Da lama à glória: Pelly-Ruddock Mpanzu acompanhou o Luton Town em sua jornada até a Premier League
Meia congolês foi do amadorismo à elite do futebol local com os Hatters em menos de uma década
“Acho que zerei o futebol, posso me aposentar. Passei por altos e baixos, mas você tem de acreditar em si mesmo. Aqui estou eu”. Em um futebol moderno cada vez mais esterilizado pelas altas cifras econômicas, há lugar no coração e no noticiário para histórias marcantes vividas em cantos esquecidos do planeta. No último sábado, a Inglaterra acompanhou a coroação do Luton Town, que após mais de 30 anos recuperou seu status de elite, vencendo o Coventry City nos pênaltis na partida de play-off em Wembley.
E se o Luton conta a fábula de um time que foi até o amadorismo e voltou forte, essa saga certamente tem a contribuição de Pelly-Ruddock Mpanzu, meia congolês que chegou em 2013 ao clube e experimentou a maravilhosa sensação de tocar o céu da Premier League. Ele é o primeiro jogador da história a disputar todos os níveis do futebol inglês pelo mesmo clube. Há quem queira se aposentar depois de vencer a Copa do Mundo ou a Liga dos Campeões, mas Mpanzu brinca com a possibilidade por ter desafiado a lógica a bordo de uma iniciativa corajosa como a dos Hatters.
Aos 29 anos, o jogador tem perfeita noção de que não estará no mesmo lugar de Erling Haaland ou Kevin De Bruyne na história do esporte. Às vezes, o sonho que se pode viver não é o uma noite continental de festa. Mpanzu chegou em 2013 ao Luton, por empréstimo, e assinou de forma permanente no ano seguinte. Desde então, foram 360 jogos pela equipe de Bedfordshire e convocações para a seleção da República Democrática do Congo, nação que Pelly escolheu representar por conta de laços familiares.
Em matéria especial da BBC Sport, a discrepância entre a chegada e o ápice ficam bem claras. Na sua estreia vestindo laranja, Mpanzu viu um público de pouco mais de 1200 pessoas na partida contra o Alfreton. O Luton Town tentava nadar para fora da estrutura amadora inglesa, em um caminho tortuoso vivido a partir dos anos 1990. A equipe foi rebaixada na temporada anterior à fundação da Premier League, em 1992, e visitou diversos níveis diferentes até o sonhado acesso conquistado diante do Coventry. Escalando degrau a degrau, não necessariamente em temporadas consecutivas, o Luton agora é parte da liga mais rica e assistida do mundo no esporte.
A testemunha ocular vital dessa retomada foi Mpanzu, evidentemente. Ele é o único remanescente dos tempos de amadorismo. E ainda ocupa uma posição crucial no elenco, tendo participado até os minutos finais da partida em Wembley, que rendeu a promoção na tarde de sábado (27). Foram 37 partidas na temporada, uma medalha que lhe traz muito orgulho.
Em entrevista à BBC, Pelly contou sobre a experiência da ascensão, na véspera da decisão contra o Coventry. “Toda liga é diferente, da National League à League Two (quarta divisão inglesa), depois para a League One, e Championship. Em todas elas, você precisa adaptar seu jogo. Tenho tentado jogar meu melhor, independente de quem seja o treinador. Já passaram por aqui John Still, Mick Harford, Graeme Jones, Nathan Jones, Rob Edwards (atual comandante dos Hatters) e mesmo Andy Awford, que tomou conta do time por um tempo. Embora alguns deles não estejam mais aqui, todos tiveram um papel importante para o que nos tornamos hoje. Foi uma ascensão meteórica e todos tiveram participação nisso. A torcida, a comunidade, a diretoria e os funcionários do clube. Foi um esforço feito por toda a cidade”, comentou.
Embora pareça que o destino estava traçado desde o início, para Mpanzu, a vida foi bem imprevisível nesses anos em Luton. “Você tem que curtir a vida. Não dá para saber o que vai acontecer lá na frente. Viva ao máximo e se precisar de alguém pra te animar, vá lá e anime, como eu fiz. Tento o tempo inteiro manter o bom humor, é assim que vejo meu caráter. Agora sou um jogador da Premier League. Foi uma jornada maluca. Mas eu disse que conseguiríamos fazer isso. Será um verão de muita festa em Luton”, finalizou o meio-campista.