O momento da demissão é estranho, mas Marsch deixa o Leeds onde o encontrou: lá embaixo na tabela
Em 11 meses, e mesmo com vários reforços, o Leeds evoluiu muito pouco (se alguma coisa) e segue na briga contra o rebaixamento

Jesse Marsch tinha uma clara missão quando assumiu o Leeds no lugar de Marcelo Bielsa, no fim de fevereiro do ano passado: escapar do rebaixamento. Conseguiu, com uma vitória sobre o Brentford na última rodada. No entanto, apesar de muito dinheiro investido, não deu o passo à frente que era esperado e foi demitido nesta segunda-feira, sem conseguir ganhar de um adversário de primeira divisão desde o começo de novembro.
Após 20 rodadas da Premier League, o Leeds está em 17º lugar, com 18 pontos. Ganhou apenas quatro vezes, com seis empates e dez derrotas. Bielsa somou 20 pontos nos 20 primeiros jogos da temporada em que foi demitido. Ou seja, o clube está praticamente no mesmo lugar onde Marsch o encontrou 11 meses atrás: na parte de baixo da tabela, brigando contra o rebaixamento e com dificuldade para traduzir desempenho em resultados, como o próprio técnico admitiu depois de perder para o Nottingham Forest no último domingo.
“Eu tenho que encontrar uma maneira de transformar boas atuações em vitórias porque é onde estamos neste momento e onde estamos há um tempo. É o último passo para mim. Eu entendo a frustração e a aceito. Eu tenho que encontrar uma maneira de transformar coisas boas em resultados ou estaremos em uma situação estressante”, disse.
A situação do Leeds é estressante há alguns meses. Desde que emendou vitórias consecutivas contra Liverpool e Bournemouth (um emocionante 4 a 3 após estar perdendo por 3 a 1), venceu apenas o Cardiff City, da segunda divisão, e o Accrington Stanley, da terceira, pela Copa da Inglaterra. Na Premier League, são sete rodadas sem vitória e, no geral, ele conseguiu ganhar apenas oito jogos da primeira divisão inglesa desde que substituiu Bielsa.
O mercado do Leeds aumentou a pressão sobre Marsch. Não apenas pelo dinheiro investido, cerca de € 145 milhões, mas também pelo perfil dos reforços. Importa pouco além da coincidência que ele tenha contratado três jogadores da seleção dos EUA porque Brendan Aaronson, Tyler Adams e Weston McKennie são talentos que teriam espaço em muitos clubes da Premier League.
No entanto, também foram quatro contratações de clubes da Red Bull, nos quais Marsch fez toda a sua carreira antes de chegar à Inglaterra – além de Adams e Aaronson, Rasmus Kristensen e Max Wöber, do Salzburg. Outros dois nomes chegaram da Bundesliga, na qual ele esteve em 2021 no comando do RB Leipzig : Marc Roca, do Bayern de Munique, e Georginio Rutter, do Hoffenheim. Marsch não é o único profissional do futebol que observa a seleção americana, os times da Red Bull e a Bundesliga, mas ficou muito claro que o clube estava disposto a acatar as suas sugestões.
O que torna também um pouco estranho o momento da demissão porque o Leeds não deu muito tempo para ele brincar com os reforços de janeiro – Wöber, Rutter e McKennie. Marsch caiu no primeiro jogo após o fechamento da janela de inverno e algumas semanas depois de trazer o seu amigo e ex-colega Chris Armas para a comissão técnica. Ex-assistente de Marsch no New York Red Bulls, Armas foi anunciado em 25 de janeiro. Pela nota oficial do Leeds, continuará no clube, mas outros membros da comissão – Rene Maric, Cameron Toshack e Pierre Berrieu – saíram com o chefe.
Marsch ainda é um técnico relativamente jovem (49 anos) que chamou a atenção pelo seu trabalho à frente do Red Bull Salzburg, com duas dobradinhas dos principais campeonatos da Áustria entre 2019 e 2021, mas as duas tentativas de dar um salto na sua carreira não foram bem sucedidas. Foi demitido após cinco meses pelo Leipzig, que melhorou quase imediatamente com Domenico Tedesco – que depois também foi mandado embora sem muita cerimônia.
Quando chegou ao Leeds, a imprensa inglesa ficou um pouco fascinada com o potencial choque de cultura de um americano treinando na Premier League, mas a realidade ficou longe da ficção – vejam Ted Lasso. Teve um papel importante para resgatar a temporada em que a fórmula de Bielsa esgotou, evitou falar soccer e era capaz de apresentar claramente as suas ideias. Na prática, porém, nunca encontrou regularidade, mesmo com apoio no mercado de transferências e mais tempo para desenvolver suas próprias ideias. Onze meses depois, o Leeds não está significativamente melhor, talvez não esteja nem um pouquinho, e agora tomará uma nova direção.