Inglaterra

Após dias turbulentos, Solskjaer é mantido como técnico do Manchester United – pelo menos até o próximo jogo

A cúpula do futebol do Manchester United, incluindo Alex Ferguson, decidiu dar ao norueguês a chance de reverter a situação deteriorada pela goleada do Liverpool

Ole Gunnar Solskjaer continuará sendo o técnico do Manchester United. Pelo menos até o jogo contra o Tottenham no próximo sábado. Apesar de ter sido criticado como o principal responsável pela derrota para o Liverpool no fim de semana por 5 a 0, a cúpula do futebol dos Red Devils acredita que ele merece a chance de reverter a situação, segundo reportagens do The Guardian e da The Athletic.

Como está fora da Copa da Liga Inglesa, graças a uma das derrotas desde meados de setembro que deteriorou o trabalho de Solskjaer, a segunda-feira foi de folga para os jogadores, mas houve movimentações intensas de bastidores. Jornalistas britânicos receberam informações de que membros do vestiário haviam perdido a confiança na capacidade tática de Solskjaer após o Manchester United ser tão facilmente superado pelo Liverpool.

Segundo a The Athletic, ao contrário do ocaso da passagem de José Mourinho, o problema não é pessoal. Solskjaer nunca foi por esse caminho e os jogadores valorizam o quanto ele se esforça para defendê-los em público. No entanto, eles “começaram a considerar se ele é produtivo para as suas carreiras profissionais” e se tem habilidade suficiente para desafiar Pep Guardiola, Jürgen Klopp e Thomas Tuchel – os três principais obstáculos para conquistar a Premier League neste momento.

De acordo com o Independent, os jogadores sentem que estão sendo injustamente criticados pelas falhas táticas da equipe e que “problemas de longo prazo” culminaram nas dificuldades das últimas semanas, nas quais o United perdeu de Young Boys, West Ham, Aston Villa e Leicester, além do Liverpool, e precisou de um pênalti defendido por De Gea nos acréscimos e gols heroicos de Cristiano Ronaldo para conseguir suas únicas vitórias naquele período.

Eles são influenciados, segundo a matéria, pela experiência do Chelsea, que demitiu Frank Lampard no meio da temporada, foi campeão europeu com Tuchel e agora lidera a tabela do Campeonato Inglês. O Guardian também publicou que “diversas fontes do vestiário” disseram que a derrota para o Liverpool “cristalizou a falta de confiança de que Solskjaer é um treinador bom o suficiente para o Manchester United”.

Antes de domingo, o discurso que saia do clube era de apoio inequívoco ao trabalho de Solskjaer. Depois do jogo, em que parte da torcida abandonou Old Trafford ainda no intervalo, com o placar em 4 a 0 a favor do Liverpool, essa convicção fraquejou. Até comentaristas como Paul Scholes e Gary Neville, que vinham maneirando para não colocar em risco o trabalho do ex-colega, passaram fazer críticas mais contundentes.

Em meio a essa turbulência, os principais candidatos a sucedê-lo também acionaram seus contatos na imprensa. Antonio Conte não costuma assumir equipes no meio da temporada, mas estaria disposto a abrir uma exceção para o Manchester United. Estava disposto a conversar e queria entender a “visão” do clube antes de se comprometer, segundo o Guardian. Zinedine Zidane, o segundo mais cotado nas casas de aposta, não estaria interessado, de acordo com apuração da ESPN britânica.

A ESPN também afirma que há “diferentes níveis de entusiasmo” em relação a Conte na cúpula do Manchester United. O italiano, embora ainda no auge da sua carreira, tendo acabado de quebrar um jejum de dez anos sem scudetti da Internazionale, segue mais a linha de um José Mourinho que não está em decadência: resultados de curto prazo a todo custo, terra arrasada, ambiente tenso. Há preocupações de que isso seria um “recomeço cultural” após Solskjaer ter pacificado o clube traumatizado pelas experiências turbulentas com Mourinho e também Louis van Gaal.

Houve uma reunião na segunda-feira entre o principal executivo do clube Ed Woodward, que deve sair ao fim do ano, o diretor administrativo Richard Arnold, seu provável sucessor, e Joel Glazer, o membro da família que comanda o clube mais próximo do dia a dia do Manchester United. A decisão final seria dele, que mora na Flórida, onde sua família também puxa as cordinhas do Tampa Bay Buccaneers, atual campeão do futebol americano.

O fuso horário da Flórida acabou empurrando a decisão final para esta terça-feira. Segundo o Guardian, Woodward, Arnold e Sir Alex Ferguson mantiveram o apoio a Solskjaer. Glazer acatou os conselhos e decidiu que ele será mantido. Por enquanto. Outra humilhação contra o Tottenham testaria essa convicção. E mesmo que Solskjaer passe pelos Spurs sem grandes danos, terá jogos importantes contra a Atalanta, pela Champions League, e o dérbi contra o Manchester City antes da pausa internacional de novembro.

A deterioração tão rápida do projeto esportivo pegou muitos dentro do United de surpresa, segundo a ESPN, e o Manchester United decidiu esperar. Esperar para ver se Solskjaer consegue uma reação. Para avaliar as opções com mais calma. Montar um plano de sucessão mais sólido. Para tentar chegar pelo menos até a Data Fifa, quando o futebol de clubes é paralisado e há mais tempo para uma mudança desse tipo. E talvez para ver se aparecem outras opções.

Mauricio Pochettino sempre foi um dos principais candidatos ao cargo e está com dificuldades para transformar a seleção de estrelas do Paris Saint-Germain em um time coeso, apesar dos bons resultados no Campeonato Francês – nove vitórias, um empate, uma derrota. Mas não parece na iminência de ser demitido, e se Solskjaer não conseguir recuperar um nível aceitável de atuações imediatamente, o Manchester United não tem mais tempo a perder e talvez precise optar por uma solução menos perfeita, como Antonio Conte, para não desperdiçar toda uma temporada que começou cheia de expectativas.

Solskjaer terminou a temporada passada em alta, com o vice-campeonato inglês e a final da Liga Europa. Parecia que o Manchester United havia encontrado uma direção, e novos reforços como Raphael Varane, Jadon Sancho e Cristiano Ronaldo aumentaram o padrão de exigência tanto quanto apresentaram novos desafios táticos para ele resolver. A derrota para o Liverpool escancarou o quanto ele está perdido e, se não lhe custou o emprego imediatamente, o deixou na posição de precisar vencer o próximo jogo para salvar o emprego. E depois o próximo. E depois o próximo.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
Botão Voltar ao topo