Inglaterra

Como o fim da caça à raposa criou a tradição do Boxing Day no futebol britânico

Conheça a história de como surgiu o Boxing Day, uma das datas mais tradicionais de jogos no Reino Unido, e que tem a ver com uma tradição antes mesmo da popularização do futebol

Texto publicado originalmente em dezembro de 2013 e atualizado

Como boa parte da vida dos britânicos, o futebol natalino na Inglaterra e na Escócia também é motivado pela tradição. Nos países da Comunidade Britânica, 26 de dezembro também é feriado, o chamado Boxing Day. A origem da celebração é da Idade Média, em que a elite usava o dia após o Natal para presentear os funcionários e pessoas de classes mais baixas. O nome se deve ao uso de uma caixa (a Christmas Box) para se depositar as doações. Desde aquela época, o Boxing Day – que pode ser mudado para o dia útil seguinte caso caia em um sábado ou domingo – é um feriado importante para ingleses e países que tiveram forte influência destes.

Com o tempo, algumas tradições foram se incorporando a esse dia. As pessoas passaram a usar o Boxing Day para encontrar membros da família que não viram em 24 e 25 de dezembro e trocar mais presentes. Além disso, as lojas já programam suas grandes liquidações para 26 de dezembro. Uma terceira tradição é o esporte.

No princípio, o Boxing Day era um dia tradicional para os ingleses praticarem a caça à raposa. Aos poucos, essa “modalidade” (não dá para chamar isso de esporte, né?) perdeu espaço até o ponto de ser proibida. Com isso, outros esportes passaram a organizar eventos e competições em 26 de dezembro para manter a tradição. Assim, surgiram as rodadas do Boxing Day em futebol, rúgbi union e rúgbi league, além de importantes páreos nos hipódromos do Reino Unido.

Desde o final do século 19, havia jogos de futebol em 25 e 26 de dezembro. A tradição era realizar dérbis locais nessas datas, sendo que o dia 26 era a partida de volta do dia anterior. A rivalidade tornava os duelos bastante atrativos e o público era melhor que a média do ano. Em 1957, foi realizada a última rodada de Natal no Campeonato Inglês, mas a do Boxing Day permaneceu no calendário.

A maratona é desgastante e tem uma vida própria dentro do andamento do futebol inglês. Vários clubes não a suportam e caem de rendimento nesse período. Outros equacionam melhor sua condição física e conseguem uma sequência de resultados interessantes. Nessas semanas, é comum as equipes usarem reservas em jogos menos importantes para poupar os titulares.

Essas complicações geram muitas contestações. Personalidades importantes do futebol inglês – como Alex Ferguson, ex-técnico do Manchester United – pedem o fim das rodadas de fim-de-ano pelo desgaste que proporcionam aos elencos. Sven-Goran Eriksson é outro partidário da pausa nas duas últimas semanas do ano. Segundo o sueco, todos os técnicos e dirigentes são a favor do descanso, mas ninguém toma atitude.

Eriksson até tentou ser flexível. Quando era técnico da seleção inglesa, a propunha a criação de uma pausa de inverno, como ocorre na Alemanha. A ideia do sueco era aproveitar as duas últimas semanas de dezembro, mas ele até admitia manter a tradição e levar a parada para a primeira quinzena de janeiro. Só aconteceu anos depois.

O motivo de manter o fim de dezembro no calendário é simples. Os ingleses são muito agarrados a suas tradições e o Boxing Day, por pior que seja para os jogadores, é muito bom financeiramente. A audiência da televisão está entre as mais altas da temporada e a média de público nos estádios cresce nessas rodadas.

Desse modo, dificilmente o futebol inglês deixará de ter as rodadas de final de dezembro e começo de janeiro. Uma maratona de futebol desgastante para clubes e jogadores, mas que acerta em cheio o desejo do inglês que quer ver futebol para curtir sua folga de fim-de-ano.

Foto de Ubiratan Leal

Ubiratan Leal

Ubiratan Leal formou-se em jornalismo na PUC-SP. Está na Trivela desde 2005, passando por reportagem e edição em site e revista, pelas colunas de América Latina, Espanha, Brasil e Inglaterra. Atualmente, comenta futebol e beisebol na ESPN e é comandante-em-chefe do site Balipodo.com.br. Cria teorias complexas para tudo (até como ajeitar a feijoada no prato) é mais que lazer, é quase obsessão. Azar dos outros, que precisam aguentar e, agora, dos leitores da Trivela, que terão de lê-las.
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