O que Gvardiol adiciona ao Manchester City e o que significa para o elenco
Um dos mais badalados zagueiros do mundo, Gvardiol brilhou na Copa e chega com potencial de ser um dos melhores da posição no mundo sob o comando de Guardiola
O Manchester City confirmou a especulada contratação de Josko Gvardiol, do RB Leipzig, por €90 milhões (£77,6 milhões). O croata, de 21 anos, custa caro e poucos clubes teriam condições de o contratar. O Manchester City era o candidato mais forte. Especialmente porque tem Pep Guardiola, um dos motivos da escolha de Gvardiol pelos Citizens. É a segunda contratação do time na temporada e tem tudo para ser uma das mais impactantes.
A sua transferência era especulada há algum tempo. O RB Leipzig, que pertence ao grupo Red Bull, é conhecido por ser um negociador difícil, que cobra caro por seus jogadores. Parte do negócio das suas equipes é justamente pesar talentos, desenvolvê-los e faturar alto no mercado. Josko Gvardiol é um caso bastante típico.
Formado na badalada base do Dinamo Zagreb
Nascido em Zagreb, na Croácia, o defensor passou pelo Tresnjevka nas categorias de base, mas terminou a sua formação por um dos mais tradicionais clubes do país, o Dinamo Zagreb. O clube é responsável por grandes jogadores formados no país, ou ao menos por parte do seu desenvolvimento, já que é um clube grande que atrai os talentos de clubes menores para brilharem e depois darem o salto.
Muitos nomes importantes do futebol croata passaram por lá, como Luka Modric, a maior estrela atual da Croácia, Mateo Kovacic, que será companheiro de Gvardiol no Manchester City, Marcelo Brozovic, que recentemente trocou a Inter de Milão pelo Al Nassr, da Arábia Saudita, Mario Mandzukic, jogador histórico na seleção e também em diversos clubes, como Bayern de Munique e Juventus.
Isso além de outros nomes estrangeiros que passaram por lá e acabaram virando estrelas, como o espanhol Dani Olmo, companheiro de Gvardiol no Dinamo Zagreb, Amir Rrahmani, kosovar atualmente no Napoli, Mark Viduka, atacante australiano histórico do Leeds, que jogou lá pela sua ascendência croata, ou mesmo o brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva, que brilhou por lá antes de jogar por Arsenal, Shakhtar Donetsk e voltar ao Brasil para jogar por Flamengo e Athletico Paranaense.
Foi jogando pelo Dinamo Zagreb que Gvardiol fez 52 jogos, marcou quatro gols e fez ainda três assistências. Foi campeão croata duas vezes, em 2019/20 e 2020/21, e também da Copa da Croácia em 2020/21. Como todo grande jogador que surge por lá, acabou vendido. Foi para o RB Leipzig em julho de 2021 por €18,8 milhões.
O fator Guardiola para conquistar e melhorar Gvardiol
O que o Manchester City fez na temporada passada já seria suficiente para atrair qualquer jogador. O time ganhou a Tríplice Coroa, algo dificílimo de fazer, e jogando um grande futebol. Além disso, tem um técnico que é considerado por muitos o melhor do mundo, Pep Guardiola. E a presença do catalão é um fator importante, como o próprio Gvardiol disse.
“Qualquer um que tenha visto o Manchester City jogar na última temporada sabe que eles são o melhor time do mundo”, afirmou Gvardiol. “Ter a chance de trabalhar com Pep Guardiola também será incrível para mim. Eu sei que ainda não sou um artigo finalizado e eu tenho certeza que meu jogo irá progredir com o melhor técnico do futebol”.
O zagueiro tem razões para acreditar nisso. Guardiola é mesmo um técnico que pode fazer o seu jogo evoluir ainda mais. Jogadores como Kyle Walker, por exemplo, subiram de nível. Hoje o jogador é considerado um dos melhores laterais do mundo, com uma marcação muito forte e capacidade também de construir jogo. Mais ainda: se tornou versátil e pode atuar como um zagueiro na linha defensiva, algo que o técnico da seleção inglesa, Gareth Southgate, já aproveitou.
O melhor exemplo é John Stones. O zagueiro era questionado, não sem razão, desde que chegou ao Manchester City, em uma dessas transferências caras típicas do clube. O jogador chegou ao time em 2016 por £47,5 milhões e contrato de seis anos.
Ao longo dos anos trabalhando com Guardiola, o zagueiro se tornou muito mais completo e capaz de algo que poucos imaginariam: construir jogadas. Tanto que Stones terminou a temporada que acabou em tríplice coroa atuando até no meio-campo, fazendo uma partida espetacular na final da Champions League.
Gvardiol já mostrou muitas qualidades que esses jogadores citados não mostravam antes de trabalhar com Guardiola. Por isso, é de se imaginar que o jogo de construção de Gvardiol melhore, assim como a sua capacidade de cobertura — até porque será uma necessidade do time.
O impacto que Gvardiol pode ter no Manchester City
O jogador tem muito a adicionar no já excelente time do Manchester City. A defesa do time ganha um reforço de peso em vários sentidos. Isso fica claro quando o diretor de futebol do Manchester City, Txiki Begiristain, fala sobre o novo contratado.
“Ele é um jogador que acompanhamos de perto e sentimos que ele tem um excelente conjunto de atributos. Josko tem muitas qualidades — tudo que você quer em um zagueiro. Ele é rápido, competitivo, combativo, forte pelo ar, impressionante com a posse de bola, com uma forte autoconfiança e personalidade. Ele é canhoto também, o que oferece a nós boas opções na defesa”, analisou Begiristain.
Na final da Champions League, vimos o Manchester City atuar com quatro zagueiros de origem, sendo um deles deslocado ao meio-campo, Stones, e um deles caindo mais pelo lado esquerdo, como um lateral esquerdo que não avança muito. Os escolhidos foram Manuel Akanji, Rúben Dias e Nathan Aké, além de John Stones mais avançado. A chegada de Gvardiol tende a mudar um pouco isso.
Gvardiol é canhoto e tem capacidade até de fazer a lateral esquerda. Ele concorrerá diretamente com Nathan Aké, que tem características similares, e Aymeric Laporte, outro canhoto que pode atuar pela lateral e tem qualidades de construção. Gvardiol deve ser o escolhido para atuar no lado esquerdo da zaga, seja em uma linha de dois quatro zagueiros, seja em uma linha de três.
Ele adiciona uma qualidade imensa para atuar ao lado de Rúben Dias, outro que deve ser titular. Com a temporada que fez John Stones, é de se imaginar que ele comece jogando também, mas ainda não se sabe em que posição. Considerando o time que terminou a temporada, Akanji e Aké são grandes candidatos a deixarem a equipe. E Aymeric Laporte se torna definitivamente um reserva.
Há alguns pontos muito relevantes no jogo de Gvardiol que adicionam ao time de Guardiola. A sua capacidade aérea é uma delas. Esse é um ponto que Guardiola sempre quis reforçar e a chegada do croata ajuda nisso. Ele tem 1,85 metro de altura com ótima impulsão. Chegou até a fazer um gol no próprio Manchester City em duelos Champions League na temporada passada.
Outro ponto é velocidade. Gvardiol, mesmo sendo um zagueiro de boa altura e força física, é também muito rápido. Similar, nesse sentido, a Kyle Walker. É um jogador capaz de disputar no corpo, mas também na velocidade. Essa é uma qualidade importante para um time que joga muitas vezes adiantado e precisa ocupar espaço no campo adversário, consequentemente dando espaço às suas costas. Na recuperação de bola, é preciso, por vezes, correr grandes distâncias para evitar os ataques adversários. Um zagueiro rápido e atlético como ele ajuda isso.
A construção de jogo é outro ponto que Gvardiol parece se encaixar como uma luva. Ele tem um ótimo passe com o pé esquerdo e o City passou a usar mais o lançamento longo desde que passou a ter o monstruoso Erling Haaland no ataque. O centroavante é capaz de dominar bolas pelo alto e ajudar o time a construir já no ataque em uma ligação mais direta.
Uma adaptação que Guardiola precisou fazer no time para aproveitar as qualidades do norueguês e foi muito eficiente, especialmente porque a marcação em cima de Haaland é muito forte. Quando o camisa 9 recua para tentar receber uma bola na intermediária ofensiva, abre espaço às suas costas para os jogadores de lado de campo entrarem e marcarem gols. Com um passe qualificado, e com a destreza que Guardiola coloca na cabeça dos jogadores para saber o momento de fazer isso e coordenar com os demais, a tendência é que seja uma arma realmente importante.
O que a contratação de Gvardiol significa para outros zagueiros do time
A chegada de Gvardiol é uma grande notícia para o técnico Guardiola, que ganha uma opção de qualidade. Para os torcedores também, que ganham um jogador que tem tudo para se tornar um pilar da equipe, como Rúben Dias já se tornou. Mas para alguns jogadores do City da mesma posição, a notícia não é boa.
Nathan Aké, de 28 anos, é quem deve imediatamente perder espaço. Ele é canhoto, como Gvardiol, e era usado muitas vezes pelo lado esquerdo, posição que será ocupada pelo novo contratado. O croata tem características similares às de Aké, mas do que se viu até aqui na carreira de ambos, melhor. É difícil imaginar que ele terá muitos minutos ou que será titular em jogos importantes, a não ser que Gvardiol não esteja disponível. Aké jogou 41 jogos e 2891 minutos. Porém, seus minutos devem ser reduzidos.
Outro que deve perder ainda mais espaço é Aymeric Laporte. Aos 29 anos, o jogador já tinha perdido um pouco de espaço para o bom Aké, que emendou boas atuações. Mas com a chegada de Gvardiol, provavelmente será relegado a uma segunda opção mesmo no banco de reservas. Na última temporada, fez 24 jogos, com 1.861 minutos em campo. Ficou muitas vezes no banco.
Com a Eurocopa batendo à porta em 2024, esses dois jogadores podem achar que não valerá a pena esquentar o banco do Manchester City e podem procurar outro caminho ainda nesta janela de transferências, que fecha no dia 1º de setembro. Ambos devem ter mercado, mas precisam ter a concordância do Manchester City para deixarem a equipe. Aké tem contrato até 2027, enquanto Laporte tem vínculo até 2025, ou seja, ainda têm um tempo razoável para ambos. Não será uma solução fácil.