O adeus a Terry Venables, um dos treinadores mais influentes da Inglaterra nos anos 1980 e 1990
Terry Venables foi campeão por Barcelona e Tottenham, enquanto dirigiu a Inglaterra na Euro 1996 realizada no país
Terry Venables era um homem de muitos gostos. Chegou a escrever romances policiais durante a década de 1970, sob um pseudônimo, enquanto ainda era jogador profissional e até adaptou os livros para que virassem série de televisão. Também era um cantor talentoso, a ponto de gravar covers de Elvis Presley e Frank Sinatra. Sua grande paixão, ainda assim, era o futebol. E será ao redor do gramado que a memória do inglês será mais viva. Especialmente, como um treinador excepcional, considerado um dos mais inteligentes e sensíveis que se consagraram na Inglaterra. O adeus a Venables, falecido neste domingo aos 80 anos, veio cercado de homenagens de grandes nomes do futebol do país – de Gareth Southgate a Alan Shearer, de Gary Lineker a Paul Gascoigne, todos seus antigos pupilos.
A carreira de Venables como jogador não atingiu o patamar que um dia prometeu. O meio-campista, durante a adolescência, causava expectativas que rendiam comparações a Stanley Matthews e Duncan Edwards. No entanto, não chegou a engrenar, mesmo passando por clubes como o Chelsea e o Tottenham. Já como treinador, há também quem questione o impacto de Venables. Talvez existissem expectativas exageradas sobre aquilo que poderia causar, e seu currículo não corresponde a isso. Ainda assim, proporcionou uma série de momentos marcantes e costuma ser praticamente uma unanimidade com quem conviveu. É visto como um dos responsáveis por trazer um pensamento além da ilha ao futebol inglês, quando as fronteiras se abriam com o advento da Premier League.
Venables conquistou La Liga pelo Barcelona, encerrando um jejum de 11 anos. Também levou o Tottenham a um memorável troféu na Copa da Inglaterra, em que eliminou o Arsenal na semifinal. Já seu grande cartaz aconteceu em 1996, com a empolgante campanha à frente da seleção inglesa na Eurocopa. Venables botava seus times para atuar de maneira ofensiva e tinha um senso tático privilegiado, algo comumente elogiado por seus ex-jogadores – e isso sem deixar de privilegiar a liberdade individual. Mais do que isso, possuía um carisma natural e uma mente aberta, que tinham grande serventia nos vestiários. Tratava seus comandados como iguais e sabia muito bem como gerir um grupo, sem distinção entre jovens e veteranos. Assim, se eternizou como uma das figuras mais influentes do futebol inglês nos anos 1980 e 1990, mesmo sem tantas taças para ampliar essa noção. A personalidade costuma falar mais alto, e assim será recordado.
O meio-campista promissor
Terence Frederick Venables nasceu no contexto da Segunda Guerra Mundial, em 6 de janeiro de 1943. Seu pai combatia pela marinha britânica quando o garoto nasceu, então só pôde conhecê-lo meses depois. A casa da família chegou a ser atingida por bombardeios alemães durante os ataques à área metropolitana de Londres – por sorte, pouco depois dos pais terem se mudado a outra região. Terry cresceu enquanto o Reino Unido se reconstruía, nos anos 1940 e 1950. Quando tinha 13 anos, passou a viver com seus avós maternos, já que os pais resolveram gerir um pub. Pois os avós seriam fundamentais para incentivar o menino a perseguir seu sonho como jogador de futebol.
Venables começou a ganhar destaque nas equipes estudantis da região de Essex. Era um meio-campista de pegada e bom passe, que também guardava seus gols. Progrediu de tal forma que alcançou a seleção inglesa escolar, uma das grandes oportunidades de ascender dentro do esporte na época. Clubes de peso do Campeonato Inglês se interessaram por seus serviços. Ele poderia inclusive se mudar para o norte do país, com uma oferta do então poderoso Manchester United. Preferiu ficar mesmo em Londres, no Chelsea, que tinha acabado de conquistar a liga nacional em 1954/55. Três anos depois daquela taça, Venables assinou com os Blues, aos 15 anos.
O Chelsea oferecia ótimas condições a Venables. Além de seu lugar nas categorias de base, seu pai também ganhou a chance de trabalhar como olheiro dos londrinos. O meio-campista não demorou a chamar atenção em Stamford Bridge: ele conquistou a FA Youth Cup, principal competição de base da Inglaterra, em 1960 e 1961. Nesta época, já conciliava suas primeiras aparições com a equipe principal e era visto como uma das grandes promessas do futebol inglês. Todavia, o Chelsea chegou a ser rebaixado no Campeonato Inglês em 1961/62. Ao menos, conquistou o acesso imediato e logo voltou a fazer boas campanhas na elite, se mantendo entre os cinco primeiros na tabela.
Venables tinha moral também nas seleções de base da Inglaterra. Passou por todos os níveis dos Three Lions, a ponto de ganhar uma chance na equipe principal sob as ordens de Alf Ramsey. O meio-campista esteve presente em dois amistosos realizados em 1964, com o sonho de disputar a Copa do Mundo em casa. Contudo, não ganharia sequência depois disso. Venables chegou a figurar numa pré-lista ao Mundial de 1966, mas ficou de fora do elenco final. Sua trajetória no Chelsea, afinal, vinha de altos e baixos ao longo daqueles meses.
O grande momento de Terry Venables pelo Chelsea aconteceu em 1964/65, quando o clube conquistou a Copa da Liga Inglesa. O jovem de 22 anos não apenas anotou um dos gols na final contra o Leicester, como também usava a braçadeira de capitão. Era uma liderança para o técnico Tommy Docherty, num processo de renovação em Stamford Bridge. Porém, a relação nos vestiários não era boa, resultando em episódios de indisciplina e punições. Em 1966, o treinador resolveu prescindir dos serviços de Venables e negociá-lo. Deixou os Blues com mais de 200 partidas disputadas. E continuou em Londres, tornando-se um promissor reforço do Tottenham – o clube pelo qual torcia na infância.
Aquele também era um momento relevante do Tottenham, então dirigido por Bill Nicholson. Os Spurs conquistaram o Campeonato Inglês e duas vezes a Copa da Inglaterra no início da década de 1960. Já não estavam em seu melhor momento, mas continuavam frequentando as cabeças. Venables se transformou numa valiosa aquisição da equipe. A temporada de 1966/67 já foi marcante. O Tottenham terminou na terceira posição do Campeonato Inglês, enquanto faturou a Copa da Inglaterra mais uma vez – em cima do próprio Chelsea. O novato fazia parte de um conjunto bastante forte, com figuras como Jimmy Greaves, Pat Jennings, Dave Mackay, Mike England e Alan Mullery. A camisa 10 estava bem representada nas costas de Venables.
O problema é que Venables também teve problemas de indisciplina no Tottenham. Chegou a acertar um soco no capitão Dave Mackay num treino, antes que a situação fosse apaziguada e os dois se aproximassem. Também não tinha o melhor contato com Bill Nicholson. Desta maneira, não caiu verdadeiramente nas graças da torcida dos Spurs. Nesse momento, Venables até aprimorava a inteligência vista em campo. Ganhou seu diploma de treinador quando tinha somente 24 anos, já se antecipando ao seu futuro no futebol. A despedida dos Spurs aconteceu em 1969, vendido para o Queens Park Rangers.
O ambiente de Terry Venables no QPR seria bem diferente, num clube que tinha sido rebaixado para a segunda divisão. Os Hoops contavam com alguns jogadores notáveis na história do clube, como Rodney Marsh, Dave Clement, Ian Gillard e Phil Parkes. No entanto, foram quatro temporadas seguidas na divisão de acesso até o retorno à elite do Campeonato Inglês. Fato é que, mesmo num cenário mais modesto, Venables se encontrou em Loftus Road. Seria idolatrado pela torcida e, na volta à primeira divisão, contribuiu a uma boa campanha rumo ao oitavo lugar. Deixou o clube em 1974, ao se transferir para o Crystal Palace.
A esta altura, Terry Venables claramente se aproximava do final da carreira. Tinha problemas físicos e atuava com menos frequência. Ficou só uma temporada no Crystal Palace, na terceira divisão, no que mais valeu como um estágio para a transição como treinador. O comandante das Águias era Malcolm Allison, um dos treinadores mais aclamados do país por seu trabalho no Manchester City e que pretendia fazer uma revolução em Selhurst Park. Teve um ótimo pupilo, dando a Venables um papel na comissão técnica. O meio-campista ainda passaria por breves empréstimos a clubes de Gales e Irlanda, até pendurar as chuteiras em 1976.
O treinador que encerrou o jejum do Barça
O Crystal Palace também foi o clube que transformou Terry Venables em treinador. A aptidão do comandante na casamata era conhecida e ele chegou a ser convidado para dirigir o Arsenal. Preferiu começar com os pés no chão, no próprio Palace. As Águias tinham feito barulho por uma grande campanha até as semifinais da Copa da Inglaterra de 1975/76, mas Malcolm Allison preferiu deixar o clube na sequência. Venables conduziu um processo de renovação no Selhurst Park, ao ser nomeado como novo técnico. E pegou o elevador rapidamente: conquistou o acesso na terceira divisão em 1976/77, numa dramática vitória que dependeu de dois gols nos acréscimos, antes de subir à elite logo em 1978/79. O Crystal Palace voltava à primeira divisão depois de seis anos, com um elenco cheio de garotos.
A estreia de Terry Venables na primeira divisão do Campeonato Inglês já foi marcante. O Crystal Palace passou uma rodada na liderança, ainda em setembro, e terminou num honroso 13° lugar – a melhor classificação das Águias na competição até então. Todavia, o sucesso não se sustentaria e o comandante não emplacou em 1980/81. Deixou o cargo ainda em outubro, com o time na zona de rebaixamento. Optou por trabalhar na segunda divisão, mas numa velha casa: reassumiu o Queens Park Rangers, clube pelo qual nutria enorme carinho pela passagem como jogador.
Mais uma vez, Venables liderou um processo de reconstrução no QPR. Remontou o elenco, inclusive acumulando o posto de diretor, e conquistou o acesso de volta à elite em 1982/83, após quatro anos fora da primeira divisão. E o impacto em Loftus Road não parou por aí, diante da maneira como o time chamou atenção em sua retomada no Campeonato Inglês. Os Hoops fecharam a campanha de 1983/84 numa honrosa quinta colocação, sete pontos abaixo do campeão Liverpool e quatro atrás do vice Southampton. Foi a segunda melhor defesa daquela edição da liga, só abaixo dos Reds. O sucesso valeu uma vaga na Copa da Uefa, com a volta do QPR às competições internacionais após quase uma década. Venables só não continuou em Londres. Recebeu uma proposta irrecusável para se mudar à Espanha.
Bobby Robson tinha boas relações com a direção do Barcelona, que o cortejava para ser o novo treinador do clube. No entanto, o veterano não pretendia deixar o comando da seleção inglesa no ciclo rumo à Copa de 1986. Recomendou, então, que os blaugranas buscassem Terry Venables. Via no jovem comandante alguém com cabeça aberta e capaz de conduzir um grande trabalho na Catalunha. “El Tel”, como era chamado, não pintava como prioridade do Barça. Estavam mais bem cotados Michel Hidalgo, campeão da Euro 1984 com a França, e Helmut Benthaus, campeão da Bundesliga com o Stuttgart. Venables, no entanto, tinha como vantagem o salário mais baixo e a ambição de fazer seu nome no Camp Nou. Desde os anos 1970, diversos treinadores com bem mais bagagem não deram certo nos culés e a diretoria queria algo diferente.
A missão de Venables no Barcelona tinha suas complicações. Existia uma quebra de estilo em relação a César Luis Menotti, um antecessor que conseguia praticar um futebol vistoso. Porém, o treinador campeão do mundo com a Argentina não passou de troféus nas copas nacionais com o Barça, em sucesso limitado. Outro imbróglio envolvia Diego Maradona, grande astro dos culés na época, mas suspenso pela briga na final da Copa do Rei de 1983/84 e sem mais clima no Camp Nou. Venables chegou a conversar com o craque, mas estava claro que seu caminho era outro, no Napoli. O inglês, sem o camisa 10, conseguiu remontar o time para um sucesso imediato.
Terry Venables precisou de uma temporada para se provar como o treinador certo para o Barcelona. Conquistou o Campeonato Espanhol de imediato, em 1984/85, para encerrar um jejum de 11 anos sem o troféu no Camp Nou. Venables aplicou logo de cara um 4-4-2 “à moda inglesa”, com um jogo mais direto e fulminante, enquanto trouxe Steve Archibald do Tottenham para ser uma arma ofensiva. Bernd Schuster era o eixo central dos blaugranas, em excelente forma pelo clube. Também se destacavam bons nomes da seleção espanhola, como Migueli, Urruti e Julio Alberto. Foi uma campanha incontestável do Barça, em que o time liderou da primeira à última rodada, com uma vantagem de dez pontos sobre o vice-campeão Atlético de Madrid ao final da campanha – e de 17 pontos sobre o quinto colocado Real Madrid, em tempos de dois pontos por vitória. Os blaugranas tiveram o melhor ataque e também a melhor defesa.
Venables não teve o mesmo sucesso nas temporadas seguintes, com La Liga dominada pelo Real Madrid da famosa “Quinta del Buitre”. Ainda assim, o treinador conseguiu outros momentos relevantes. Em 1985/86, o Barça conquistou a Copa da Liga Espanhola e alcançou a decisão da Copa dos Campeões da Europa. Superou Sparta Praga, Porto, Juventus e IFK Göteborg, mas sucumbiu nos pênaltis diante do Steaua Bucareste na decisão em Sevilha. Uma colônia britânica passou a se formar a partir de 1986/87, com as contratações da Gary Lineker e Mark Hughes para o ataque. Contudo, o time ficou de mãos abanando naquela temporada. A pressão culminou na saída de Venables após quatro rodadas em La Liga 1987/88, substituído por Luis Aragonés. Logo depois, se iniciaria a era de Johan Cruyff na casamata catalã.
Fazendo história na Inglaterra
A esta altura, Terry Venables tinha nome suficiente para assumir outro grande clube na sequência de sua carreira. Voltou ao Tottenham, no comando dos Spurs a partir de novembro de 1987, no lugar de David Pleat. Os Spurs vinham de uma boa temporada, em que terminaram na terceira colocação do Campeonato Inglês e com o vice da Copa da Inglaterra. No entanto, com a queda de rendimento, a equipe não passou do 13° lugar no Campeonato Inglês de 1987/88. Venables iniciaria um processo de renovação, com a saída de ídolos como Ray Clemence e Osvaldo Ardiles. Novas referências ascendiam, como Chris Waddle, enquanto Paul Gascoigne veio do Newcastle para ser o craque do time. O desempenho melhorou com a sexta posição de 1988/89.
Apesar da venda de Waddle em 1989/90, Gary Lineker chegou do Barcelona para reeditar a parceria com Venables nos Spurs. Logo na primeira temporada, o centroavante se firmou como artilheiro do Campeonato Inglês, numa honrosa terceira colocação do Tottenham. Isso até que a temporada de 1990/91 marcasse a história do clube. Nem tanto pela décima posição na liga, mas sim pela conquista da Copa da Inglaterra. Foi uma campanha marcada pela histórica semifinal contra o Arsenal, com show de Gascoigne e Lineker. Na decisão, a lesão de Gazza trouxe um prejuízo imenso aos londrinos no primeiro tempo. No entanto, a equipe buscou a virada por 2 a 1 sobre o Nottingham Forest na prorrogação. Aquele foi o oitavo (e último) título do Tottenham na competição nacional.
O auge de Terry Venables no Tottenham também marcou uma transição em sua carreira. A partir de 1991/92, o comandante passou a exercer o papel de dirigente, como chefe-executivo dos Spurs. A equipe sofreu uma queda abrupta na tabela, num momento em que tanto Gascoigne quanto Lineker deixaram o norte de Londres. O desempenho não respaldava Venables e nem sua relação interna nos Spurs era tão boa. Assim, ficou apenas duas temporadas no cargo, sem que os londrinos passassem da oitava colocação do Campeonato Inglês. Teria inclusive acusações sobre a legalidade do processo de venda do clube, do qual participou.
Àquela altura, Venables era visto como um forte candidato para assumir a seleção da Inglaterra. Chegou a ser cogitado para o lugar de Bobby Robson após a Copa de 1990, mas Graham Taylor recebeu um voto de confiança pela forma como elevou o nível do Watford e também teve boa passagem pelo Aston Villa. No entanto, o novo comandante dos Three Lions não conseguiu emplacar e passou por uma campanha asquerosa de ridicularização dos tabloides britânicos. A ausência na Copa do Mundo de 1994 marcou a gota d'água para Taylor. Venables chegou com uma missão delicada de recuperar a imagem da seleção inglesa, e isso às vésperas de uma Eurocopa realizada no país.
A recepção a Venables como técnico da seleção não foi dócil, com questionamentos sobre a idoneidade de empresas particulares que ele geria em paralelo e também por seu trabalho como dirigente do Tottenham, após uma denúncia feita pela BBC. No entanto, a crise não estouraria naquele momento e não o impediu de realizar seu trabalho, em meio à série de amistosos preparatórios rumo à Eurocopa. O comandante fez testes no time e bancou medalhões, dando confiança em especial a Gascoigne rumo ao torneio continental. Ainda existia desconfiança, inclusive com uma campanha sensacionalista dos tabloides sobre episódios extracampo envolvendo os jogadores. Venables respaldou seus atletas e conseguiu fechar o grupo para fazer uma caminhada marcante na Euro 1996.
Após o empate na estreia contra a Suíça, a Inglaterra venceu o clássico contra a Escócia com show de Gascoigne, e depois goleou a Holanda em inapeláveis 4 a 1. A empolgação ao redor dos Three Lions, com um futebol fluido e de passes em velocidade, deixava para trás as dúvidas. A equipe depois eliminou a Espanha nas quartas de final, nos pênaltis. Isso até que a eliminação acontecesse nas semifinais, diante da Alemanha, também nos penais. Não era isso que apagava um senso de empolgação ao redor do time. Ficava bem mais forte a imagem da relação que Venables construiu com os jogadores, especialmente Gareth Southgate, a quem tratou de forma compreensiva após o erro na marca da cal contra os alemães. O “futebol tinha voltado para casa”, como os ingleses adoravam cantar, depois de um ciclo anterior bastante duro para a seleção. Venables teria seu nome para sempre relacionado àquela campanha, embora tenha saído de cena logo depois.
Venables deixou a seleção da Inglaterra não pelos resultados, mas por desacordo sobre o seu contrato. Diante da relutância da federação em renovar com o treinador, querendo tomar por base o resultado na Eurocopa, ele preferiu sair de cena logo após o torneio continental. Glenn Hoddle já estava definido como seu substituto antes mesmo do início da Euro 1996. A partir de então, Venables não conseguiria outro trabalho de tamanha projeção. Ainda assim, existia uma percepção de que sua história no futebol estava construída.
A primeira experiência de Terry Venables depois da Inglaterra foi outra seleção, a Austrália. Assumiu no final de 1996 e levou os Socceroos à decisão da Copa das Confederações de 1997, tomando uma sapatada do Brasil. No entanto, não conseguiu cumprir a missão principal, a classificação para a Copa do Mundo de 1998. Caiu na repescagem, num histórico empate do Irã em Melbourne. Seria um momento difícil também na vida particular de Venables, indiciado por uma série de irregularidades e empréstimos ilegais em suas empresas. Acabou impedido de atuar como administrador por um período de sete anos.
Depois disso, Venables retornou de vez à Inglaterra e rodou por equipes menores do Campeonato Inglês. Chegou a comprar 51% das ações do Portsmouth e a exercer o cargo de presidente, o que não durou nem um ano, diante de seus imbróglios com a justiça. Já de volta ao posto de técnico, teve uma breve estadia de volta ao Crystal Palace em 1998/99, mas saiu em meio à crise financeira que as Águias enfrentavam na segunda divisão. Dirigiu depois o Middlesbrough, capaz de contribuir à salvação do clube em 2000/01, mas sem ficar mais do que isso. Já em 2002/03, esteve à frente do Leeds United que também se via numa crise tremenda, sem ficar até o final da temporada.
A última passagem relevante de Venables no futebol aconteceu na própria seleção da Inglaterra, como assistente de Steven McClaren entre 2006 e 2007. Porém, o retorno terminou mais cedo do que o esperado, com a ausência do time na Euro 2008. A partir de então, Venables passou a se dedicar aos negócios particulares e ao trabalho de comentarista. Ficava a história de uma figura influente ao futebol inglês, afinal. O currículo pode não ser tão recheado quanto de outros comandantes históricos, mas estão gravadas histórias vitoriosas em clubes como Barcelona e Tottenham. Uma geração de astros do futebol inglês foi diretamente influenciada por seu trabalho, em especial num período tão decisivo como a década de 1990.