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Do desempenho ruim no Tottenham à falta de profissionalismo no Real, Soldado não foge de seus arrependimentos

De 2010 a 2013, Roberto Soldado viveu a melhor fase de sua carreira. Neste período, defendeu o Valencia, empilhou gols pelos Ches e retornou à seleção espanhola depois de cinco anos de ausência. Ao fim desse ciclo, foi recompensado com a convocação para a Copa das Confederações no Brasil e com uma transferência para a Tottenham com o dinheiro que o clube arrecadara com a venda de Gareth Bale. E foi naquele momento que uma convergência de situações deu início à queda de Soldado.

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Ainda assim, o atacante não se arrepende da decisão de ir para a Inglaterra. “Eu estava convencido de que iria bem. Pensei que, com meu estilo, meu momento, iria me encaixar bem. Mas quando fui… bom, foi completamente o contrário”, confidencia em entrevista ao jornal inglês Guardian.

Soldado chegou aos Spurs na temporada em que a equipe foi comandada por André Villas-Boas e Tim Sherwood. O português não conseguiu levar o Tottenham ao patamar que Daniel Levy esperava com os reforços que havia trazido, e o inglês, inicialmente interino e depois efetivado, durou apenas alguns meses. Além de Soldado, chegaram em 2013 Paulinho, Nacer Chadli, Étienne Capoue, Erik Lamela, Christian Eriksen e Vlad Chiriches.

Alguns dos nomes não tinham futebol para jogar no clube do norte de Londres, enquanto outros, como Paulinho, Lamela e Eriksen, pouco puderam fazer em uma equipe com muitas mudanças. O argentino e o dinamarquês continuaram e, cada um em seu patamar, alcançaram sucesso mais tarde com Mauricio Pochettino. Soldado não teve a mesma sorte, entre outros motivos, muito por causa da ascensão de um ídolo de dentro do clube.

Enquanto sofria para se adaptar ao futebol mais físico da Inglaterra, onde tentou mudar seu estilo de jogo e sofreu com o impacto mental da escolha, o espanhol teve a concorrência de um Harry Kane que começava a explodir.

“Vi seu nível no treinamento, e era incrível. Não acho que exista um limite para o que ele é capaz de fazer. Ainda não vimos o melhor de Harry Kane. Quando fazíamos treinamentos de finalização, nossa… Com as duas pernas, ele era prolífico”, analisa Soldado.

Apesar de saber que parte da razão pela qual não deu certo na Inglaterra foi o surgimento de Kane, Soldado não tem ressentimento em relação ao atacante. Pelo contrário, fica feliz pelo sucesso do camisa 10 do Tottenham, do qual o seu filho Enzo, de nove anos, é grande fã.

“Ele (Enzo) gosta muito de futebol, e se estamos assistindo à Premier League ou o Harry (Kane) marca pela Inglaterra, eu digo: ‘Eu joguei com esse cara’. ‘É?’ ‘É.’ É legal, estou muito feliz por ele, por seu sucesso, especialmente pela pessoa que ele é.” Mas ele brinca sobre o timing de Kane: “Eu só gostaria que ele estivesse esperado um pouco (para começar a estourar)”.

Soldado afirma que o nível que apresentou na Inglaterra é algo que ficará em sua cabeça quando se aposentar. De 2010 a 2013, havia marcado 82 gols em 141 jogos pelo Valencia. O nível que havia apresentado nos Ches era altíssimo, o que torna ainda mais difícil de aceitar o fracasso nos Spurs, onde só conseguiu balançar as redes 16 vezes em 76 partidas.

A passagem pela Inglaterra, no entanto, não será seu único arrependimento ao fim da carreira. O início de seu trajeto no futebol, conta ele, poderia também ter sido diferente se ele tivesse tido atitudes mais profissionais.

Soldado foi revelado pelo Real Madrid, onde fez sua estreia como profissional em outubro de 2005. Entre os anos em que esteve nas categorias de base, no Castilla e, depois, no profissional, conviveu com os galácticos – e ao seguir exemplos, escolheu mal seus modelos.

“Eu era um moleque. Havia jogadores como Figo, Zidane, Raúl, que eram superprofissionais. Mas eu estava observando outros… Segui o que não deveria ter seguido.”

Hoje com 34 anos, olha para trás e pensa que alguém deveria tê-lo puxado de canto para uma conversa mais séria. Ainda assim, assume sua culpa. “É preciso se responsabilizar por si mesmo, saber o que é apropriado e o que não é, onde estão os limites. Eu saía pensando que era maior que o Beckham. Não estava mentalmente preparado, minha cabeça não estava pronta. (…) Eu gostaria de ter tido a chance de jogar por aquele time do Real estando 100%”, lamenta.

O atacante conta que, em Madri, comia muito, bebia demais e saía muito mais do que deveria. “Olho para fotos (da época) e penso: como é que eu iria jogar com os galácticos com aquela forma física? Se eu tivesse me cuidado melhor, se tivesse tido a maturidade, talvez tivesse tido mais chances.”

O Real Madrid chegou a ligar para os pais de Soldado, e seu pai se mudou para Madri por dois anos para colocar o filho nos trilhos. Isso, e o fato de ter conhecido sua esposa na mesma época, foi o que fez passar a levar mais a sério sua carreira.

Agora no Granada, diz estar com sete quilos a menos do que tinha aos 21 anos no Real. O profissionalismo com que conduz sua carreira agora só poderia ter sido alcançado com o que viveu. Apaixonado por futebol, quer estar bem para aproveitar ao máximo o tempo que lhe resta como jogador.

“Se eu nascesse de novo, voltaria como um jogador de futebol. Você vem todo dia, curte cada momento, é isso que me faz seguir vivo, ainda competindo. Este é o emprego perfeito, ninguém quer que acabe. Não quero pensar em quão pouco tempo eu tenho, mas sei que (a hora de pendurar as chuteiras) está chegando.”

Foto de Leo Escudeiro

Leo Escudeiro

Apaixonado pela estética em torno do futebol tanto quanto pelo esporte em si. Formado em jornalismo pela Cásper Líbero, com pós-graduação em futebol pela Universidade Trivela (alerta de piada, não temos curso). Respeita o passado do esporte, mas quer é saber do futuro (“interesse eterno pelo futebol moderno!”).
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