Copa da Liga Inglesa
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A mentalidade que Casemiro incutiu no United se evidenciou na final da Copa da Liga: uma mentalidade campeã

Casemiro marcou o primeiro gol e teve uma atuação enorme em sua primeira conquista pelo Manchester United, a Copa da Liga Inglesa

Quando o Manchester United acertou a contratação de Casemiro, ganhou o melhor volante do mundo na atualidade. E a chegada do brasileiro não representava apenas a adição de qualidade ao meio-campo dos Red Devils, afinal. A transferência rumo a Old Trafford foi uma escolha do jogador, após empilhar títulos no Real Madrid, para renovar suas ambições. Essa sede competitiva guiava os caminhos de Casemiro e também adicionava uma mentalidade bastante forte aos vestiários do United. Não demorou para que o comportamento do meio-campista impactasse na postura da equipe em campo, com novo espírito e mais gana. A importância dessa voracidade de Case se expressou em sua primeira conquista de título, logo na primeira temporada no clube. Há uma claríssima impressão digital deixada pelo brasileiro no troféu da Copa da Liga Inglesa.

A temporada do Manchester United possui inclusive um “antes e depois” a partir da entrada de Casemiro no time. Erik ten Hag levou um tempo para fincar o brasileiro como titular em seu meio-campo. Quando isso aconteceu, após a derrota por 6 a 3 para o Manchester City no primeiro turno da Premier League, o crescimento dos Red Devils se tornou paulatino. Obviamente, nem tudo se resume ao brasileiro. Marcus Rashford atravessa um momento iluminado, Bruno Fernandes segue como uma figura importante na criação, Christian Eriksen servia de termômetro até a lesão, Luke Shaw contribui a olhos vistos, Lisandro Martínez virou um monstro na zaga, David De Gea salva com constância. Mas não se nega o papel do volante como um elemento aglutinador.

Casemiro fez o que se esperava com sua chegada: deu mais consistência defensiva ao Manchester United, pela forma como sustenta o meio-campo e protege a linha de zaga. Mas não é apenas a isso que seu talento se resume. O volante também pôde mostrar mais seu jogo na construção ofensiva, como tantas vezes fazia no Real Madrid, mas nem sempre era valorizado por ter dois craques de enorme categoria ao seu lado no meio-campo. Os passes longos de Casemiro se tornaram mais aclamados na Premier League, assim como as subidas ao ataque renderam gols importantes ao time. E, mesmo assim, nem foi por isso que a torcida realmente se apaixonou em Old Trafford.

A forma como Casemiro se impõe mentalmente no Manchester United parece palpável. É uma influência clara na organização do time e na liderança dos companheiros, a ponto de ser cogitado tão precocemente como um capitão. Quer vencer de todas as formas, e isso serve como uma locomotiva aos Red Devils. A sinergia com a torcida se tornou muito grande pela vibração e pelas comemorações do volante dentro de campo. Algo que se notou num palco tão grande como Wembley, na primeira decisão encarada por Casemiro fora do Real Madrid.

Não era uma partida tão simples ao Manchester United. Apesar da derrota por 2 a 0, o Newcastle foi um adversário duro em boa parte do jogo. A história só começou a mudar quando Casemiro pintou na frente, mais uma vez, para resolver. Seu gol de cabeça representa a estrela do volante, assim como sua força no jogo aéreo. Botou os Red Devils em vantagem num momento em que os Magpies eram perigosos. Abriu uma partida que tinha sua dose de equilíbrio até então. E depois que Marcus Rashford anotou o segundo, era difícil de imaginar que uma defesa protegida por Casemiro desperdiçaria tal vantagem numa final.

Casemiro, então, foi sua versão mais carnal. Aquela que valoriza cada combate e dá seu máximo por cada bola. Vibrou quando ganhou dividida, desarmou vários ataques adversários, se doou até os últimos instantes. E não se desligou da competição nem depois do apito final, com a taça já conquistada, quando resolveu cobrar Bruno Fernandes por um passe a Jadon Sancho que mataria a partida. A história do lance não seria alterada, mas são correções necessárias para uma evolução gradativa. Não é porque terminou a noite com uma taça que o brasileiro vai se acomodar. Não é se seu feitio.

“Trata-se de devolver o sentimento de vitória ao clube, voltar a vencer, isso é muito importante para nós. Como eu disse, seguimos em frente, com muita humildade e com muito trabalho. Sabemos que, para vencer, é preciso se doar muito e trabalhar muito, mas com tranquilidade. Quem me conhece sabe que gosto da bola como um prato de comida. É meu perfil. Não é porque era uma final. Mesmo se fosse um jogo normal da Premier League, o mundo inteiro sabe que eu jogo como se aquela fosse a única bola”, afirmou Casemiro, na saída do estádio.

Depois da partida, Casemiro foi elogiado por muita gente na Inglaterra. Erik ten Hag esteve entre aqueles que exaltaram o peso do brasileiro como um multicampeão, ao lado de Raphaël Varane, o que certamente faz a diferença numa decisão. Mesmo os antigos ídolos do United, que hoje são comentaristas, fizeram questão de exaltar o volante – entre eles Roy Keane e Gary Neville. A importância do meio-campista se demarcou rapidamente em Old Trafford. E Wembley é sempre um ótimo lugar para que a grandiosidade transpareça.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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