Premier League

O Wolverhampton teve uma atuação maiúscula contra o United, para vencer no fim e encerrar um jejum de 41 anos em Old Trafford

Dominante em diferentes momentos do jogo, o Wolverhampton mereceu o resultado conquistado aos 42 do segundo tempo, com um chute certeiro de João Moutinho

O Wolverhampton passou 41 anos sem vencer o Manchester United em Old Trafford pelo Campeonato Inglês. Tudo bem que os Lobos ficaram longos períodos fora da elite, mas o jejum se estendia por dez jogos, desde fevereiro de 1980. Uma espera encerrada nesta segunda-feira, com uma brilhante atuação da equipe dirigida por Bruno Lage. Os Lobos estavam famintos em campo, depois de um intervalo de 15 dias sem atuar por conta dos casos de Covid-19. O primeiro tempo dos visitantes já seria superior, com boas defesas de De Gea para evitar o pior. Já na segunda etapa, mesmo com a melhora do United e uma bola no travessão de Bruno Fernandes, os Wolves não desistiram do triunfo. Conquistaram a emocionante vitória por 1 a 0, com o gol de João Moutinho aos 42 do segundo tempo. O resultado quebrou a invencibilidade de Ralf Rangnick à frente dos Red Devils.

A grande novidade na escalação do Manchester United era a aparição de Phil Jones. O zagueiro não atuava pelo clube há dois anos e substituiu Harry Maguire na defesa, ao lado de Raphaël Varane. Já na frente, Cristiano Ronaldo ganhou a braçadeira de capitão e vinha ao lado de Edinson Cavani, ambos municiados por Mason Greenwood e Jadon Sancho. O Wolverhampton contava com os retornos de Nélson Semedo e Francisco Trincão. O destaque ficava para Rúben Neves e João Moutinho na cabeça de área, além de Raúl Jiménez no comando de ataque. Um dos melhores goleiros desta Premier League, José Sá era outra segurança.

Quem esperava o Wolverhampton na defesa em Old Trafford se enganou. Os Lobos fizeram um ótimo início de jogo, ao tomarem a iniciativa e se postarem no campo ofensivo. Os meio-campistas davam o controle da partida ao time de Bruno Lage, que também aproveitava bastante as investidas pelos lados. E logo as primeiras chances começaram a surgir, sem que os visitantes economizassem nas finalizações. David de Gea mais uma vez precisou provar sua grande forma. O espanhol espalmou com firmeza um chute potente de Daniel Podence e voaria para desviar um lindo tiro de Rúben Neves da entrada da área, na sobra de uma cobrança de escanteio. Do outro lado, exceção feita a um contra-ataque desperdiçado por Sancho, o United não oferecia muito.

O Manchester United se mostrava exposto nas laterais e não mantinha grandes períodos com a posse de bola. Mason Greenwood era quem oferecia um pouco mais de ímpeto aos Red Devils, mas demorou para que a primeira boa chance surgisse. Aos 28, Cristiano Ronaldo aparecia em boas condições no segundo pau, mas o cruzamento veio alto. A reta final do primeiro tempo se tornou um pouco mais equilibrada, embora a ameaça imposta pelo Wolverhampton persistisse. Aos 35, Raúl Jiménez cabeceou com muito perigo, mesmo impedido. Os Lobos apresentavam um jogo bem construído, enquanto parecia haver certa ansiedade entre os Red Devils.

Diante das necessidades, o segundo tempo começou melhor para o Manchester United. Os Red Devils passaram a acertar mais os passes e aumentaram o seu ritmo. Ainda não geravam tantas oportunidades, mas era uma equipe mais capaz. E a primeira alteração aconteceu aos 15 minutos, com uma dose de surpresa: Bruno Fernandes saiu do banco no lugar de Greenwood, quando se esperava a substituição de Cavani – o que gerou certa insatisfação em Old Trafford. Do outro lado, Adama Traoré viria para o posto de Trincão.

A melhora do Manchester United era visível, com o impacto de Bruno Fernandes. Aos 22, numa cobrança de lateral em que Nemanja Matic escapou pela linha de fundo, o português apareceu livre na área. Mandou uma pancada e desperdiçou o lance aberto, ao chacoalhar o travessão adversário. Logo na sequência, em falta cobrada por Fernandes, Cristiano Ronaldo desviou para as redes, mas teve o gol anulado. E o meia ainda acertaria um baita lançamento para Ronaldo disparar aos 24, em batida ao lado da trave. O Wolverhampton era bem mais poroso na defesa e tinha dificuldades para responder. Um novo susto só viria aos 30, numa falta batida por Roman Saïss que resvalou no travessão.

A partir deste momento, o jogo pegou fogo. Nenhuma das equipes parecia disposta a abrir mão do resultado e ambas atuavam de maneira vertical, com algumas bolas espetadas na área. As defesas precisavam se manter atentas. Marcus Rashford e Fábio Silva saíram do banco, dando novas opções aos seus times. Porém, o gol sairia mesmo com um dos melhores em campo até então, aos 42. E foi do Wolverhampton. Adama Traoré arrancou até a linha de fundo e cruzou para o meio da área. A zaga afastou só parcialmente e João Moutinho dominou o rebote com liberdade. O veterano engatilhou o chute e a bola não pegou tanta força, mas foi certeira para entrar no cantinho. De Gea não teve chances e só viu o arremate entrar. A vibração dos Lobos na comemoração foi grande, e com toda razão.

Depois disso, o Manchester United não conseguiria estabelecer uma pressão tão consistente, mesmo com a cartada no atacante Anthony Elanga no lugar de Aaron Wan-Bissaka. O Wolverhampton manteve sua atuação inteligente e soube gastar o tempo, ao trocar passes e prender a bola no campo de ataque. Leander Dendoncker ajudava a fechar a equipe, na vaga do ótimo Daniel Podence. Foi somente nos acréscimos que o United voltou a rondar a área dos Lobos, sem sucesso. No último suspiro, ainda surgiu uma oportunidade de ouro, em cobrança de falta frontal para Bruno Fernandes. O meia encheu o pé, mas José Sá fez grande defesa e assegurou a festa dos Lobos.

O Wolverhampton emenda a terceira partida consecutiva sem perder. Os Lobos sobem ao oitavo lugar, com 28 pontos somados em 19 partidas disputadas. Já o Manchester United é o sétimo, com 31 pontos em 19 partidas. A invencibilidade de Ralf Rangnick cai já com sua dose de pressão, considerando que os Red Devils ficam a quatro pontos de entrar no G-4, embora com uma partida a menos.

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Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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