Ligado à extrema-direita, ex-Manchester City pode ser o novo presidente da Geórgia
Mikheil Kavelashvili atuou pelos Citizens nos anos 90 e agora está prestes a assumir a presidência do país europeu
Em um momento político e social conturbado, a Geórgia está prestes a ter um novo presidente que uma forte ligação com o futebol. Trata-se de Mikheil Kavelashvili, ex-atacante, que teve mais de 20 anos de carreira no esporte e jogou pelo Manchester City entre 1996 e 1997.
O ex-jogador, deputado desde 2016, foi indicado pelo bilionário Bidzina Ivanishvili, fundador do partido Sonho Georgiano, vencedor das eleições em outubro passado, resultado que a oposição contesta, aponta fraude e solicita um novo pleito.
No entanto, esse pedido para nova eleição não será atendido e o ex-City Kavelashvili disputará neste sábado (14) a posição de presidente, cargo cerimonial e com poucos poderes, no Colégio Eleitoral da Georgia, precisando contar com 200 dos 300 votos possíveis para vencer — se conquistar menos do que dois terços, terá um segundo turno com os dois mais votados.
Um político de sucesso, conhecido por discursos extremistas à direita, preconceituosos à comunidade LGBTQIA+ e por posições pró-Rússia, Kavelashvili não teve muito êxito dentro dos gramados, atuando pelo clube inglês em uma época que o torcedor quer esquecer.
Manchester City contratou Kavelashvili para fugir do rebaixamento
Na temporada 1995/96, o City se encontrava em uma tremenda dificuldade dentro de campo e precisou se movimentar na janela de transferências de inverno para tentar fugir do rebaixamento na Premier League.
Nesse cenário que chegou, em janeiro de 1996, um modesto atacante de 24 anos que só tinha passado por clubes georgianos e russos, pesando a influência do compatriota Georgi Kinkladze, um dos melhores jogadores daquele time.
Logo na estreia, contra o rival mortal Manchester United, o centroavante que já defendia a seleção da Geórgia brilhou e marcou um gol, empatando o jogo que terminaria 3 a 2 para os Diabos Vermelhos.
Apesar do impacto inicial, Kavelashvili não manteve o nível surpreendente de quando debutou e só fez mais três partidas até o rebaixamento dos Citizens para segunda divisão.
— Mikheil apareceu e era um jogador totalmente diferente. Ele não tinha a habilidade ou capacidade de Georgi [Kinkladze], mas era honesto e trabalhador e tinha algo pelo qual lutava. Eu o achei um cara adorável. Ele tinha orgulho e era patriota por ser georgiano. Eu lembro que ele parecia particularmente feliz e orgulhoso por estar jogando pelo Manchester City — relembrou Niall Quinn, que defendeu o Manchester City entre 1990 e 1996, em entrevista ao site “The Athletic”.
O georgiano seguiu para temporada seguinte, na First Division (como a época era chamada a segunda divisão), e fez apenas dois gols em 25 jogos. O City terminou em 14º, atrás de times como Barnsley, Port Vale e Tranmere Rovers.
— No verão de 97, ninguém tinha nem percebido que Kavelashvili tinha ido embora, tão pouco impacto ele tinha causado — lembrou de forma crítica o escritor e torcedor citizen Simon Curtis, também ao “The Athletic”.
O então centroavante se mudou para o futebol suíço, onde ficou por mais uma década, período interrompido apenas uma vez para defender o russo Alania. Ele se aposentou em 2011 e tentou ser presidente da Federação Georgiana de Futebol em 2015, mas a ausência de um diploma de ensino superior o impediu de concorrer.
Então, sobrou para Mikheil buscar um espaço no Parlamento do país que já foi uma república da União Soviética. Agora buscando a presidência, se vencer, não será o primeiro ex-City que virou presidente de uma nação, nem o único georgiano que viu na política uma carreira.
Weah e ex-zagueiro do Milan também saíram do futebol para política
Bola de Ouro em 1995, George Weah marcou época no Milan e foi um dos grandes atacantes do futebol na década de 90. Liberiano, o ex-jogador também se aventurou na política e foi presidente do país africano entre 2018 e 2024.
Outro ex-Milan envolvido no poder público é Kakha Kaladze, ex-zagueiro e também georgiano, prefeito da capital Tbilisi desde 2017. Ele faz parte do mesmo partido que Kavelashvili, o Sonho Georgiano, responsável pela atual crise que enfrenta a nação europeia.
A situação política da Georgia
Além das acusações de fraude e suposta influência da Rússia nas eleições legislativas de outubro, a situação social na Georgia está em ebulição por conta de seguintes decisões do partido de Kavelashvili e do primeiro-ministro Irakli (este sim com poderes de executivo, diferente do cargo de presidente).
Iniciou em 2017, quando o parlamento (formado majoritariamente pelo Sonho Gerogiano) mudou o sistema do governo e o país virou uma república parlamentar, diminuindo as atribuições do presidente.
Já em maio deste ano, o parlamento local aprovou uma lei que obrigam organizações que tenham mais de 20% do financiamento vindo do exterior sejam registradas como “agentes de influência estrangeira” ou enfrentarão multas pesadas. A medida, criticada pela oposição e apontada como restrição de direitos, é próxima do que faz o governo russo.
Enquanto isso, recentemente, o governo de Kobakhidze anunciou que as conversas para a Georgia aderir à União Europeia estão adiadas até 2028 — eles asseguram que querem aderir pelo menos até 2030.
Todo esse contexto culmina em protestos na capital e em outras cidades, reprimidos com força pela polícia local.