Num piscar de olhos, já se foram oito anos sem um dos gênios eternos do futebol
Em março de 2016 o futebol se despedia do craque holandês, um dos maiores e mais revolucionários da história
Há oito anos o futebol se despedia de um dos maiores gênios de sua história. Hendrik (sem comparações, por favor) Johan Cruyff morreu em 24 de março de 2016, aos 68 anos, em Barcelona, Espanha. Fumante compulsivo desde jovem, ele não resistiu a um câncer de pulmão.
Cruyff foi um dos maiores jogadores da história do futebol, seguramente um dos três maiores craques europeus e um dos cinco do mundo. Uma pesquisa em vídeos disponíveis na Internet levará ao êxtase qualquer jovem amante do futebol que despreze o futebol do passado. Cruyff fazia nos anos 1970 tudo que os principais atacantes do futebol atual fazem. Talvez até com mais técnica e genialidade.
Tive a oportunidade de fazer uma breve entrevista com Cruyff em 1992, durante a Olimpíada de Barcelona. Então treinador do clube catalão, o holandês foi conhecer a Vila Olímpica de Poble Nou, acompanhado de Ronald Koeman, capitão da equipe. O Barcelona enfrentaria o São Paulo na final da Copa Intercontinental daquele ano, e minha pauta era arrancar de Cruyff alguma declaração sobre o time de Telê Santana.
Cruyff foi seco e no limite da grosseria. Grunhiu algumas palavras na intenção de dizer que era cedo para falar de um jogo que estava distante. Koeman foi mais diplomático e deu respostas protocolares, educadamente.
O fato curioso daquele momento foi que no mesmo dia estava chegando à Vila Olímpica a delegação de futebol do Catar. O treinador era o brasileiro Evaristo Macedo, cuja presença chamou muito mais a atenção da imprensa local que a de Cruyff. Outra dica de pesquisa: Evaristo foi ídolo de Real Madrid e Barcelona e fez gol na inauguração do Camp Nou.
Cruyff: mais que um craque, um pensador do futebol
Mais do que um tremendo craque, Cruyff foi um pensador do futebol. Ele bebeu de duas fontes: do inglês Jack Reynolds, que trabalhou no Ajax nos anos 1920 e 1940, e influenciou profundamente o pensamento futebolístico de Rinus Michels, com quem Cruyff trabalhou no Ajax e na seleção holandesa de 1974. Reynolds é considerado o precursor da ideia do futebol total, tão cara a Cruyff.
Além das arrancadas, desacelerações e mudanças de direção espetaculares, Cruyff foi um jogador profundamente tático. Foi com ele e outros profissionais holandeses que migraram para o Barcelona no início da década de 1970 que o clube azul e grená encampou um projeto de futebol que persiste até hoje, da base ao time principal.
Reúno aqui algumas frases saborosas que exemplificam um pouco do modo de ver o futebol do saudoso e genial Johan Cruyff. Elas ajudarão a compreender as ideias de jogo de alguns dos principais treinadores da atualidade e a identificar de onde vieram.
- “Jogar futebol é muito simples, mas jogar o futebol de forma simples é a coisa mais difícil que existe”.
- “Eu treinei de três a quatro horas por dia no Ajax quando era pequeno, mas jogava de três a quatro horas por dia nas ruas todo dia. Onde você acha que aprendi a jogar futebol?”.
- “Bom futebol sem resultados é inútil. Resultados sem bom futebol são chatos”.
- “Técnica não é ser capaz de fazer mil embaixadinhas. Qualquer um pode fazer isso se treinar. Técnica é passar a bola com um toque, na velocidade certa, no pé certo do seu companheiro de time”.
- “O futebol é um jogo de erros. Quem errar menos, vence”.
- “Se você tem a bola, você torna o campo o maior possível. Se você não tem a bola, você o faz o menor possível”.
- “O que é velocidade? As pessoas confundem velocidade com percepção. Se eu começo a correr um pouco antes que o defensor, eu pareço mais rápido”.
- “Você tem que fazer com que o pior jogador do seu adversário fique o maior tempo possível com a bola. Você vai recuperá-la na imediatamente”.
- “Defender? Se nós temos a bola, eles não podem fazer o gol”.
- “No meu time, o goleiro é o primeiro atacante e o atacante é o primeiro defensor”.
- “Toda desvantagem tem sua vantagem”.