Premier League

No último confronto direto na ponta da tabela, Liverpool goleou o United com pintura de Fábio Aurélio

Talvez seja exagero dizer que o Manchester United é favorito para enfrentar o Liverpool, em Anfield, no próximo domingo. Mas é que chega em melhor fase. Ganhou nove das últimas 11 rodadas da Premier League, com outros dois empates, e assumiu a liderança da tabela. Superou o Liverpool, que não vence há três jogos, e ficou três pontos para trás. É verdade que o Manchester City, com uma partida a menos, está teoricamente à frente do atual campeão inglês. Contudo, por enquanto, o próximo confronto direto entre os maiores vencedores da Inglaterra valerá a ponta.

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O que é curiosamente pouco comum. Como mostramos neste texto, são raros na história momentos em que Liverpool e United estão fortes ao mesmo tempo. A temporada do 2008/09 foi a última em que os dois tiveram um clássico para disputar a ponta. E embora os Red Devils tenham ficado com o título no fim, os Reds impuseram a pior derrota do United em casa pela elite inglesa desde 1991: 4 a 1.

O United era o atual campeão europeu e ainda tinha Cristiano Ronaldo. Em Anfield, Rafa Benítez contava mais qualidade do que nunca à sua disposição: Steven Gerrard, Xabi Alonso, Javier Mascherano, Fernando Torres, Pepe Reina, Jamie Carragher e bons coadjuvantes que lhe permitiram brigar de verdade pelo título inglês.

O Liverpool havia vencido o clássico do primeiro turno, pela quarta rodada, em meio a um começo ótimo de Campeonato Inglês. Ganhou sete das dez primeiras partidas. Mas tomou gosto demais pelo empate no segundo terço do campeonato (oito em 13 jogos) e perdeu do Middlesbrough a 11 jogos do fim. Quando chegou a vez de visitar Old Trafford, estava empatado com o Chelsea, a quatro pontos do líder Manchester United – que tinha um jogo a menos.

O jogo estava marcado para 14 de março. Alguns dias antes, o Liverpool havia goleado o Real Madrid por 4 a 0, pela Champions League, e parece razoável dizer que aquela foi a melhor semana da temporada. Benítez estava preocupado com as condições físicas de Gerrard e Torres, que acabaram conseguindo entrar em campo. Mas estava sem Xabi Alonso e perdeu Álvaro Arbeloa no aquecimento.

Hyppia entrou na zaga ao lado de Martin Skrtel, com Carragher na lateral direita e Fábio Aurélio na esquerda. Mascherano e Lucas Leiva deram sustentação ao meio-campo para Albert Riera, Dirk Kuyt e Steven Gerrard, com Fernando Torres no comando de ataque. O United começou com Van der Saar, John O’Shea, Ferdinand, Vidic e Patrice Era na defesa. Cristiano Ronaldo à direita, Park Ji-Sung à esquerda, com Carrick e Anderson pelo centro. À frente, Wayne Rooney e Carlos Tevez.

O Manchester United abriu o placar, aos 22 minutos, na primeira chance de verdade da partida. Tevez enfiou uma boa bola para Park, derrubado por Reina dentro da área. Cristiano Ronaldo bateu cruzado para fazer 1 a 0. O Liverpool não demorou muito para empatar. Às vezes é difícil se lembrar do quão bom era Fernando Torres naquela época. Vidic calculou mal o pingo da bola, mas ainda tinha um corpo de vantagem. Foi superado na velocidade pelo espanhol, que roubou a bola e tocou no canto.

Torres seguiu infernizando a defesa do United, e Tevez quase marcou no rebote de uma daquelas cobranças de falta venenosas de Cristiano Ronaldo. Carrick não mandou muito longe do ângulo de Reina, minutos antes de Patrice Evra cometer pênalti em cima de Gerrard com um carrinho pela direita da grande área. O capitão dos Reds bateu firme e virou o jogo para o Liverpool, ainda antes do intervalo.

O placar seguiu igual durante os primeiros 30 minutos do segundo tempo, com poucos momentos de grande emoção, até Vidic lembrar que não era realmente o seu dia. Primeiro, ele errou o domínio na entrada da área. E quando Gerrard interceptou e se preparou para invadir a área, fez falta, interrompendo o que o árbitro considerou uma oportunidade clara e manifesta de gol: cartão vermelho.

E como desgraça pouca é bobagem, Fábio Aurélio cobrou a infração direto ao ângulo esquerdo de Van der Sar e ampliou o placar ao Liverpool. Gerrard teve uma chance de ouro de marcar o quarto, ao receber um passe de calcanhar de Babel completamente livre na marca do pênalti, mas isolou. Cristiano Ronaldo furou o que seria uma finalização perigosa e, de todas as pessoas do mundo, foi Andrea Dossena quem transformou a vitória em goleada com um toque por cobertura sobre Van der Sar.

Apesar da goleada, Ferguson disse que o Manchester United “havia sido o melhor time”, o que o Guardian classificou como uma candidata à declaração mais maluca da temporada, enquanto Benítez afirmou que, para ser campeão, precisaria conquistar os três pontos em todos os jogos e esperar o United perder alguns.

Era bom de conta, o Benítez. O United perdeu o jogo seguinte, contra o Fulham. O Chelsea também, aliás, para o Tottenham, deixando o Liverpool isolado em segundo lugar. Mas houve um problema: na sequência, o time de Alex Ferguson começou a ganhar todos os jogos. O Liverpool seguiu com um ótimo aproveitamento, mas um empate contra o Arsenal – aquele 4 x 4, o Dia do Arshavin – permitiu que o adversário se afastasse.

O United até empataria com o mesmo Arsenal, na penúltima rodada, e, embora o Liverpool tenha ganhando todos os outros jogos da reta final, era tarde demais para alcançar o maior campeão da história da Premier League. Acabou ficando a apenas quatro pontos do título, o mais próximo que havia chegado de quebrar o jejum de títulos ingleses até aquele momento. Teria que esperar mais 11 anos.

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Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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