Premier League

Díaz saiu do banco para arrancar o empate apenas uma semana depois do sequestro do seus pais

Com o pai ainda nas mãos dos sequestradores, o colombiano marcou o gol que valeu o empate para o Liverpool contra o Luton Town

Embora o grupo guerrilheiro que sequestrou seu pai tenha dito que iniciou o processo para liberá-lo, isso ainda não aconteceu, e mesmo assim Luis Díaz decidiu voltar aos treinamentos do Liverpool e entrou em campo neste domingo, apenas uma semana depois do ocorrido. Começou no banco de reservas neste contra o Luton Town e diminuiu o prejuízo do que ainda é um tropeço imperdoável do time de Jürgen Klopp ao marcar o gol de empate por 1 a 1 aos 50 minutos do segundo tempo.

Klopp disse antes da partida que o peso emocional ainda é grande para Díaz, mas ele decidiu voltar aos trabalhos três dias atrás. Os seus dois pais foram sequestrados na Colômbia no último domingo. A mãe já foi liberada. Klopp acrescentou que “todos os sinais são muito positivos”, com as negociações em andamento, e por isso ele decidiu fazer parte do time: “Ninguém consegue imaginar o que alguém se sente com algo assim. Ele esteve bem nos treinos e por isso está aqui”.

Após marcar, com uma cabeçada na segunda trave, Díaz levantou a camisa do Liverpool e mandou uma mensagem que não precisa de tradução: “Libertad para papa”.

Luton Town trava o Liverpool

O ataque do Liverpool teve Diogo Jota e Darwin Núñez revezando entre a esquerda e a região central. Ryan Gravenberch começou no meio-campo, e Jürgen Klopp preferiu Joe Gomez na lateral esquerda a Tsimikas, com Andrew Robertson ainda machucado.

Em um primeiro momento, parecia que o gol dos visitantes era questão de tempo. Em boa fase, Núñez estava empolgado, confiante, e criou as melhores chances. Aos cinco minutos, levou da esquerda para dentro e bateu colocado, para boa defesa do goleiro Thomas Kaminski. Outra arrancada terminou no travessão e a situação mais clara foi após lançamento de Alexander-Arnold. O uruguaio dominou dentro da área, pela direita, e bateu alto. No travessão.

O Luton Town havia chegado apenas uma vez, com uma batida de Issa Kaboré por cima do travessão de Alisson, e tinha claras dificuldades para superar os obstáculos do Liverpool quando recuperava a bola. Mas se defendeu de maneira organizada, com concentração e desarmes duros, o suficiente para deixar o adversário incomodado.

A segunda metade da etapa inicial foi pobre. Os Reds não conseguiam encontrar os espaços. Na bola parada, Salah teve uma oportunidade de frente, e mandou por cima, e Núñez cabeceou para fora. O gol poderia ter saído aos 33 minutos, após uma bela arrancada de Gravenberch pelo meio. Levou à entrada da área e soltou na hora certa para Jota pegar de primeira por baixo. Kaminski fez outra boa defesa.

E depois o pune

O panorama não mudou no segundo tempo. Inteiro. O Luton Town teve uma resposta para tudo que o Liverpool tentou e começou a ameaçar mais, como aos 18 minutos, quando Chiedozie Ogbene fez grande jogada pela esquerda, passando por Arnold e Konaté, meio aos trancos e barrancos, e tocou no meio para Carlton Morris. Alisson saiu do gol para fazer uma grande defesa. A jogada motivou Klopp a se mexer, com uma tripla substituição que introduziu Harvey Elliott, Cody Gakpo e Tsimikas nos lugares de Szoboszlai, Diogo Jota e Joe Gomez, respectivamente.

Os visitantes tiveram um intervalo de 10 minutos em que conseguiram criar boas chances, mas sempre faltou um detalhe para a bola entrar. O cruzamento de Elliott, por exemplo, chegou um pouco atrás de Gakpo, que fez um malabarismo para tentar finalizar ao gol e não conseguiu. No lance seguinte, faltou mais do que um detalhe. Núñez está em plena recuperação depois de uma primeira temporada fraca e marcada por falta de confiança. Decidiu contra o Bournemouth durante a semana com um golaço. Mas desperdiçou uma chance que absolutamente não pode desperdiçar.

Arnold cruzou para a segunda trave. Inteligente, Salah apenas aparou de cabeça e deixou a bola pingando na pequena área. Núñez apareceu livre. Preparado para estufar as redes com gosto. Soltar toda a raiva de uma partida difícil e travada. Tudo isso teria acontecido se ele não pegasse de canela na bola, a menos de um metro da linha do gol. Mandou por cima. Pouco depois, quase se redimiu projetando-se nas costas da defesa, mas Kaminski fez boa defesa. E Salah parecia impedido antes de dar o passe para o companheiro.

A bola pune, como diria o filósofo, e depois de uma cabeçada de Van Dijk tirar casquinha do braço de um defensor do Luton Town e parar em Núñez, os donos da casa saíram em contra-ataque. Ross Barkley, cria das categorias de base do Everton, arrancou pelo meio e abriu na direita. Kaboré deu o passe na medida para Tahiti Chong se esticar e tocar na saída de Alisson: 1 a 0.

O empate era horrível, a derrota era um desastre contra (pelo menos) um dos dois piores elencos da Premier League. O Liverpool foi para o abafa, e uma cabeçada de Konaté passou pertinho da trave. Apenas aos 50 minutos, o zagueiro francês recuperou na entrada da área e deixou com Elliott. O cruzamento foi à segunda trave, onde Díaz subiu mais alto que Kaboré e mandou para as redes.

O tropeço ainda é péssimo para o Liverpool porque é difícil imaginar que outros candidatos ao título inglês não façam seis pontos contra o Luton Town. O resultado ainda foi suficiente para superar o Arsenal no saldo de gols e assumir a terceira posição, com a ajuda da derrota do Aston Villa para o Nottingham Forest. O Manchester City, porém, abriu três pontos, e o Tottenham pode abrir cinco se vencer o Chelsea nesta segunda-feira.

Enquanto isso, o Luton Town vai muito bem no Campeonato Estadual de Merseyside: quatro dos seus seis pontos foram contra times de Liverpool, incluindo a sua única vitória, diante do Everton. Subiu para o 17º lugar, fora da zona de rebaixamento.

Luis Díaz reforça apelo por liberdade do pai após marcar

Luis Díaz emitiu comunicado após o empate do Liverpool contra o Luton. Através de sua conta nas redes sociais, o colombiano reiterou o apelo pela liberdade do pai, Mane Díaz. Confira o texto completo:

Hoje não é o jogador de futebol que fala, hoje quem fala é Lucho Díaz, filho de Luís Manuel Díaz. Mane, meu pai, é um trabalhador incansável, nosso pilar na família e está sequestrado. Peço ao ELN a pronta liberação do meu pai, e solicito aos órgãos internacionais que intercedam por sua liberdade.

Cada segundo, cada minuto cresce nossa angústia; minha mãe, meus irmãos e eu estamos desesperados, angustiados e sem palavras para descrever o que estamos sentindo. Este sofrimento só terminará quando o tivermos de volta em casa.

Suplico que o liberem de imediato, respeitando sua integridade e terminando o quanto antes com essa espera dolorosa. Em nome do amor e compaixão, pedimos para reconsiderar suas ações e nos permitam recuperá-lo.

Agradeço aos colombianos e à comunidade internacional o apoio recebido, obrigado por tantas demonstrações de carinho e solidariedade neste momento tão difícil que nos encontramos, nós e muitas famílias no meu país.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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