Holanda

Parada obrigatória: avaliação do primeiro turno da Eredivisie (II)

Enquanto isso, nas intertemporadas dos clubes holandeses… vários alarmes falsos. Falou-se (e se fala, até) de transferências aqui e ali, mas a única surpresa real foi a saída do técnico do Vitesse, Peter Bosz, rumo ao Maccabi Tel Aviv. Mas como a escolha foi unicamente do próprio Bosz (fazia bom trabalho no Vites, como se lerá), que aceitou oferta melhor do time da capital israelense, nem adianta elucubrar muito sobre ela: é virar a página e olhar tudo o que se tem feito neste janeiro.

LEIA MAIS: Parada obrigatória: avaliação do primeiro turno da Eredivisie – Parte 1

Numa semana em que vários clubes estão enfrentando dias chuvosos nos balneários escolhidos (principalmente os espanhóis: Benahavis recebe o Heracles; o Zwolle está em Mijas; o Vitesse treina em Orihuela, e por aí vai), o Feyenoord enfrentou algumas querelas em Portugal – Tonny Vilhena e Miquel Nelom até brigaram num treino. O Ajax tenta ganhar mais vontade num ambiente mais exigente, na Turquia (enfrentará o Hamburg, neste sábado). E o PSV fez muito feio, ao perder para o Hibernians, de Malta (2 a 1), em meio aos treinos na cidade maltesa de Paola. No meio de tudo, o Twente até surpreendeu, vencendo o amistoso contra o Racing Genk belga (3 a 2, em San Pedro del Pinatar, na Espanha).

Mas pouca coisa disso tudo enche a barriga. Com os times ainda recarregando as baterias, é melhor terminar logo a segunda parte da análise da primeira metade do Campeonato Holandês.

Zwolle

Posição: 9ª colocação, com 25 pontos

Técnico: Ron Jans

Time-base: Begois; Van Polen, Marcellis, Sainsbury e Van Hintum; Brama e Lam; Marinus (Becker), Nijland e Menig (Ryan Thomas); Veldwijk

Artilheiro: Lars Veldwijk (9 gols)

Destaque: Lars Veldwijk (atacante)

Objetivo do início: play-offs por vaga na Liga Europa

Avaliação: Os Zwollenaren chegaram a enfrentar alguma irregularidade. Mas com bom desempenho em casa e equipe habituada ao esquema tático, conseguem fazer mais uma boa campanha na Eredivisie

Em 2013/14, uma campanha apenas para se manter na divisão de elite, mas o título histórico da Copa da Holanda, com a goleada sobre o Ajax na final; em 2014/15, passagem rápida e marcante pela Liga Europa, o título da Supercopa da Holanda, novamente a final da copa nacional, mais o sexto lugar que rendeu a disputa dos play-offs para voltar à Liga Europa. Com algumas dívidas já batendo na porta, era de se esperar que o Zwolle perdesse um pouco o fôlego. O objetivo seria manter-se no meio da tabela, e o que viesse era lucro. Pois bem: o lucro está vindo com outra campanha mais do que honrosa. A equipe segue na disputa por um lugar nos play-offs por Liga Europa. O começo de temporada foi tão promissor (nas seis primeiras rodadas, quatro vitórias e dois empates) que se esperou até por mais surpresas vindas dos Zwollenaren.

Mas aos poucos, o time caiu de produção, e chegou até a ficar quatro rodadas sem vitórias, período de baixa que incluiu goleada sofrida para o Vitesse em casa (5 a 1). Mas os Dedos Azuis reagiram, e seguiram com uma campanha decente, graças principalmente a dois fatores. E eles são até interdependentes: a ótima campanha fora de casa – o Zwolle só tem menos pontos do que os três grandes que lideram o campeonato. E isso só é possível com um time sólido e entrosado, exatamente o que se vê no 4-2-3-1: defesa bem protegida, principalmente com as boas atuações de Bram van Polen, Trent Sainsbury e Thomas Lam, minorando a insegurança esporádica do goleiro Kevin Begois. Assim, é possibilitada a maior velocidade do meio-campo, pelas pontas, com Queensy Menig e Sheraldo Becker. O que aumenta a possibilidade de finalização, tanto deles, quanto do principal atacante, Lars Veldwijk, que preencheu muito bem a lacuna deixada por Tomas Necid no ataque. E assim, com um time seguro e ainda surpreendente, o Zwolle segue elogiável. Até quando, e em que condições, não se sabe. Mas a torcida não tem se queixado.

Groningen

Posição: 8ª colocação, com 26 pontos (abaixo pelo menor saldo de gols)

Técnico: Erwin van de Looi

Time-base: Padt; Hateboer, Kappelhof, Reijnen e Tamata; Tibbling e Maduro; Antonia, Rusnák (Jesper Drost) e Linssen; De Leeuw

Artilheiro: Mimoun Mahi (5 gols)

Destaque: Michael de Leeuw (atacante)

Objetivo do início: play-offs por vaga na Liga Europa/meio de tabela

Avaliação: O time do norte holandês tem talento para estar até melhor na tabela, e está na disputa por um lugar nos play-offs. Só precisa definir o modo como se apresenta em campo

Atual campeão da Copa da Holanda, o Groningen tem uma situação semelhante à do AZ: ainda está rendendo menos do que pode na temporada. Mas ao contrário dos decepcionantes Alkmaarders, os Groningers conseguem manter condições para reagirem no segundo turno. Para começo de conversa, o time tem um ótimo desempenho em casa: é o “líder do resto”, somente abaixo de Feyenoord, Ajax e PSV. E o “Orgulho do Norte” também mostra algo além: é um time mais entrosado. Há algumas temporadas, os jogadores são conhecidos na equipe básica: Sergio Padt, Hans Hateboer, Jesper Drost e Michael de Leeuw são alguns exemplos. E as contratações são precisas e bem planejadas, melhorando a qualidade do elenco – casos de Etienne Reijnen, que minora com sucesso o impacto da saída de Eric Botteghin, e Hedwiges Maduro, formando dupla de volantes cada vez melhor com o sueco Simon Tibbling.

Mas é exatamente o elenco tecnicamente bem sortido que traz o principal problema do Groningen: a instabilidade tática. Até agora, Erwin van de Looi não se decidiu entre o 4-2-3-1 (que protege mais a defesa) e o 4-3-3 (aproveitando mais a velocidade dos vários pontas que o time tem: tanto os titulares Jarchinio Antonia e Bryan Linssen, quanto os reservas Mimoun Mahi e Danny Hoesen). Essa excessiva variação no esquema faz com que o time ainda dependa demais dos brilhos individuais, vindos principalmente do promissor Albert Rusnák e do sempre confiável Michael de Leeuw. Se corrigir na intertemporada este problema – que talvez explique até o mau desempenho fora de casa (apenas o 14º) -, o Groningen tem tudo para ser mais regular e firmar-se na zona dos play-offs por vaga na Liga Europa.

Utrecht

Posição: 7º colocado, com 26 pontos

Técnico: Erik ten Hag

Time-base: Ruiter; Klaiber (Leeuwin), Van der Maarel, Letschert e Conboy (Kum); Ramselaar, Strieder, Barazite e Ayoub; Haller e Joosten

Artilheiro: Sébastien Haller (11 gols)

Destaque: Sébastien Haller (atacante)

Objetivo do início: play-offs por vaga na Liga Europa

Avaliação: Após viverem muito tempo dependentes dos gols de Haller, os Utregs cresceram de produção na parte final do turno, com a ascensão de outros jogadores. Resta ver se o grande destaque fica

Durante boa parte do primeiro turno do Campeonato Holandês, o Utrecht viveu uma situação semelhante à de Twente e Cambuur: dependência excessiva de um jogador. Contratado em definitivo junto ao Auxerre, do qual já estava emprestado, o atacante francês Sébastien Haller justificou cada centavo dos 2 milhões de euros que os Utregs pagaram para tê-lo. Fez 11 gols até agora – e não raro, marcou até mais de uma vez para garantir vitórias, como fez nos 2 a 1 de virada sobre o Zwolle, fora de casa, na 10ª rodada. Porém, a equipe não engrenava coletivamente. E para cada bom resultado (por exemplo, o 2 a 1 sobre o Vitesse, na 5ª rodada), sempre havia um tropeço indesejável. Prova disso se viu na sequência entre a 7ª e a 9ª rodadas: empates contra Cambuur e Roda JC, e derrota para o Excelsior. Todas equipes que tentam escapar das últimas posições. Não havia Haller que desse jeito. Era preciso que mais jogadores subissem de produção, para cumprir as razoáveis expectativas sobre o time de Erik ten Hag (técnico promissor).

E aconteceu: no final do primeiro turno, Yassin Ayoub e Nacer Barazite se entrosaram mais no 4-4-2 e começaram a trazer mais velocidade e opções de finalização ao ataque. Com a defesa se virando bem, sem grandes dores de cabeça, não demorou para os resultados virem, com destaque para as vitórias sobre Heracles Almelo (4 a 2, na 14ª rodada) e Ajax (1 a 0, na 16ª). E o Utrecht começou a decolar na temporada. Resta ver se a decolagem não será abatida pelo interesse sobre Haller, nesta janela de inverno: só da Inglaterra, Sunderland e Southampton declararam interesse no francês. Ficando, o atacante pode até sonhar com um lugar no elenco dos Bleus na Euro 2016: já atua na seleção francesa sub-21 (até marcou contra a seleção olímpica brasileira, em amistoso). E o Utrecht pode sonhar em falar grosso na disputa por um lugar nos play-offs por Liga Europa – desde que Ayoub e Barazite continuem ajudando a grande estrela, claro.

NEC

Posição: 6ª colocação, com 27 pontos

Técnico: Ernest Faber

Time-base: Halldórsson (Van Duin); Kane, Van Eijden, Golla e Woudenberg; Ritzmaier, Bikel e Breinburg; Limbombe, Santos e Foor

Artilheiro: Christian Santos (11 gols)

Destaque: Christian Santos (atacante)

Objetivo do início: escapar do rebaixamento/vaga nos play-offs por Liga Europa

Avaliação: Demorou, mas o campeão da segunda divisão engrenou. A partir da metade do primeiro turno, os Nijmegenaren usaram da força ofensiva e da defesa entrosada para fazer uma campanha decente, e até boa

O tamanho da superioridade que o NEC teve na campanha que lhe rendeu o título da temporada passada da segunda divisão trazia alguma curiosidade sobre a capacidade da equipe de Nijmegen na volta à Eredivisie após o ano de hiato. Afinal de contas, por mais que o nível técnico dos adversários na Eerste Divisie seja previsivelmente abaixo da crítica, nunca uma equipe fizera mais de 100 pontos (precisamente 101) na história do futebol holandês. Uma façanha realmente digna de nota. E o fato de não ter perdido muita gente na janela de transferências do verão europeu fazia pensar se o NEC teria capacidade para fazer bonito também na Eredivisie. Enfim, isso está acontecendo. Mas demorou um pouco além do esperado: os Nijmegenaren passaram o início do campeonato patinando entre empates e algumas derrotas.

Por volta da sétima rodada, as coisas começaram a se assentar. Após um período de adaptação, a defesa começou a ter os frutos do entrosamento: o torcedor do NEC já se acostumou à linha com Todd Kane, Rens van Eijden, Wojciech Golla e Lucas Woudenberg (e com o goleiro Hannes Thór Halldórsson, até este se lesionar – para o returno, chegou o australiano Brad Jones, ex-Liverpool). No meio, o português Janio Bikel mostrou muita disposição, marcando com força e acelerando os contra-ataques. Nada melhor para um bom trio ofensivo, com o belga Anthony Limbombe oferecendo velocidade pela direita – e, principalmente, com o faro de gol mostrado pelo venezuelano Christian Santos, entre os melhores atacantes da temporada. A vitória sobre o Feyenoord, na rodada final do turno (3 a 1), premiou a ascensão do NEC. Que pode muito bem cumprir o objetivo dos play-offs.

Vitesse

Posição: 5ª colocação, com 28 pontos

Técnico: Peter Bosz (até a 17ª rodada)

Time-base: Room; Diks, Van der Werff, Kruiswijk e Leerdam; Baker (Yeini), Qazaishvili e Nakamba; Rashica (Ibarra), Solanke e Oliynyk

Artilheiros: Milot Rashica e Valeri Qazaishvili (6 gols)

Destaque: Valeri Qazaishvili (meio-campo/atacante)

Objetivo do início: play-offs por vaga na Liga Europa/vaga direta na Liga Europa

Avaliação: O Vites mostrou um estilo de jogo agradável, e estava bem credenciado até a superar o Heracles Almelo. Mas a saída repentina do técnico Peter Bosz trouxe incógnita ao que será do time no returno

2015 foi um ano que mostrou como está defasado o 4-3-3 à holandesa, com dois pontas, troca de passes etc. Mas a coluna já comentou sobre isso, na retrospectiva do ano. Agora, é mais útil mostrar um exemplo de como o 4-3-3 ainda pode ser útil ao futebol holandês. E o Vitesse é este exemplo. Não só pela boa campanha, que comprova a reação dos Arnhemmers, mas também pelo estilo de jogo. Junto da consciência tática do PSV e da volúpia dos contragolpes do Feyenoord, o Vites é um dos times mais agradáveis de se ver na Eredivisie, pela ofensividade veloz. A defesa se cuida bem, e a dupla de meio-campistas (Lewis Baker, emprestado pelo Chelsea, e o zimbabuano Marvelous Nakamba) cuida da marcação. O que permite ao georgiano Valeri Qazaishvili brilhar como ponta de lança. Organizador de todas as jogadas dos aurinegros, “Vako” destaca-se tanto no Vitesse que impede qualquer sequência mais longa do brasileiro Nathan, mais um vindo de Stamford Bridge.

Além de armar os ataques, Qazaishvili se faz notar chegando bem ao ataque, ajudando o albanês Milot Rashica (boa surpresa, veloz pela direita e bom finalizador) e o inglês Dominic Solanke (atacante promissor) a fazer os gols. Com a velocidade e a vocação ofensiva, o Vitesse não só conseguiu golear vez por outra – chegou a fazer consecutivamente 5 a 0 no Groningen, na 8ª rodada, e 5 a 1 no Zwolle, na 9ª -, mas também vendeu caro as derrotas para Ajax e PSV. Porém, todo esse otimismo ganhou ares sombrios justamente na intertemporada: na terça passada, o técnico Peter Bosz aceitou oferta do Maccabi Tel Aviv e deixou o clube. Resta ao interino Rob Maas tentar minorar o impacto que isso possa ter na qualidade de jogo do time. Se conseguir, e se os destaques não se abaterem, o Vitesse continuará provando que tem cacife para se fixar como um clube capaz de fazer boas campanhas com certa frequência.

Heracles Almelo

Posição: 4ª colocação, com 30 pontos

Técnico: John Stegeman

Time-base: Castro; Droste, Te Wierik, Zomer (Vujicevic) e Fledderus; Bruns, Pelupessy e Bel Hassani; Tannane, Weghorst e Darri (Gosens)

Artilheiro: Oussama Tannane (7 gols)

Destaque: Oussama Tannane (atacante)

Objetivo do início: escapar do rebaixamento

Avaliação: A grande e mais agradável surpresa do Campeonato Holandês mostrou muita ofensividade. Sofreu uma ligeira queda nas últimas rodadas, e pode perder destaques. Mas, por enquanto, está num gigantesco lucro

Pouco se esperava do Heracles, após o sofrimento para livrar-se da repescagem e do perigo de rebaixamento na temporada passada. Ainda mais ao lembrar que Bryan Linssen, destaque dos Heraclieden nos campeonatos recentes, deixara Almelo rumo ao Groningen. Só mesmo o decorrer da temporada mostraria o que John Stegeman poderia fazer trabalhando por toda a temporada com o elenco, após consertar tudo em 2014/15. Nem foi necessário esperar muito: num 4-3-3 básico, o Heracles se valeu da habilidade de seus jogadores, principalmente na parte ofensiva, para se converter na maior surpresa da atual temporada. De nada adiantaria, é verdade, sem maior firmeza na defesa: o goleiro Bram Castro e o miolo de zaga mostram mais segurança. E as laterais ficam mais protegidas, com Wout Droste e Mark-Jan Fledderus (este, meio-campista recuado).

Todos esses cuidados defensivos permitiram o desenvolvimento de um meio-campo francamente ofensivo. Não contentes em armar bem as jogadas, Thomas Bruns e Iliass Bel Hassani ainda sobem frequentemente à área para finalizarem. O que só ajuda um ataque que conta com um Oussama Tannane absolutamente insinuante, com dribles ofensivos e bom chute a gol, características que fizeram do marroquino o principal destaque dos Almelöers dentro de campo. Tanto que Tannane até eclipsou Wout Weghorst: enfim efetivado como titular após a saída de Linssen, o gigante atacante (1,97m) mostrou poder de finalização suficiente para convencer. Tudo isso rendeu resultados como vitórias sobre PSV (2 a 1, 6ª rodada) e até uma goleada (6 a 1 no Cambuur, 3ª rodada). Houve queda inegável nas últimas rodadas do turno: o time perdeu para o Feyenoord, empatou com o Vitesse, e desgarrou-se da disputa do título. Além disso, a janela de transferências traz o perigo das perdas: Tannane está perto do Málaga (mas a Atalanta ainda insiste), e Weghorst só não foi para o Cardiff City porque não quis (os clubes estavam acertados). Seja como for, para um time que temia novamente a parte de baixo da tabela, o Heracles está no lucro. E muito.

Feyenoord

Posição: 3ª colocação, com 36 pontos

Técnico: Giovanni van Bronckhorst

Time-base: Vermeer; Karsdorp, Van Beek, Van der Heijden (Botteghin) e Kongolo; El Ahmadi, Vejinovic e Vilhena (Gustafson); Kuyt, Kramer e Elia

Artilheiro: Dirk Kuyt (13 gols)

Destaque: Dirk Kuyt (atacante)

Objetivo do início: vaga na Liga dos Campeões/ título

Avaliação: O Feyenoord fez um ótimo turno, com uma equipe tecnicamente confiável. Mas ainda tropeça além da conta. Falta um “algo mais” para conquistar o sonhado título

O final da temporada passada foi dramático para o Feyenoord. Um terceiro lugar aparentemente tranquilo transformou-se numa queda vexaminosa para o AZ, que o ultrapassou na última rodada – e, depois, numa eliminação também vexatória nos play-offs por vaga na Liga Europa. Era preciso reanimar o time, e a torcida também. Pelo menos, a injeção de ânimo já estava prevista, com a vinda já confirmada de Dirk Kuyt, para ser a referência de uma equipe ainda jovem em busca do título que não vem há 17 anos. Mais algumas contratações (Jan-Arie van der Heijden, Eric Botteghin, Marko Vejinovic, Simon Gustafson, Michiel Kramer, Eljero Elia), e formou-se um bom elenco, para os padrões do futebol holandês. E esse elenco foi responsável por uma ótima campanha do Feyenoord. Kuyt voltou a marcar gols, como há muito tempo não fazia, além de cumprir perfeitamente o seu papel: ser o homem de confiança do time e da torcida. Junto de Kramer e Elia, formou um dos melhores trios de ataque da Eredivisie.

Com a precisão de Marko Vejinovic nos passes e a velocidade de Gustafson para puxar contra-ataques, o Stadionclub conseguiu até algumas goleadas. Em De Kuip, a torcida ajudou a formar um ambiente fervilhante, e a equipe se encarregou de justificar o apoio maciço: melhor campanha da Eredivisie em casa, com apenas dois pontos perdidos em 24. Porém, repetiu um erro de temporadas anteriores: além de fraquejar contra os outros dois grandes (perdeu para o PSV e empatou com o Ajax), começou a tropeçar contra equipes menores (primeiro, perdeu para o ADO Den Haag; nas últimas duas rodadas do turno, empatou com o Groningen e perdeu para o NEC). Mais do que para aprimoramento, a intertemporada deve servir para aprontar-se psicologicamente rumo à arrancada final. Os Feyenoorders têm capacidade técnica, mas ainda parece faltar o “algo a mais” que faz parte de um time fadado a ser campeão. E a torcida nunca esperou uma Eredivisie (e confiou tanto que ela pode vir) como agora. Convém não decepcionar Het Legioen.

PSV

Posição: 2º colocação, com 38 pontos

Técnico: Phillip Cocu

Time-base: Zoet; Arias, Bruma, Moreno (Isimat-Mirin) e Brenet; Pröpper, Hendrix e Guardado; Pereiro, Luuk de Jong e Locadia

Artilheiro: Luuk de Jong (14 gols)

Destaque: Luuk de Jong (atacante)

Objetivo do início: título

Avaliação: O atual campeão holandês teve certa irregularidade em algumas partidas. Entretanto, terminou 2015 em ascensão, indicando que está firme para tentar o bi

Tendo perdido Memphis Depay e Georginio Wijnaldum, os dois grandes protagonistas do título de 2014/15, era de se esperar uma ligeira queda do PSV. Ela até veio, mas foi menor do que se esperava. Por dois fatores: primeiramente, a atuação do clube na janela de transferências foi precisa. Todos os reforços contratados exercem hoje importância capital na equipe. Como Héctor Moreno, que criou outra boa parceria no miolo de zaga com Jeffrey Bruma. Ou Davy Pröpper, tão seguro quanto Andrés Guardado no meio-campo – e mais ofensivo do que o mexicano. Ou até Maxime Lestienne, que começou muito bem a temporada, parecendo estar há tempos no time-base dos Eindhovenaren, e só viu a boa fase ser interrompida pelas mortes seguidas de seus pais, que o forçaram a pedir licença do clube. Aí foi a vez de Gastón Pereiro brilhar. Se já fora o destaque na vitória por 3 a 1 sobre o Ajax em plena Amsterdam Arena, quando ainda se adaptava, o uruguaio cresceu muito nas rodadas finais do primeiro turno, garantindo-se cada vez mais como titular – e ajudando bastante Luuk de Jong.

Luuk, por sua vez, pode ser considerado o melhor jogador desta primeira metade da Eredivisie. Não só pelos gols, mas pela firmeza e por assumir a responsabilidade como capitão dos Boeren, numa ascensão que, de certo modo, “ressuscitou” sua carreira. Claro, houve alguns tropeços indesejados. Jorrit Hendrix revelou-se volante promissor, mas ainda peca pela inexperiência na proteção à zaga. Algumas vezes, por avançarem demais, Santiago Arias e Joshua Brenet deixam a defesa desprotegida – principalmente Brenet, que até quebra bem o galho enquanto Jetro Willems não se recupera, mas não é do setor. Resultado: alguns tropeços pouco auspiciosos, como a derrota para o Heracles Almelo e os empates com Excelsior (este, sofrido no último lance do jogo), Willem II e Roda JC. Impactos plenamente amenizados com a permanência nas três competições disputadas – incluindo a classificação merecida às oitavas de final da Liga dos Campeões, um bônus pouco esperado. Além do mais, agora o time mostra mais entrosamento ainda, e terminou a primeira metade da temporada indicando ascensão. Se isso se cumprir no returno, o bicampeonato holandês é uma aposta bem possível.

Ajax

Posição: 1ª colocação, com 41 pontos

Técnico: Frank de Boer

Time-base: Cillessen; Tete, Veltman, Riedewald e Dijks; Bazoer, Klaassen e Gudelj; Fischer, Milik e El Ghazi

Artilheiros: Anwar El Ghazi e Arkadiusz “Arek” Milik (8 gols)

Destaque: Davy Klaassen (meio-campista)

Objetivo do início: título

Avaliação: O líder do campeonato tem o mérito de dificilmente tropeçar contra médios e pequenos. Mas é só. O Ajax precisa melhorar – e muito – na Eredivisie

Líder. Um começo avassalador na temporada: quatro vitórias nos quatro primeiros jogos, sem gols sofridos, quase igualando um recorde visto nos tempos de Louis van Gaal. De longe, a melhor defesa do campeonato: apenas onze gols contrários. Melhor campanha em casa, segunda melhor fora. Mas o torcedor do Ajax – e a própria imprensa – olha esse desempenho aparentemente inquestionável e pergunta: “E daí?”. E tem toda a razão em fazê-lo, porque o time Ajacied nem de longe exibiu a confiança vista em tempos idos. Basta notar o desempenho pavoroso nas competições continentais, com a eliminação para o Rapid Viena ainda na terceira fase preliminar da Liga dos Campeões, e a queda da Liga Europa ainda na fase de grupos. Tudo isso, com um time taticamente repetitivo no aspecto técnico e tático: troca de passes, manutenção da posse de bola, 4-3-3, um ponta de lança auxiliando o trio de ataque… pode dar certo na Eredivisie (e dá), mas nas competições europeias passa muito longe do necessário. Sem contar que o time ganhou de pequenos e médios, mas perdeu do PSV e empatou com o Feyenoord.

Houve coisas boas? Sim, claro. Na defesa, Kenny Tete e Jaïro Riedewald não se acanharam com a titularidade definitiva: mostraram atuações aceitáveis o suficiente para também ganharem chances na seleção holandesa. No meio-campo, Davy Klaassen mais e mais se firma como uma aposta para o futuro no futebol holandês – bem como Riechedly Bazoer, volante tão firme quanto Thulani Serero e mais técnico do que o sul-africano. No ataque, se Anwar El Ghazi começou fulgurante mas terminou perturbado por uma lesão, Viktor Fischer vai retomando rapidamente a ótima forma, e Arek Milik cresceu no final do turno. Ainda assim, todos esses bons desempenhos individuais não aceleram o marasmo coletivo que o Ajax vive. Frank de Boer reconheceu isso, falando ao site oficial no final do ano: “Lideramos o campeonato, é o mais importante. Mas a certeza só virá no fim da caminhada”. Sem competições continentais nem a Copa da Holanda (caiu logo para o arquirrival Feyenoord…), o Ajax tem a obrigação de mostrar mais entrega em campo no returno da Eredivisie. Senão, corre sério risco de ver PSV e Feyenoord lhe passarem. E trará a sensação de fim de ciclo, se é que ela já não está aí.

Botão Voltar ao topo