Sem vencer há sete rodadas, igualando sua pior sequência na história, Ajax demite o técnico Alfred Schreuder
O Ajax empatou em casa com o Volendam, numa partida que teve 31 a 2 em finalizações; numa noite que já começou com protestos da torcida, Schreuder não resistiu à pressão

O Ajax atravessa sua pior sequência na história da Eredivisie. O time chegou a sete rodadas consecutivas sem um mísero triunfo, o que não acontecia desde os anos 1960. Apesar do excesso de empates nesta sequência, seis, não é isso que alivia o tombo desta quinta: dentro da Johan Cruyff Arena, os Ajacieden empataram por 1 a 1 com o antepenúltimo colocado da liga, o Volendam, em partida na qual executaram 31 finalizações contra só duas dos visitantes. E se logo nos primeiros minutos já surgiam protestos nas arquibancadas, com pedidos para que o técnico Alfred Schreuder pedisse demissão, ele não resistiria ao tropeço. Logo depois do jogo, a diretoria dos Godenzonen anunciou a saída do comandante com apenas sete meses no cargo.
O clima tenso em relação a Schreuder se explicitou logo cedo nesta quinta-feira. As manifestações não esperaram nem o resultado. Começaram nos primeiros minutos, com dezenas de faixas erguidas nas arquibancadas e panos brancos agitados. Eram várias mensagens diretas ao técnico, com o pedido para que deixasse o clube, além de termos bem menos lisonjeiros. E o Ajax não ajudou muito a mudar essas impressões quando a bola rolou.
Como prometido, a F-Side (torcida organizada/ultras do Ajax) protestaram contra Alfred Schreuder.
Uma frase básica: "Schreuder, rot op!". Em tradução livre, isso é o "ei, Schreuder, vai…", em holandês. #AJAVOL https://t.co/0ocsHZGp0B
— Espreme a Laranja (@espremealaranja) January 26, 2023
Poderia ter sido um massacre do Ajax. Os Godenzonen tiveram 83% de posse de bola, com 31 finalizações. No entanto, o Volendam trabalhou bastante na defesa, com 14 arremates bloqueados e seis defesas do goleiro Filip Stankovic. E como o que vale é bola na casinha, os nanicos aprontaram. Os visitantes abriram o placar em Amsterdã aos 14 minutos do segundo tempo, com uma cabeçada de Damon Mirani. Mohammed Kudus recuperou o prejuízo apenas aos 35, para forçar o empate, mas nada que aliviasse as críticas. A situação era insustentável.
A estagnação do Ajax se reflete na tabela. O time fecha a primeira rodada do segundo turno com 34 pontos, na modesta quinta colocação. O Feyenoord lidera com 41 pontos, enquanto o principal perseguidor é o AZ, com 39. PSV e Twente, ambos com 35, também tropeçaram nesse meio de semana. Com as sete rodadas sem vencer, o Ajax iguala uma sequência negativa experimentada antes apenas em 1962, 1964 e 1965. Na próxima rodada, o Excelsior é quem tentará complicar ainda mais a situação dos poderosos. Mas Schreuder não estará lá para tentar mudar a trajetória.
Schreuder assumiu o Ajax em julho de 2022, com um passado no clube, auxiliar de Erik ten Hag entre janeiro de 2018 e junho de 2019. Depois disso, teve uma passagem morna pelo Hoffenheim, foi auxiliar de Ronald Koeman no Barcelona e conquistou o Campeonato Belga com o Club Brugge. Porém, não deu certo no rabo de foguete que assumiu em Amsterdã, mesmo indicando uma continuidade em relação a Ten Hag. O elenco sofreu sensíveis perdas, sobretudo após as saídas de Sébastien Haller, Ryan Gravenberch, Noussair Mazraoui, André Onana, Lisandro Martínez e Antony. Estava claro como o seu trabalho de reconstrução seria delicado.
O Ajax não engrenou nessa temporada. O maior retrato veio na Champions, em que só ganhou do fraco Rangers, com derrotas acachapantes diante de Napoli e Liverpool. Os Godenzonen até começaram a Eredivisie com uma série positiva e algumas goleadas, mas não conseguiram se impor num duelo sequer com os principais concorrentes na tabela. Já a série de tropeços recente marcou a desgraça. Schreuder já vinha muito criticado, pelo discurso um tanto quanto alheio à realidade e atritos internos, como na saída de Daley Blind. Sem que o time correspondesse, sua cabeça ficou a prêmio, mesmo que a diretoria indicasse até paciência.
Diante da demissão, o chefe-executivo Edwin van der Sar declarou: “É uma decisão dolorosa, mas também necessária. Depois de um bom início de temporada, perdemos pontos desnecessariamente. Por causa da Copa do Mundo, houve uma parada de inverno antecipada e mais longa. Alfred teve tempo e manteve nossa confiança para mudar e melhorar as coisas. Nas semanas recentes, ficou paulatinamente claro que ele não poderia virar a maré, enquanto acreditamos que, apesar das muitas perdas que tivemos, contamos com um elenco forte que é digno de conquistar o campeonato. Também perdemos muitos pontos nas últimas semanas e infelizmente não vimos qualquer progresso”.
Já Dusan Tadic, em aspas traduzidas pelo ótimo Espreme a Laranja, foi bastante sincero: “Edwin [van der Sar] foi ao vestiário depois do jogo, e falou que o técnico estava demitido. Alfred veio mais tarde e disse ‘desejo o melhor a vocês. Busquem ser campeões'. Achei legal. […] Uma personalidade forte [espero do próximo técnico]. Mas o grupo é o mesmo, né? Estamos jogando mal pra caralho. Ajax em quinto, é impossível. A gente precisava ganhar muitos jogos, mesmo sem técnico. Perdemos gente de temperamento forte, estamos sem determinação”.
Fato é que o novo técnico, mesmo que melhore o desempenho, precisará de um pequeno milagre para garantir uma reviravolta em busca do título da Eredivisie. E num elenco também com problemas, num time claramente mais fraco que nas últimas temporadas com Erik ten Hag, há uma impressão inclusive de falta de foco. Não foi Schreuder, o antigo assistente, que manteve a linha de trabalho – e nem tinha mais clima para tal.