Premier League

Henry, Cantona, Kanté: dez jogadores franceses que brilharam na Premier League

Eles tiveram papéis importantes em alguns dos times mais marcantes da liga moderna da Inglaterra - e até os dias de hoje

A criação da Premier League coincidiu com a Lei Bosman e o estabelecimento da cidadania europeia. De repente, clubes ingleses que cultivavam talento estrangeiro geralmente próximo, como da Escócia ou do País de Gales, tinham todo o mercado europeu para despejar as libras que entravam sem parar pelos contratos de televisão da nova liga. Como grande formadora de talento, e, se nem tanto culturalmente pelo menos geograficamente próxima, a França foi uma das principais exportadoras, principalmente nos primeiros anos, quando formou uma seleção que conquistou a Copa do Mundo e a Eurocopa. Muitos franceses brilharam nos campos da Premier League. Foi até difícil falar apenas de dez.

Thiery Henry

Henry com Wenger em sua apresentação (Foto: Getty Images)

Jogos de Premier League: 258
Gols: 175
Assistências: 74
Títulos: 2 (2003/04, 2005/06)
Artilheiro: 4 (2001/02, 2003/04, 2004/05 e 2005/06)
Craque da temporada: 2: (2003/04, 2005/06)

Arsène Wenger hoje é esse cara que defende Copa do Mundo a cada dois anos e diz que times foram eliminados na fase de grupos do Catar porque se distraíram com política. Quando era treinador, acertava bem mais as suas opiniões. Como esta que deu à BBC, em 1999, explicando quem era o segundo atacante do Mundial da França que o Arsenal havia contratado: “Ele é um jovem jogador de seleção que será um grande ativo do Arsenal. Tem boa experiência por clubes e seleção e reforçará consideravelmente nosso poder de fogo. Tem bom espírito e mentalidade para um jovem, velocidade, força e muito drible. Ele passa muitas opções. Pode jogar aberto ou pelo meio e faz qualquer coisa ser possível quando tem a bola nos pés”. A estrela daquele pacotão era Davor Suker. O que mudou a história do Arsenal e da Premier League foi Thierry Henry. Como Wenger previu, tudo era possível quando Henry tinha a bola nos pés. Ele fez golaços marcantes, arrancou gramados inteiros, deu assistências e conduziu os Gunners a dois títulos da Premier League, um deles invicto. Foi artilheiro de quatro edições, eleito o craque em duas e não é apenas o melhor francês a jogar pela liga inglesa moderna: é, provavelmente, o melhor atacante.

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Patrick Vieira

Vieira, do Arsenal (Foto: Getty Images)

Jogos de Premier League: 307
Gols: 31
Assistências: 34
Títulos: 3 (1997/98, 2001/02 e 2003/04)
Craque da temporada: 2000/01

Wenger é famoso por ter introduzido várias novidades em sua passagem pelo Arsenal. Uma das tecnologias mais importantes que usou, porém, foi o telefone: em 1996, ainda no Japão, preparando-se para assumir o clube, articulou a contratação de Patrick Vieira. O jogador que havia visto estrear pelo Cannes contra o seu Monaco era o primeiro que queria para começar a montar a sua dinastia. Vieira estava encerrando uma rápida passagem pelo Milan e havia desembarcado em Amsterdã para acertar com o Ajax. “Eles estavam esperando no hotel para ir ao escritório do clube assinar contrato. Quase não consegui impedi-los. Toda minha história poderia ter sido diferente. Essa é a coincidência e a sorte da vida. Eu tive sorte de intervir no momento certo”, disse. No Arsenal, Vieira cresceria para ser um dos melhores, senão o melhor, volante da sua geração. Um caso raro de jogador que tinha todos os atributos: força física e passadas largas, qualidade técnica, bom desarme, bom passe, dominante nas duas áreas, bom no jogo aéreo e capaz de soltar mísseis de fora da área. Travou duelos históricos com Roy Keane, o patrono da Academia de Dança Brasileira, e assumiu a braçadeira de capitão de Tony Adams. Foi três vezes campeão da Premier League, cinco vezes vice-campeão, e chegou a ser eleito o craque da temporada em 2000/01, mesmo sem título. Era uma liderança técnica e foi o capitão do time mais memorável da história da liga moderna: os Invencíveis de 2003/04.

Eric Cantona

Eric Cantona, do Manchester United (Foto: Anton Want/Allsport/Getty Images/One Football)

Jogos de Premier League: 156
Gols: 70
Assistências: 56
Títulos: 4 (1992/93, 1993/94, 1995/96 e 1996/97)

Alex Ferguson estava no Manchester United há seis anos. Havia conquistado títulos importantes e fizera um trabalho de fundação para a reconstrução de um gigante. Uma nova jornada de garotos especialmente talentosos estava prestes a sair do forno. Mas a pressão era grande para conquistar o Campeonato Inglês, o que os Red Devils não conseguiam desde 1967. O título anterior havia sido perdido para o Leeds, e o começo de temporada era trágico. O principal reforço, Dion Dublin, quebrou a perna. O United fora eliminado da Copa da Uefa e da Copa da Liga Inglesa precocemente. E, então, uma ligação telefônica mudou tudo. Os detalhes da conversa variam, mas, basicamente, o diretor do Leeds, Bill Fotherby, ligou perguntando sobre Denis Irwin. O United rechaçou a abordagem, mas aproveitou para questionar sobre Eric Cantona. Surpreendentemente, Fotherby não disse não, pediu um tempo para considerar, retornou uma hora depois e um valor de cerca de £ 1 milhão foi negociado. Talvez tudo desse certo para Ferguson da mesma maneira. Mas a chegada de Cantona foi um divisor de águas. Um atacante tão controverso quanto talentoso que havia pulado de clube em clube na França antes de chegar ao Leeds, na metade da temporada do título de 1991/92. O comportamento errático, porém, o deixara em maus lençóis com o técnico Howard Wilkinson, o que explica como foi liberado tão facilmente. Cantona é tido como o catalizador do primeiro período de sucesso do Manchester United na Premier League. Era o toque de magia dentro de uma excelente estrutura. A mesma imprevisibilidade que o fez dar uma voadora em um torcedor do Crystal Palace, acusado de usar termos xenofóbicos, também causava terror nas defesas. Impulsionou o Manchester United a quatro títulos ingleses, todos que disputou, menos na temporada em que foi suspenso pela agressão e fez uma ode às gaivotas. Aquele troféu escapou para o Blackburn por um ponto, mesmo com Cantona suspenso a partir de fevereiro.

N’Golo Kanté

Kanté, do Leicester (Foto: Michael Regan/Getty Images/One Football)

Jogos na Premier League: 222
Gols: 12
Assistências: 16
Títulos: 2 (2015/16 e 2016/17)

Muita coisa precisava dar certo ao mesmo tempo para o Leicester conquistar a Premier League. Tanta coisa que ninguém nem imaginava que era sequer possível. Uma delas foi encontrar um jogador de classe mundial, de primeira classe, ou simplesmente de tanta classe, como N’Golo Kanté, disponível para ser contratado por um preço baixo e que daria um salto tão gigantesco de desempenho após uma única temporada na Ligue 1 pelo Caen. Kasper Schmeichel fez as defesas, Wes Morgan liderou a retaguarda, Riyad Mahrez era o toque de magia, Jamie Vardy marcava os gols, e N’Golo Kanté era o responsável por deixar tudo equilibrado. Uma versão moderna de Claude Makélélé, com pulmões de aço, muita inteligência para ler o jogo e até mais capacidade de chegar à frente, como mostraria principalmente em sua carreira posterior pelo Chelsea. Kanté deixou o King Power Stadium imediatamente depois do título e emendou mais um pelo time de Antonio Conte. Foi eleito o melhor jogador da Premier League naquela temporada. Apesar de muitos problemas físicos recentes, inclusive o que o tirou da Copa, segue como um dos melhores meias do mundo.

David Ginola

David Ginola, do Tottenham (Foto: Shaun Botterill /Allsport/One Football)

Jogos de Premier League: 195
Gols: 21
Assistências: 42

Sempre foi um talento badalado do futebol francês que demorou um pouco para encontrar um lugar para brilhar. Seria no Paris Saint-Germain, que começava a aproveitar os investimentos do Canal+, após a falência do Brest em 1991. Se fez parte de um esquadrão parisiense ao lado de nomes como George Weah e Raí, também ficou marcado por um erro que terminou com a derrota da França para a Bulgária, eliminada da Copa do Mundo dos Estados Unidos ainda na fase classificatória. Aquilo deixou sua posição no país um pouco abalada. Preferiu respirar novos ares e cruzou o Canal da Mancha para defender o Newcastle, na época uma das potências da recém-criada Premier League. Foi eleito o jogador do mês assim que chegou e ajudou um time treinado por Kevin Keegan que quase conquistou o Campeonato Inglês. Ficaria apenas dois anos antes de sair para o Tottenham, no qual teve o seu melhor período em solo britânico. Em 1998/99, enquanto o Manchester United conquistava a Tríplice Coroa, foi eleito pelos jornalistas e pelos jogadores o craque da temporada. Também foi campeão da Copa da Liga Inglesa e chegou à semifinal da Copa da Inglaterra. Época em que ninguém menos que Johan Cruyff dizia que ele era o melhor jogador em atividade no mundo. Os últimos passos vieram pelo Aston Villa, no qual chegou a ter um bom momento, e em um punhado de jogos pelo Everton, antes de pendurar as chuteiras e começar novas carreiras. Tentou ser ator, foi comentarista e se candidatou à presidência da Fifa.

Marcel Desailly

Desailly, do Chelsea (Foto: Ben Radford/Getty Images/One Football)

Jogos de Premier League: 158 jogos
Jogos sem a defesa ser vazada: 54
Gols: 6
Assistências: 4

O Chelsea não foi o primeiro time que aproveitou a Lei Bosman e a força econômica da Premier League para atrair talento estrangeiro. Outros jogadores, inclusive franceses, haviam chegado e alcançado feitos importantes antes da contratação de Ruud Gullitt, um marco desse processo, em 1995. Mas foi o clube que talvez menos teve pudor de encher o seu elenco com quem pudesse encontrar no exterior, ao ponto de ter escalado o primeiro time titular sem britânicos da história da liga, em 1999. Marcel Desailly não estava alinhado naquele dia, mas poderia. Havia sido a grande contratação do Chelsea no mercado de verão do ano anterior, recém-coroado campeão da Copa do Mundo. Faria parceria com outro defensor daquele elenco, Frank Leboeuf. Completo como poucos zagueiros, forte como um touro, capaz de arrancar e construir o jogo com passes precisos, Desailly não teve uma carreira em Stamford Bridge tão gloriosa quanto pelo Milan, mas fez seis temporadas muito boas pelo Chelsea e ajudou o clube a retornar à Champions League, antes de ser comprado por Roman Abramovich e dar um novo salto. Saiu em 2004, após o primeiro ano do oligarca russo, para juntar mais alguns trocados no Catar.

Robert Pirès

Robert Pirès, do Arsenal (Foto: Getty Images)

Jogos de Premier League: 198 jogos
Gols: 62
Assistências: 41
Títulos: 2 (2001/02 e 2003/04)

Robert Pirès foi contratado tão perto da final da Eurocopa de 2000, na qual deu assistência para o gol de ouro de Henry, que, depois de assinar contrato com o Arsenal em Londres, retornou a Paris para comemorar o título. O jogador do Olympique de Marseille havia atraído outros interesses, mas decidiu se juntar à colônia francesa do norte de Londres, ao lado de Arsène Wenger, Henry, Patrick Vieira e Emmanuel Petit. Seria na prática o substituto de Marc Overmars, vendido ao Barcelona. Seus primeiros meses foram frustrantes. Sofreu para se adaptar ao jogo mais físico da Premier League, mas começaria a mostrar o que podia fazer em um clássico contra o Tottenham, no começo de 2001. A sua temporada seguinte foi tão fenomenal que, mesmo tendo acabado em março por causa de uma lesão séria no joelho, ele foi eleito o craque do campeonato pela associação dos jornalistas, pelo seu papel em comandar a conquista da Dobradinha pelo Arsenal. O auge seria mesmo na temporada invencível de 2003/04, quando formou um lado esquerdo irresistível com Ashley Cole e Henry. A capacidade de criação era acompanhada por uma veia artilheira que o transformou no terceiro artilheiro da Premier League em 2004/05, atrás de Andy Johnson e Thierry Henry, com 14 gols. Ele saiu do clube em 2006, após a final da Champions League, quando foi substituído aos 20 minutos por causa do cartão vermelho para o goleiro Jens Lehmann. Seu último jogo pelos Gunners. Retornaria para mais algumas partidinhas de Premier League pelo Aston Villa, depois de defender o Villarreal.

Claude Makélélé

Makélélé, do Chelsea (Foto: Ben Radford/Getty Images/One Football)

Jogos na Premier League: 144
Gols: 2
Assistências: 4
Títulos: 2 (2004/05 e 2005/06)

Durante muito tempo, se dizia que os problemas do Real Madrid dos Galácticos começaram com a saída de Claude Makélélé. Provavelmente um exagero, mas dá a medida do quanto o volante que estourou pelo Nantes como meia ofensivo podia ser importante. Ele era aquele jogador que é um ponto de equilíbrio em si, tamanha era sua capacidade de ler o jogo, cobrir terreno, correr para todos os lados e, principalmente, desarmar com qualidade. Foi contratado em 2003, um dos primeiros reforços do projeto de Abramovich, aproveitando que o Real Madrid estava distraído com nomes mais badalados. Ele seria o pilar de sustentação do meio-campo de José Mourinho nos dois títulos ingleses em 2005 e 2006, importante para liberar Frank Lampard para brilhar no ataque. Makélélé havia desistido de brilhar no ataque fazia tempo. Faria apenas dois gols em mais de 200 partidas pelo Chelsea, e o primeiro saiu de uma maneira curiosa. No jogo da entrega da taça da Premier League de 2004/05, contra o Charlton, o Chelsea teve um pênalti a seu favor, bem no finalzinho. Todo mundo o incentivou a bater, ele topou e… o goleiro Stephan Andersen defendeu. No rebote, porém, Makélélé marcou o gol da vitória por 1 a 0. Seu outro gol sairia em 2006 contra o Tottenham.

Patrice Evra

Alex Ferguson e Patrice Evra (Divulgação)

Jogos na Premier League: 278
Jogos sem a defesa ser vazada: 98
Gols: 7
Assistências: 21
Títulos: 5 (2006/07, 2007/08, 2008/09, 2010/11, 2012/13)

Nascido em Dacar e filho de diplomata, Patrice Evra começou carreira na Itália, mas explodiria na França, onde seu pai estabeleceu a família. Ainda estava tentando emplacar como ponta quando chegou ao Monaco de Didier Deschamps. Destacou-se mesmo como lateral esquerdo na campanha que terminou na final da Champions League. Em 2006, foi contratado pelo Manchester United e precisou de um pouco de paciência para superar o compatriota Mikaël Silvestre, que também tomava seu espaço na seleção francesa. Ausência na Copa do Mundo da Alemanha, passou a ser mais regular nos Red Devils e já era titular em 2007/08, quando o United conquistou o título europeu em Moscou. Muito inteligente e técnico, Evra foi um dos líderes da reta final do trabalho de Alex Ferguson. Participou de cinco conquistas da Premier League. Saiu em 2014, após a aposentadoria do escocês, para defender Juventus e Olympique de Marseille. Voltou brevemente para a Premier League pelo West Ham, mas jogou pouco antes de se aposentar.

Hugo Lloris

Lloris, do Tottenham (Foto: Paul Harding/Getty Images/One Football)

Jogos na Premier League: 351
Jogos sem ser vazado: 124

A notícia da BBC sobre a contratação de Hugo Lloris pelo Tottenham, no último dia da janela de verão de 2012, contém algumas pérolas. Primeiro que o destaque principal era Clint Dempsey, que após uma longa novela para sair do Fulham, e interesses de Liverpool e Aston Villa, havia decidido qual seria seu destino. A nota negativa era que os Spurs não haviam conseguido contratar o meia da seleção portuguesa, João Moutinho, de 25 anos, um desejo de André Villas-Boas. No pé da nota, com direito até a um enquanto isso, “o atacante de 19 anos, Harry Kane, se juntou ao Norwich por empréstimo de uma temporada”. Enfim, entre todos os negócios e não negócios daquele dia, o de Lloris seria o mais importante para a história do Tottenham. Chegou como um jogador da seleção francesa e titular do Lyon para disputar posição com o veterano Brad Friedel. Em novembro, era sua e nunca mais deixaria de ser. O Tottenham passou do segundo escalão da Premier League a um regular na Champions League por vários motivos, e um deles foi porque tinha um grande goleiro. É verdade que ele teve alguns momentos de baixa e colecionou algumas falhas, mas no geral foi um par de luvas seguras, que apareceu em momentos decisivos. Antes da Copa do Mundo, estava em uma das suas fases mais iluminadas. É capitão dos Spurs desde 2015.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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