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Neste ritmo, Inglaterra só terá espaço justo para técnicos de minorias étnicas em 2046

Façamos um exercício: quantos técnicos negros você lembra de ter visto na Premier League desde que começou a acompanhar a competição? Se foi difícil se recordar de um número significativo, não é sua memória que é ruim, a situação inglesa é que é complicada mesmo. Um relatório feito pela Sports People’s Think Tank, organização com especialistas no esporte, revelou que, no ritmo atual, levará mais de 30 anos para que pessoas de minorias étnicas sejam representadas nos cargos de treinadores na mesma proporção que são entre os atletas.

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O relatório afirma que apenas 23 dos 552 cargos em comissões técnicas profissionais na Inglaterra (desde equipes sub-18 aos times principais) são ocupados por pessoas de minorias étnicas, somente 4% do total. Já a proporção entre jogadores é de 25%, o que refuta os argumentos de que isso aconteça por uma falta de minorias no futebol inglês em geral.

Segundo o doutor Steven Bradbury, da Universidade de Loughborough, que conduziu a mesma pesquisa no ano passado, o número em 2014 era de 19 profissionais de minorias étnicas nesses cargos. De acordo com Bradbury, no atual ritmo de crescimento, levaria 31 anos para que essa representação fosse proporcional à que acontece entre atletas.

A Football League, que abarca as segunda, terceira e quarta divisões inglesas, conta com 72 times, e apenas seis deles são comandados por técnicos negros. Para Jason Roberts, ex-atacante que passou toda a carreira na Inglaterra e que hoje é integrante do Sports People’s Think Tank, a razão por trás dessa baixa representação é, na melhor das hipóteses, um viés inconsciente. Na pior? “Provavelmente racismo”, como revela em entrevista à BBC.

“Quando você é um jogador negro e está se aproximando do fim de sua carreira, você pensa: ‘Bom, não tem oportunidade para mim como treinador’. E as estatísticas apenas provam isso. Acredito que, por causa disso, estamos perdendo potenciais treinadores de primeira linha”, completa Roberts.

Também em entrevista à BBC, o ex-zagueiro Michael Johnson corrobora as palavras do ex-atacante, revelando a dificuldade que teve para conseguir uma simples entrevista de emprego: “O futebol é predominantemente comandado por homens brancos e mais velhos, então você acaba entendendo que o que você encontra é a norma. Eu não poderia ser mais qualificado (do que já sou). Mas fiquei sem emprego de agosto de 2011 a agosto de 2015. Meu maior desafio foi chegar até à mesa para mostrar às pessoas do que eu era capaz”.

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Se não fazem de boa vontade, os clubes talvez sejam obrigados a dar pelo menos a oportunidade de introdução desses treinadores. No ano que vem, a Football League votará a implementação da exigência de que os clubes ao menos entrevistem um candidato de minorias étnicas em seus processos de contratação de profissionais para a comissão técnica. Diretor-executivo da PFA (Associação dos Futebolistas Profissionais), Gordon Taylor está esperançoso em relação aos resultados da possível medida. “Espero que isso começa a tornar as coisas mais fáceis para técnicos negros talentosos, que são qualificados para tomar a frente em cargos de diretor executivo e de presidente, para que eles possam mostrar que são capazes de fazer um trabalho fantástico”.

Há quem não concorde com a falta de igualdade de oportunidades para técnicos de minorias étnicas, como José Mourinho, que acredita na meritocracia e disse, em outubro do ano passado, que não há necessidade de uma cota para entrevistas. Uma posição que fica difícil de se sustentar diante dos números apresentados pelo relatório da SPTT.

Foto de Leo Escudeiro

Leo Escudeiro

Apaixonado pela estética em torno do futebol tanto quanto pelo esporte em si. Formado em jornalismo pela Cásper Líbero, com pós-graduação em futebol pela Universidade Trivela (alerta de piada, não temos curso). Respeita o passado do esporte, mas quer é saber do futuro (“interesse eterno pelo futebol moderno!”).
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