Cinco pontos positivos da campanha do Norwich, apesar do rebaixamento e dos (péssimos) resultados

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O Norwich não é o pior time da história da Premier League. Tem mais pontos que o Derby de 2007/08 e que o Huddersfield da temporada passada, ainda com três jogos pela frente. Mas passou perto. São 21 derrotas em 35 rodadas, apenas cinco vitórias, pior ataque com apenas 26 gols marcados, pior defesa com 67 sofridos. O rebaixamento sempre foi questão de tempo e o péssimo retorno depois da paralisação, com seis derrotas em seis jogos, apenas o acelerou.
Quatro gols de Michail Antonio no último sábado foram a pá de cal. O Norwich foi rebaixado após ser goleado por 4 a 0 pelo West Ham e retornou imediatamente à segunda divisão. Apesar das dificuldades, do rebaixamento e da péssima campanha, acredite se quiser, houve muitos pontos positivos na rápida passagem dos Canários pela Premier League.
A coluna destacará cinco deles.
Jovens valorizados

“Quando cheguei aqui, precisávamos desenvolver jovens jogadores e vendê-los para manter o clube funcionando. Conseguimos fazer isso e vendemos James Maddison (ao Leicester)”, disse o treinador Daniel Farke.
A linha de produção não parou em Maddison. O Norwich teve uma série de garotos que conseguiram se destacar, apesar da campanha ruim. Max Aaron (20 anos), Todd Cantwell (22), Jamal Lewis (22), Ben Godfrey (22) e Emiliano Buendía (23) seriam vendas importantes para o Norwich que ainda tem necessidades financeiras.
A maioria tem contrato de pelo menos dois anos, exceto Cantwell, e conta como jogador formado na Inglaterra, o que é sempre interessante para os times do país. E embora o Norwich não tenha ido bem, esses garotos adquiriram experiência de Premier League, outra comódite bem valorizada.
“Se chegar um clube como o Leicester quando veio por Maddison, temos que respeitar que eles podem pagar muito dinheiro ao jogador e a nós, e o jogador tem suas próprias ambições, mas vamos vender alguém barato apenas porque eles disseram que querem ir? Sem chance”, avisou o diretor-esportivo Stuart Webber.
“As pessoas aqui sabem que eu sou justo e não vou pedir preços irreais, mas também precisamos de bons jogadores para voltarmos à Premier League novamente. Recebemos £ 20 milhões por Maddison, depois de uma temporada na Championship, e precisávamos do dinheiro”.
“O que eu diria às pessoas é, por favor, tenha isso em mente antes de pegar o telefone para ligar para nós”, completou.
E se não chegarem propostas? Ótimo. O Norwich ainda terá uma espinha dorsal jovem e talentosa para a próxima temporada.
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Estilo de jogo
O Norwich foi presa fácil na Premier League. Perdeu 21 das 35 rodadas que disputou até ser rebaixado. Mas teve momentos de bom futebol porque não tentou mudar o seu estilo, apesar do salto para uma liga muito mais difícil. Em muitos jogos, até competiu, mas perdeu chances de marcar e cometeu erros crassos na defesa. Sabia o quanto seria difícil permanecer na Premier League mesmo se tentasse adotar uma postura mais cautelosa e preferiu cair, se fosse inevitável, do seu jeito.
Teve o nono índice de posse de bola do campeonato (50,8%), acima de Wolverhampton, Everton, West Ham e até do Bournemouth, outro time de menor porte que teve bom sucesso recentemente com uma abordagem corajosa. Teve média de 11,3 finalizações por partida, a 12ª da liga e superior à do Arsenal. Deu 11,5 dribles por partida, o sexto melhor índice da Premier League, atrás apenas de Manchester United, Tottenham, Chelsea, Manchester City e Wolverhampton.
Dá para dizer que não funcionou, mas pelo menos o Norwich fez sua parte pela diversão do Campeonato Inglês.
Vitórias especiais
Com todos os jogadores à disposição, o que quase nunca aconteceu, e em alto nível de intensidade e concentração, o que raramente aconteceu, Farke acredita que o Norwich seria capaz de competir contra qualquer time da Premier League. E algumas partidas servem de evidência de que isso é mais do que uma bravata.
Os Canários ganharam apenas cinco jogos, mas um deles foi contra o Manchester City, ainda no começo da temporada, quando os homens de Guardiola acreditavam no terceiro título consecutivo. O Everton foi outra vítima, em novembro, e no último jogo antes da sequência de sete derrotas – com 16 gols sofridos e apenas um marcado – que acabou o rebaixando, derrotou também o Leicester, por 1 a 0.
Soma-se a isso uma campanha relativamente brilhante na Copa da Inglaterra. Eliminou o Burnley, bem estabelecido na elite há alguns anos, e depois passou pelo Tottenham, nos pênaltis. Fez o Manchester United suar e disputar a prorrogação antes de ser eliminado nas quartas de final.
A permanência sempre foi um sonho distante, mas pelo menos o Norwich conseguiu fornecer ao seu torcedor algumas memórias deliciosas nesta curta passagem pela Premier League.
Daniel Farke

Quando estava no Huddersfield, Stuart Webber buscou nos reservas do Borussia Dortmund o seu treinador – David Wagner – e conseguiu o acesso à Premier League. Ao chegar ao Norwich, fez a mesma coisa, mas o nome da vez era Daniel Farke, que parece mais um cantor aposentado de banda grunge do que um técnico de futebol.
Deu certo. Depois de ficar no meio da tabela, o Norwich de Farke subiu como campeão e um ataque devastador de 93 gols. Difícil avaliar o quanto suas qualidades se ajustaram à Premier League pelo excesso de problemas que encontrou, especialmente um elenco fraco para os padrões da elite inglesa e lesões devastadoras em série.
No entanto, se o diagnóstico é que o time tem méritos coletivos e pecou em erros individuais, Farke merece créditos. Foi inocentado pela queda por Webber e nada indica que perderá o emprego, mas talvez tenha chamado a atenção de equipes dispostas a lhe dar mais armas para lutar a guerra.
Saúde financeira
A metáfora é de Webber. “Eu disse para alguém outro dia, é como se tivéssemos ido para a guerra sem uma arma, e adivinha o que aconteceu? Fomos baleados. Mesmo quando você tem dinheiro, a não ser que seja muito dinheiro e você pode gastá-lo para contratar qualidade, você também pode desperdiçar muito dinheiro. Não pedirei desculpas por isso. Era a única coisa à qual eu me recusei a fazer. Eu não colocaria o clube no estado em que o encontrei”, disse.
Em novembro de 2017, poucos meses depois de Farke chegar, o ex-presidente dos Canários, Ed Balls, alertou que o clube passaria por sérios problemas financeiros se não subisse à Premier League naquela temporada porque acabariam os pagamentos de apoio que os rebaixados da Premier League recebem para facilitar a transição à divisão inferior. O Norwich havia caído em 2015/16. O acesso ficou muito longe – 14º lugar -, mas a política de contratações baratas e espertas de Farke e Webber tornou o time competitivo sem que houvesse pressão às contas.
O acesso não mudou nada. Quase literalmente. Tim Krul, Ben Godfrey, Jamal Lewis, Max Aarons, Mario Vrancic, Marco Stiepermann, Onel Hernández, Emiliano Buendía e Teemu Pukki são nove jogadores que foram titulares do último jogo da campanha da Championship e também na partida do rebaixamento contra o West Ham. Isso significa que o Norwich não retornará à segunda divisão precisando fazer malabarismos para pagar contas do patamar da Premier League.
Ao contrário: recebeu uma grana alta da televisão, terá os pagamentos de paraquedas pela frente e eventuais vendas de jogadores que se valorizaram. Não gastou nem € 10 milhões em taxas de transferências para reforços e tem uma das menores folhas salariais da Premier League. A tendência é ter bastante dinheiro para investir em infraestrutura e mais uma fornada de jovens talentos para quem sabe, na próxima vez em que for jogar a primeira divisão, ter mais chances de ficar.
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