Entretenimento no domingão: Manchester City passeia contra o Leicester e ainda oferece emoção
Placar foi praticamente consolidado antes do intervalo, mas resposta dos Foxes na segunda etapa agitou o jogo
Seria a coisa mais fácil do mundo escrever o texto da vitória do Manchester City antes mesmo dos 30 minutos de jogo contra o Leicester. A tentação era grande: com o placar de 4 a 0, um passeio diante de um time emocionalmente abatido. Qualquer torcedor do City, se estivesse jogando videogame, simularia para o fim da partida. Afinal, para que gastar mais alguns minutos se já está tudo resolvido? Mas a vida real é ainda melhor. Ela nos entrega o inesperado. Em pleno Boxing Day, o City emplacou um 6 a 3 diante dos Foxes em um jogo bem movimentado no Etihad Stadium.
Não há outra forma de resumir o primeiro tempo sem mencionar o tremendo atropelo imposto por Pep Guardiola a Brendan Rodgers. Logo de partida, o Leicester já estava em adversidade, dias depois de ser eliminado da Copa da Liga pelo Liverpool. Além do cansaço físico, o time começou sem Jamie Vardy entre os titulares, e coube a Kelechi Iheanacho ser a referência no ataque.
Cenas de um passeio no parque
Do outro lado, o City tinha apenas a vitória em mente. Assim se fez quando Kevin De Bruyne, em uma de suas Debruynadas, resolveu tudo sozinho após belo passe de Fernandinho. O belga parou o tempo e matou a bola até tirar os defensores da jogada e bater no cantinho de Kasper Schmeichel. Era essa a pintura que marcava a abertura do placar, logo aos cinco minutos. A estilingada permitiu que o City colocasse o Leicester nas cordas, e o que se viu nos 25 minutos seguintes foi uma verdadeira atuação de gala.
Aos 13, um pênalti marcado deu a chance a Riyad Mahrez para superar sua estatística inusitada: ele nunca havia vencido uma partida no Boxing Day em toda a sua carreira. Com a vantagem adquirida, parecia improvável que o argelino saísse de campo sem os três pontos. E não foi só isso: homem surpresa dentro da área à espera de uma sobra, Ilkay Gündogan marcou o terceiro após rebote infeliz de Schmeichel. O frenesi celeste seguiu a todo vapor até que Raheem Sterling anotou o quarto, sem qualquer resposta dos visitantes.
A manchete estava pronta: redações ao redor do mundo viram seus jornalistas abrirem largos sorrisos enquanto confeccionavam o relato de mais uma vitória tranquila do time de Pep Guardiola. “Com 4 a 0 no placar é difícil que algo aconteça”, pensou o inocente redator, que provavelmente achou boa ideia também abrir uma latinha de cerveja para celebrar a chegada do almoço dominical. “Se eu for eficiente, antes do intervalo o texto já estará pronto, aí é só desfrutar”. O mundo não para enquanto o intervalo corre. E lá nas profundezas da mente de cada jogador do City, a sensação deveria ser de missão cumprida. Mas o problema é que já vimos tanta loucura acontecer em 45 minutos…
45 minutos de sobrevida
Assim sendo, quem poderia esperar uma resposta enfática do Leicester? Talvez com um gol de honra, mas não mais que isso. Foi aí que os comandados de Brendan Rodgers resolveram dar um espetáculo para inglês ver. Na etapa inicial, eles fizeram muito pouco, apenas um chute a gol. Depois disso, aproveitando da inércia dos mandantes, o Leicester entrou de novo na partida e inverteu a lógica.
James Maddison, que já havia forçado Ederson a fazer uma grande defesa, tirou o primeiro gol da cartola. A defesa do City recompôs lentamente o posicionamento, com uma avenida aberta. Iheanacho carregou a bola e passou para Maddison, de cara para Ederson, marcar o primeiro dos Foxes. Foi o mais perto que esse jogo chegou de um churrasco de domingo entre amigos. Ninguém fez menção a impedir o lance. Relaxado, o City provavelmente contou que não precisaria trabalhar muito para administrar o resultado. E é nesses momentos de soberba que a bola costuma ser bastante impiedosa.
Quatro minutos depois, a história se repetiu. Maddison armou o ataque, marcado por três adversários. Depois, achou Iheanacho no segundo terço de campo, pela faixa central. O nigeriano enxergou Ademola Lookman em ótima condição à sua esquerda, e só rolou por entre dois defensores: Lookman não titubeou e balançou as redes. A noite excelente de Iheanacho se completou aos 65 minutos, apenas seis após o segundo gol. O centroavante foi progredindo no campo e se enfiou na área. Após um chutaço de Mark Albrighton, Ederson espalmou para o alto e não teve tempo para correr. Iheanacho se antecipou e matou o rebote.
Só não foi uma releitura do Milagre de Istambul por detalhes: o jogo era em Manchester, o placar ainda estava em 4 a 3 e era apenas um jogo normal da Premier League. Tirando essas miudezas irrelevantes, houve enorme valentia por parte do Leicester, que se engraçou e quase estragou a festa dos locais. A reação parou por aí no minuto 69, quando Aymeric Laporte subiu mais que todo mundo e cabeceou a bola para as redes do impotente Schmeichel. Foram, portanto, 15 minutos de futebol com gols, ação, explosão e apreensão. Não podemos pedir muito mais que isso num 26 de dezembro em que apenas a Inglaterra realiza suas partidas entre as grandes ligas.
Restando três minutos para o final, quando nem Brendan Rodgers acreditava mais no empate, Sterling fechou a conta para mais uma partida histórica do Boxing Day, a data em que todo mundo resolve marcar e doar gols de maneira festiva, celebrando o espírito natalino e o bom e velho entretenimento futebolístico. Até o pessoal do Leicester teve o que festejar por alguns minutos e por isso mesmo foi uma ocasião tão interessante.
Historicamente, o 26 de dezembro é sempre marcado por placares elásticos, como você pode relembrar neste texto que republicamos na data de ontem. Não foi só nesta partida que as redes estiveram em polvorosa. As partidas do mesmo horário tiveram pelo menos três gols marcados, como em Norwich x Arsenal, Tottenham x Crystal Palace e West Ham x Southampton. O domingo largou bem na Premier League, a ver o que os outros dois jogos da tarde nos reservam.
Com a vitória, o City abre uma vantagem considerável para o Liverpool, que tem um jogo a menos e está seis pontos atrás. Mais importante que isso, a equipe de Guardiola mantém a boa sequência e em alta rotação. Mesmo sem demonstrar esforço máximo, os Citizens conseguem vencer com folgas, o que costuma ser uma boa notícia para quem quer preservar as pernas até o fim da competição.