da torcida do Guingamp em Paris foi um momento marcante
A invasão de tratores da torcida do Guingamp em Paris foi um momento marcante

Conquistar a Copa da França não era um fato inédito para a torcida do Guingamp. O clube da Bretanha, frequentador costumeiro da Ligue 1, já havia alcançado o feito em 2009. Cinco anos depois, veio a chance de repeti-lo. E a torcida do Guingamp invadiu Paris da maneira mais simbólica possível. Dezenas de tratores saíram da cidadezinha de menos de oito mil habitantes no norte do país, pegaram a estrada e seguiram à capital. Uma forma de reforçar as raízes agrícolas do clube e o caráter regional. Não dá para saber se o episódio intimidou ou não o Rennes na final, mas o fato é que o Guingamp triunfou no Stade de France, vitória por 2 a 0. Para que a volta dos tratores para casa se transformasse em uma enorme carreata.

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Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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